quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O país e a sua realidade - II

Vamos construir um estereótipo: o português-tipo é do Benfica e gosta de estar informado sobre desporto, vê a TVI e tem um interesse particular pela Casa dos Segredos, tem a série de televisão Game of Thrones no topo da sua lista de preferências, veste Zara, faz compras na Worten e quer um iPhone e um Mercedes, ouve a música do momento, está no Facebook, lê A Pipoca Mais Doce, gosta de blockbusters, tem um fraquinho por bolos de chocolate e de iogurte, está a ponderar uma visita a Angola e quer saber mais sobre Érica Fontes."

Hugo Torres, in Público

O país e a sua realidade - I

Vemos a cada dia que passa que os portugueses não sabem nada, ou praticamente nada, sobre o seu país. A ignorância histórica atinge as raias da obscenidade. Quando muito refastelamo-nos nuns ecos idiotas do tempo dos Descobrimentos, mal sabendo do que estamos a falar. Da Geografia, seja física, seja humana, ainda menos. Não conhecemos bem o território que habitamos, nem a relação da nossa vida com ele. Temos uma frequência sumariamente turística e petisqueira com alguns lugares mais promovidos.
Da cultura portuguesa e no que toca às artes, fora este ou aquele monumento mais visitados ao domingo durante a volta dos tristes, somos de uma fúnebre obtusidade. Da língua, estamos falados. Não me refiro apenas ao desconhecimento da sua história. Sucessivas gerações ligadas ao ensino têm dado cabo dela e contribuído para o seu abastardamento. Práticas diárias na comunicação social coadjuvam essa torpeza. É estropiada por toda a gente em todas as áreas do quotidiano e do saber. Da Literatura, depois de décadas em que o ensino andou divorciado dela ou se dedicou a exercícios metodológicos que corresponderam ao seu assassínio progressivo, vivemos numa ignorância deprimente. Basta ler os jovens escritores que se candidatam a concursos literários (e tenho feito essa experiência por pertencer a vários júris). Eu apostaria, dobrado contra singelo, que, salvo muito raras, mas mesmo muito raras excepções, não têm qualquer experiência, por muito elementar que seja, da grande tradição literária da nossa língua e do património que a integra. Dá-me ideia de que é gente que leu algum autor dos últimos vinte anos, e pouco mais. Não aprenderam absolutamente nada com mais ninguém. Para trás do mínimo que leram, é como se a literatura portuguesa não existisse nem tivesse um cânone, não fosse lida por inútil ou desnecessária, e se encontrasse relegada para o baú das inutilidades no sótão das insignificâncias pátrias.
Esta situação não me pesa apenas a mim como escritor. Os confrades da minha geração e, vamos lá!, pelo menos os da seguinte, têm perfeita consciência daquilo que estou a dizer e estou convencido de que fazem o que podem para ajudar a superar este lúgubre estado de coisas. O assacar de responsabilidades não adianta muito neste momento. Já sabemos dos programas de ensino, da má qualida- de de muitas docências, do alheamento imperdoável de muitas instituições públicas e privadas, de muitas famílias, de muitos encarregados de educação.
O que é preciso é fazer alguma coisa que fique do lado de fora das estatísticas e das apreciações formais da competências. O que é preciso é a promoção a sério de uma série de disciplinas e de conteúdos identitários, sem exacerbamentos nacionalistas nem patriotinheirismos ridículos e fora de prazo. E também é preciso pôr estes valores, no seu vasto e múltiplo conjunto e nas suas interligações ao alcance do maior número possível de cidadãos, independentemente do trajecto que tenham feito ou façam nos níveis do ensino secundário e do ensino superior.
De resto, não deveria esquecer-se uma relação, diacrónica e sincrónica, com a Europa. Sem algumas noções elementares a este respeito, nada compreenderemos de nós mesmos, da nossa identidade e dos nossos problemas. Essa falta também se faz sentir, tanto ou mais do que as apontadas no tocante à História, à Geografia, às artes, à língua e à Literatura.
É por isso que deveria haver, um pouco por toda a parte, programas que abrissem pistas de compreensão para todas estas realidades e outras mais, levados a cabo pelo maior número possível de instituições. Esses programas deveriam também suscitar uma componente de prazer, de alegria do conhecimento, de abordagem sem complexos da identidade e da história nacional. Deveriam ajudar os cidadãos a compreender-se sem ventriloquias nem gargarejos enfáticos e suscitar neles a vontade de ir mais longe na aprendizagem de si mesmos.
As pessoas estão fartas de se sentir niveladas pelo mais baixo. Querem conteúdos acessíveis, sem empertigamentos académicos, e que permitam a organização de transversalidades entre as áreas do saber. Este é um fenómeno de todas as idades e de todas as condições sociais. Indo beber a imagem ao Alexandre O"Neill, ninguém quer viver Portugal como um remorso.".

domingo, 24 de novembro de 2013

Leitura obrigatória


Foi um livro escrito numa lógica de prevenção sobre o que poderia vir do mundo vivido desde 1917 até 1939.
Deixou de ser uma prevenção e passou para o campo da ficção.
Infelizmente os tempos preventivos voltaram.
Urge a necessidade de se ler Orwell.

domingo, 6 de outubro de 2013

Álvaro Cunhal - Fotobiografia

Hoje comprei a fotobiografia de Álvaro Cunhal, editada pelas Edições Avante, num dos muitos actos que simbolizam o centenário do nascimento do histórico comunista.
Contendo fotografias com grande qualidade de um sempre fotogénico Cunhal - Cunhal sabia melhor do que ninguém como utilizar a sua imagem para seduzir as pessoas -, o livro é um belo documento de propaganda comunista. Com edição de Julho e dado o fantástico resultado eleitoral autárquico da CDU nas eleições de Setembro, será que o responsável foi Cunhal?!
De uma maneira ou outra, terá sido.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

E agora?!

Tal qual Nero: decapitou a social-democracia, incendiou o país e implodiu o partido. O que falta agora?!

sábado, 14 de setembro de 2013

Discurso proferido na entrega dos Prémios de Mérito Escolar 2012/13, do Rotary Club de Oliveira de Azeméis

Ao pedirem-me para, em nome do Rotary Club de Oliveira de Azeméis, fazer um elogio público aos jovens que mais se distinguiram nos vários degraus da “academia oliveirense” dei por mim a pensar em como era a vida escolar na minha época.

Recuei uma década e meia, até ao ano em que frequentei o décimo segundo ano e ingressei no ensino superior. Contudo, apesar de só se terem passado 14 ou 15 anos, encontrei diferenças enormes.
A convivência com os colegas era de conversa diária, nas aulas, no recreio, na partilha de CD´s e livros, de idas à Portagem e ao 4º Bairro. Ainda não existiam SMS e namorar tinha que ser com o telefone fixo, de casa, onde normalmente atendia sempre alguém que não era quem se desejava e era necessário fazer uma apresentação e conversa digna desse nome.

Internet era um mundo à parte, de que se falava mas que ainda era pouco explorado: o Google tinha acabado de ser fundado – o Sapo fez 18 anos há dias –, falava-se que ia ser um canal de informação mas, na época, era apenas uma utopia.

As TIC existiam… Não existiam computadores – nas escolas e na maioria das casas – que suportassem os processadores de texto. Apresentações em Powerpoint eram uma miragem, sendo que o Word e Paint faziam as delícias dos mais habilidosos. Tudo o resto era feito à mão, com recortes e fotocopias. 
Em apenas 15 anos vivíamos uma realidade diferente. Não estou a dizer que fosse melhor ou pior, apenas diferente; prova que o mundo está em constante evolução e que a cristalização de momentos, para além da “saudade”, impede o crescimento enquanto cidadãos.

Essa evolução é fundamental para os jovens que temos aqui hoje: os mais bem preparados e eficazes para enfrentar a sociedade e o mercado de trabalho.

Uma das grandes diferenças entre a sociedade que descrevi e a de hoje é a informação. A minha pré-adolescência e a de todos quanto me antecederam não foi preenchida de SMS, blogues, Youtube, Google, Hi 5, Facebook, Twitter, Instagraam, etc.. Ou seja, a grande diferença está na informação e nos conteúdos nela produzidos, na facilidade de acesso à cultura e ao conhecimento.
Se quiséssemos conhecer o mundo que nos rodeia, se quiséssemos fazer um simples trabalho de investigação para alguma disciplina, teríamos que ler imensos livros, jornais, estar atento à televisão e à hora em que passavam os programas. Os mais “preguiçosos” sempre poderiam recorrer à enciclopédia mas a informação nela contida é escassa, tratando os temas superficialmente, não permitindo um real aprofundamento dos casos.

O acesso a fotografias e imagens das maravilhas do mundo era algo complicado. Dou o exemplo de uma das mais belas aldeias de Portugal, o Piódão, escondido entre a Serra do Açor e a Serra da Estrela, só se tornou conhecido após o Rali de Portugal passar lá e saírem imagens lindíssimas para todo o mundo, através da RTP e dos média internacionais; foi aí que os portugueses conheceram a sua terra. Conhecer as maravilhas escondidas no estrangeiro era tarefa quase impossível, a menos que se tivesse muito dinheiro para investir em viagens.

Hoje em dia, graças à internet, todos esses problemas estão dissipados: a partir de casa, de um quiosque, de um tablet ou um smartphone, podemos aceder a todas as novidades, in loco, à escala global.

Hoje, todos, desde os mais jovens aos mais adultos, todas as pessoas têm a possibilidade – e obrigação? – de se manterem informados e, com isso, melhorar o seu nível cultural. No fundo, a grande meta para se atingir uma sociedade mais justa, coesa e solidária: se todas as pessoas comunicarem, falarem entre si e se todos se entenderem, se se atingirem consensos, conseguimos encontrar um caminho para a compreensão e paz mundial, um dos desígnios de Rotary.

Há dias, na Universidade de Verão do PSD, António Barreto referia que um dos problemas de Portugal, do ensino e da sua afirmação era o excesso de formação versus o conhecimento geral, a cultura, a aprendizagem pelo conhecimento. Segundo o Professor, em Portugal estuda-se para se obter uma profissão e não para se ser mais culto e, a partir daí, conseguir trabalhar naquilo que realmente se gosta.
Fará sentido um aluno chegar ao 12 ano e perspectivar estudar para uma licenciatura em Relações Internacionais, tendo perspectiva em ir trabalhar para a Comissão Europeia ou Terapia Ocupacional para ir trabalhar para o Centro de Dia da sua terra, por exemplo?! E se não gostar do curso ou não houver saídas profissionais, o que faz? Não seria melhor tirar um curso geral, técnico ou não, de Direito, Humanidades, Filosofia, Ciências, Economia, Belas Artes, Engenharia ou Medicina e, após isso, escolher em que área pretende trabalhar? Não ficaria com horizontes mais amplos e, consequentemente, com mais saídas profissionais?

A cultura assume, assim, um papel fundamental e praticamente único entre a diferenciação entre os bons e os maus profissionais já que, nos dias que correm, quase todos têm acesso a formação superior.

Vocês, os melhores alunos das escolas de Oliveira de Azeméis, provaram ao longo destes anos que estão prontos, que têm mérito, que podem enfrentar todos os desafios e terão, com toda a certeza, oportunidades únicas pela vossa vida fora – parabéns a vocês, aos vossos pais e tutores e aos professores. Agora é altura de aproveitarem tais oportunidades.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Este não é o PSD com que sonhei


Para os que pensam que isto é obra maléfica de outro partido, aqui fica a prova.
"Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus".

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Blowin' in the wind

"Yes, how many years can some people exist before they're allowed to be free?
Yes, how many times can a man turn his head, pretending that he just doesn't see?
The answer my friend is blowin' in the wind, the answer is blowin' in the wind."

A guerra das condolências

"O país já tinha chegado a pontos muito baixos. Mas ontem a 'guerra das condolências' foi algo que ultrapassou o imaginável. A história, com o devido respeito a todos os que perderam a vida, independentemente do modo como a viam e da forma como procederam, conta-se assim:
  1. Perante a morte de um amigo e colega, António Borges, o Presidente da República manda publicar na página oficial da Presidência uma nota de condolências;
  2. Os bombeiros profissionais e outros cidadãos manifestaram a indignação pelo facto de o Presidente não ter apresentado semelhantes condolências aos bombeiros recentemente falecidos;
  3. Na página do Facebook de Cavaco Silva, aqueles que se podem chamar profissionais da indignação, amplificaram essa indignação. Quando chegaram ao 'impressionante' número de 3000 (três mil, a página do Expresso tem quase 200 vezes esse número de visitantes por dia) a comunicação social começou a dar nota da profunda revolta de milhares de portugueses (por essa altura, a censura do turismo australiano à foto de um canguru ou a linguiça portuguesa no McDonald's do Havai tinham despertado mais interesse entre os leitores).
  4. Cavaco Silva indica que enviou as condolências em privado aos soldados da paz falecidos tendo pedido, expressamente, para que tais votos não fossem divulgados publicamente. Responsáveis dos bombeiros confirmam o Presidente.
  5. Apesar do esclarecimento, o protesto que consiste em escrever "as minhas sinceras condolências aos familiares dos bombeiros falecidos" continuava como se nada estivesse esclarecido (algumas pessoas protestam duas, três quatro vezes, repetindo a frase dezenas ou centenas de vezes).
Sinceramente, penso que não são precisas mais palavras sobre o assunto. Chegámos a um ponto em que tudo - mas tudo, incluindo a morte de seres humanos - serve para a pequena chicana política. O que se viu nas redes sociais depois da morte de António Borges chegou a ser chocante e revelador de como algumas pessoas acham que os outros (e sobretudo os seus familiares e amigos) não têm direito ao mínimo respeito pela dor. O aproveitamento do trágico falecimento dos bombeiros para uma campanha política, também mostra como há tanta gente que, ou não pensa, ou não tem sentimentos.
E neste caso, pelo menos visivelmente, não foram os partidos, nem os políticos. Foram, provavelmente, muitos daqueles que estão sempre pronto a criticar tudo e todos. Deus nos livre desta turba desumana!"

Henrique Monteiro in Expresso

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O Estado Empresa

Nos últimos anos a tentativa (muitas vezes conseguida) de transformar a orgânica do Estado na orgânica de uma empresa, levou a uma diminuição da qualidade da democracia, tendo pessoas com obrigações - deveres e direitos - para com os seus concidadãos, sido tomadas como simples joguetes em jogos económicos.
John le Carré, mais uma vez, mostra-nos este lado cruel, actuando da pior forma.
" A delicate truth" é mais um livro brilhante que deveria despertar mentes.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A mercearia - 21

Como viajante, adoro conhecer e conviver com pessoas de todo o mundo, com o povo, com aqueles que têm histórias para contar.
Como rotário, acredito profundamente que a compreensão entre os povos é um dos caminhos para a paz: quando as pessoas se conhecem, quando criam laços de amizade e comerciais, não se atacam gratuitamente.
No entanto, apesar da reorganização do mundo - geopolítica e geoestratégica -  após o fim da guerra-fria, o 11 de Setembro e o surgimento de novas superpotências económicas ( militares, apenas os Estados Unidos se mantém; o Reino Unido e França cortam cada vez mais os seus orçamentos, a Alemanha não tem nem quer ter exército activo, os BRIC perceberam que a sua arma é outra), continuo a acreditar num mundo dividido em dois: os bons e os maus, nós e eles, entre os que circulam entre os corredores brilhantes de Whitehall, pela Praça do Luxemburgo e reúnem em Malta e os que se encontram em tendas no meio do deserto, na selva africana ou sul-americana - movidos pelo narcotráfico - e em salas sombrias onde nasce o sol, mas onde todos são culpados pelas mais diversas formas de tortura e desprezo pelos direitos humanos, em todo o mundo.
Acredito que Portugal está do lado dos bons e a sua presença na NATO, CE e ONU, assim como a aliança política mais antiga do mundo, com a Inglaterra, atestam isso mesmo.
Apesar de me considerar um humanista, penso que os países devem  ter um exército, voluntário, obrigatório ou profissional, por forma a defenderem e manterem a soberania e segurança externa, sua ou dos seus aliados e interesses.
Tenho, também, consciência que a paz se conquista e mantém através da guerra e da posterior educação que se dá, dos vencedores aos vencidos. Podemos pensar que foram guerras que ajudaram a definir e manter fronteiras, desde que se conhece a humanidade; que permitiram a alteração de regimes; que permitiram a libertação de povos, tendo em vista a melhoria das suas condições de vida.
Posto isto, pergunto se não aprendemos nada com o que se passou no Curdistão, Balcãs, Ruanda, Tchetchênia ou a Ossétia do Norte.
Pergunto como é possível que de há dois anos a esta parte sabemos o que se passa na Síria e, ainda assim, não actuamos.
Como é que só agora a ONU exige uma clarificação, sem pedir inquérito, ao uso de armas químicas em Damasco?!
Estamos à espera de quê?! De mais ataques?! De mais mortes?!
O que deveríamos ter aprendido neste tempo todo é que quando está um gato escondido com o rabo de fora, é porque o resto do corpo já é tão grande que não dá para encobrir mais. A diplomacia, infelizmente, não tem feito parar os processos de aniquilação de um povo e, quando assim é, deve-se dar o devido papel às armas.
Caso contrário, vamos enviar os Capacetes Azuis, ou outra força internacional, que se limitarão a observar os restos da chacina – as valas comuns, os corpos carbonizados, mutilados, que sofrem com ataques químicos e/ou biológicos -, fazendo o mundo chorar mais estas mortes; quanto aos conscientes, restas-lhes sentir vergonha por os seus líderes democraticamente eleitos - sobe a égide da Carta Magna, do Jacobismo e da Guerra da Secessão -,mas que não colocaram de parte os seus próprios interesses em prol da Humanidade. 

in Política Queira Mais

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Os amanhãs que cantam

"Há uma obscena falta de vergonha incrustada no texto da moção de confiança que o Governo vai apresentar e que, por si só, é um retrato de uma política que, após as ingenuidades e ignorâncias iniciais, tem sido feita pelo dolo, para a manipulação e para o engano. Que haja intelectuais por detrás desta mistificação, faz-me confirmar uma velha desconfiança quanto à corrupção que a ambição traz ao pensamento. E mais: com esta moção, todos os membros do Governo passam a ser versões de Paulo Portas e a reverem-se no modelo de duplicidade sobrevivente do "irrevogável".

O que esta moção nos diz é uma completa mistificação desde a primeira letra. Diz-nos que havia um ciclo político pensado em duas fases: uma, o cumprimento do "programa", outra, o desenvolvimento e o crescimento. A crise governativa das últimas semanas foi o rito de passagem, a perda da pele da serpente, que permitiu abandonar a velha pele, para fazer reluzir a segunda. Ou seja, ainda bem que houve esta crise, catártica na sua bondade, para podermos, limpos e lustrais, apresentar um "novo ciclo" aos portugueses. Nada disto é verdade, nem o "programa" foi cumprido, bem longe disso, nem este "novo ciclo" estava previsto nestes termos na programação governativa, nem as vítimas da "austeridade" podem esperar qualquer alívio, nem as vítimas que se seguem, as da "reforma do Estado", podem escapar à desvalorização do seu trabalho e ao desemprego. O programa real continua, o virtual vem aí. Só que não é para os mesmos.

Cumpriu-se o "programa", apesar de nenhum dos números do défice e da dívida ter sido atingido? Podemos "regressar aos mercados"? Obtiveram-se os resultados miraculosos do "ajustamento"? Bem pelo contrário, o que Passos, Gaspar, Moedas e outros pensavam, em completa consonância com a troika, é que após uma varredela para o lixo da economia "ultrapassada", após o desmantelamento do Estado social, após a inversão das relações de poder na legislação laboral, após o fim dos "direitos adquiridos", depois da "libertação" da sociedade do Estado, após o "ajustamento" dos portugueses a viverem "de acordo com as suas posses", muito poucas, aliás, a economia exportadora, a economia desenvolvida tecnologicamente, a sociedade dinâmica dos "empreendedores" esmagasse os "piegas", sem que o Estado tivesse qualquer outro papel do que garantir a ordem pública e a hierarquia social estabelecida. O "arranque" viria da sociedade "libertada", e nunca jamais, em tempo algum, o Estado voltaria a ser "desenvolvimentista". 

Ora isto não aconteceu, nem podia acontecer, houve demasiadas "surpresas" e estes homens ficaram presos nas ruínas do seu discurso, arrastando-o, já não para construir o seu modelo utópico, mas para encobrir e remediar os estragos do que tinham feito. Já há algum tempo que as medidas sucessivas de austeridade se destinam não a qualquer "ajustamento", mas a tapar a ineficácia das anteriores. Gaspar percebeu isto e percebeu que o primeiro-ministro já estava a hesitar com o partido e eleições, e como precisava de uma determinação absoluta, foi-se embora. 

Passos ficou no ar, entre um discurso cuja simplicidade e "economês", feito de algumas leituras sobre Singapura, lhe era atractivo e as pressões partidárias e atribulações governativas. Continua no ar, lançando mais confusão do que clareza -, o discurso partidário de ruptura das conversações é o oposto do texto da moção de confiança e só passou uma semana - mas, como sempre disse, nunca me convenceram pessoas que se tornam ideólogos de uma coisa, quando essa coisa está na moda. E por isso, o Passos desenvolvimentista e socrático contra Manuela Ferreira Leite pode regressar a qualquer momento, até porque não foi assim há muito tempo. 

Não é hoje tão fácil fazer estas inflexões quando se tem o lastro dos desastres cometidos, mas não é impossível. No fundo, todos eles são Paulo Portas. A verdade é que Passos aprovou uma moção de confiança que, se tomada a sério, é uma crítica dura aos seus desvarios de engenharia utópica. Substituir Gaspar por Maduro, ambos tendo influência por via da insegurança académica de Passos, a mesma que o faz entrar mudo e sair calado dos Conselhos Europeus, pode ser reconfortante como mentor, mas não chega. E, por isso, o discurso governamental vai-nos dizer à saciedade que saímos de uma encruzilhada "má" para uma estrada "boa". Com a capacidade que tem a comunicação social para reproduzir a linguagem do poder, esta propaganda vai ser repetida sem prudência. Até ao dia em que tombará e o contrário será a norma. Tem sido sempre assim, com Sócrates e Passos, não vai ser diferente.

Claro que haverá algumas "medidas", nos impostos para as empresas, no IVA da restauração, na concertação social, com uma UGT desejosa de voltar ao "consenso", com um PS cujo compromisso real com este "novo ciclo" desconhecemos. E vamos admitir que há mesmo "sinais" de alguma recuperação da economia, como nos diz a propaganda governamental, seleccionando para o efeito os indicadores positivos e não falando dos negativos. Vamos admitir que estamos na véspera de uma "mudança", de "uma segunda oportunidade", de "uma nova fase". Vamos admitir isso tudo, mas não vamos admitir que nos digam que isso significa o que nos querem dizer que significa.

Vamos admitir que o "pior já passou", mesmo que se trate apenas de bater no fundo. Claro que há-de haver uma altura - não sei se ainda esta -, em que, estando tudo mal, já não se pode piorar. Na verdade, não é bem assim, pode-se sempre piorar, basta a passagem do tempo para o fazer. Um ano de empobrecimento não é a mesma coisa que três e quatro, e estar desempregado a única dinâmica que conhece é o passar do tempo, para pior.

Olhando estes "sinais", as perguntas que temos que fazer são duas. Uma, o que é que ficou para trás destruído sem recuperação, cujos restos estão por todo o lado, e como é que eles vão envenenar o presente e o futuro? Outra, bem mais importante e "subversiva", é que, se houver "recuperação", quem é que dela beneficia? A resposta politicamente correcta é que beneficia a todos. A resposta verdadeira é que a poucos, muito poucos, e aos mesmos de sempre. Talvez umas migalhas cheguem aos de baixo, ou nem isso, porque eles podiam lembrar-se de comprar electrodomésticos e lá se vão os números das importações.

Numa sociedade em que se agravaram os factores de exclusão e em que uma parte importante - classe média, desempregados, "novos pobres", mundo do trabalho desprotegido - perdeu todo o poder, os frutos de qualquer tímida "recuperação" seguirão as linhas de água profunda cavadas pela ruptura social na sociedade portuguesa e correrão para onde sempre correram. 

Este óbvio facto, de que ninguém que levou com a "crise" em cima vai beneficiar dos "sinais" em tempo da sua vida, é ocultado por um discurso político que foi reduzido nestes últimos anos ao "economês". Esse discurso não se vai embora apenas porque passamos a ter uma retórica política que fala do "crescimento" em vez do "rigor orçamental". Bem pelo contrário, pode até reforçar-se, moldando o modo como se vai ver a "recuperação" e os seus frutos, legitimando a continuação da austeridade para os mesmos e "libertando" alguns de impostos, regulações, limitações, leis. Leis, no limite da Constituição, um dos programas escondidos das "negociações" com o PS. 

O "novo ciclo" do Governo, naquilo que não é pura sobrevivência eleitoral, mas discurso de feiticeiro, serve para reciclar a linguagem do poder aos mesmos interesses de sempre. Mas a sua fragilidade é a mesma do discurso do "rigor orçamental". É mais agradável de ouvir, mais enleante, leva o PS à ilharga, foge da agressividade militante da engenharia utópica Passos-Gaspar, mas destina-se a manter o mesmo círculo de ferro que captura a democracia portuguesa por um establishment financeiro e de grandes empresas nacionais (cada vez menos) e estrangeiras, e de uma elite que aceita servi-las e aceita os seus limites de fogo daquilo que se pode ou não fazer. 

Visto de longe, sanitariamente de longe, este Governo, para se manter, fez todos os tratos com Cassandra e abriu todas as caixas de Pandora. É só esperar pelos resultados do "novo ciclo"."

A mercearia - 20

No passado dia 15,o Caracas estava a abarrotar.
Muita gente que normalmente vota no CDS, PS e PCP; de bandeira em riste e afirmando ir votar PSD e Hermínio Loureiro nas próximas autárquicas.
O slogan de campanha, que aponta o passado e perspectiva o futuro, é perfeitamente adequado ao momento que vivemos e que vamos viver; Hermínio Loureiro com um discurso muito bem estruturado e assertivo deu aso a toda a dimensão linguística de “Um bom Presidente”.
Ainda sobre o slogan, quem diz " Um bom Presidente" não é Hermínio Loureiro: são as pessoas anónimas que todos os dias vivem com o resultado da sua gestão. O meu caro amigo Hermínio não tem que se colocar em bicos de pés e afirmar coisas que mais ninguém sonha, só para dizer que é bom; os oliveirenses fazem-no com orgulho.
É o meu candidato. Digo-o.
Sobre as eleições autárquicas, relembro aqui um texto que escrevi em Novembro de 2012, aquando a visita de Jerónimo de Sousa a Oliveira de Azeméis – fui ao comício do PCP porque apesar das diferenças ideológicas, considero Jerónimo de Sousa uma pessoa séria e integra para com os ideais que defende, tendo eu, aí, a oportunidade de o ouvir in loco, sem o spin e/ou cortes jornalísticos -, em que referia que, nas próximas eleições autárquicas, os oliveirenses deverão escolher entre um partido social-democrata e um partido comunista ortodoxo, já que todos os outros partidos – as cúpulas nacionais - não conhecem Oliveira de Azeméis e as necessidades e desejos das suas gentes.
Disse isto em Novembro e reafirmo agora porque, num período em que ninguém andava atrás de votos, o PSD oliveirense tinha trazido a Oliveira de Azeméis Marco António Costa, Miguel Relvas e Marques Mendes, para citar alguns exemplos – o líder partidário é Primeiro Ministro e não se deve deslocar de forma abusiva a acções partidárias – e o PCP trouxe Jerónimo de Sousa.
Este tipo de acções servem para mostrar Oliveira de Azeméis “aos senhores de Lisboa” ao mesmo tempo que as concelhias demonstram, bem, o seu poder dentro das estruturas nacionais e, com isso, mostrarem a “quem manda” os problemas reais dos seus concidadãos. É o levar para as sedes nacionais os problemas da chamada província.
Enquanto isto se passou, o PS trouxe a Oliveira de Azeméis Francisco Assis – (in)felizmente muito longe da actual direcção socialista e da concelhia oliveirense e do Bloco não veio nem Louçã, nem João Semedo nem Catarina Martins.
Posteriormente ao texto, em Fevereiro, o euro-deputado Nuno Melo esteve em Oliveira de Azeméis aquando a posse da concelhia popular.
Assim sendo, por parte dos principais partidos políticos portugueses, os únicos que merecem respeito por parte dos oliveirenses, os únicos que tiveram pessoas da liderança partidária a usarem o seu tempo para visitarem Oliveira de Azeméis e inteirarem-se dos problemas das pessoas de cá, são o PSD, PCP e CDS.

Hermínio Loureiro é o meu candidato e aproveito este espaço para felicitar a candidatura do João – conhece-o desde a altura do colégio – à Câmara Municipal, desejando que as suas intervenções venham alargar o espaço de debate e a troca de ideias, a bem dos oliveirenses.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Um bom Presidente

O Caracas cheio,  a abarrotar.
Muita gente que normalmente vota no CDS, PS e PCP; de bandeira em riste e afirmando ir votar PSD e Hermínio Loureiro nas próximas autárquicas.
Hermínio Loureiro com um discurso muito bem estruturado e assertivo.
O slogan de campanha, que aponta o passado e perspectiva o futuro, é perfeitamente adequado ao momento que vivemos e que vamos viver.
Ainda sobre o slogan, quem diz " Um bom Presidente" não é Hermínio Loureiro: são as pessoas anónimas que todos os dias vivem com o resultado da sua gestão. O meu caro amigo Hermínio não tem que se colocar em bicos de pés e afirmar coisas que mais ninguém sonha, só para dizer que é bom; os oliveirenses fazem-no com orgulho.

terça-feira, 9 de julho de 2013

sábado, 6 de julho de 2013

Segundo o dicionário da Porto Editora

"Irrevogável" quer dizer: "que não é revogável, definitivo"


A mercearia - 19

Estamos a poucos dias das eleições autárquicas -90, mais dia, menos dia – e é natural e salutar que os partidos, os candidatos e as suas listas aos diversos órgãos comecem a aparecer e a comunicar com o público: o seu e o dos outros, tendo em vista a vitória nas próximas eleições.
É um jogo de estratégia, de cor e de palavras que, quando é sério, é bastante digno. Pela minha curiosidade e paixão pela política, colecciono de há anos a esta parte merchandising político das mais variadas campanhas: desde autárquicas portuguesas a presidenciais angolanas, passando pelos processos eleitorais intermédios no Brasil, as primárias Norte Americanas ou a propaganda do Estado Novo, do MFA e do Partido Comunista Chinês.
São pequenos objectos e textos usados pelos partidos tendo em vista a exposição pública; é bom que as pessoas saibam em quem votam e por que é que votam. Mas, para mim, é também um acervo capaz de servir de objecto de estudo a todos quantos queiram estudar a comunicação/ propaganda dos partidos políticos.
Em Oliveira de Azeméis, o concelho que mais me interessa, quem, até ao momento, mais fez pela sua imagem em pré-campanha, foi Joaquim Jorge Ferreira – engenheiro -, candidato do Partido Socialista, tendo afirmado ao Correio de Azeméis “ esta campanha não visa eleger quem mostra ter mais meios ,(…) Ninguém entende que, perante a actual crise, um partido desbaratar milhares de euros em campanha…”.
Já há sede de campanha, site, página no Facebook e muitos outdoors espalhados pela cidade.
Por cima de um fundo azul – deve ser moda, da esquerda à direita, nestas eleições, porque quase todos utilizam um fundo azul!!! - aparece a fotografia do candidato, em mangas de camisa, em sinal que tira o casaco para trabalhar, e o slogam de campanha “ Gestor competente a presidente”.
“Gestor competente a presidente” abre duas hipóteses de interpretação, sendo que uma delas me deixa baralhado em relação a eleição que vamos ter.
O slogan diz-nos que o Sr. Eng. Joaquim Jorge Ferreira é um gestor competente. O leitor sabe isso? Conhece a(s) empresa(s) do Sr. Eng. Joaquim Jorge Ferreira? São do PSI 20 ou do PSI Geral? Tem uma(s) empresa(s) que factura milhões de euros por ano e emprega centenas de pessoas? Está na lista da Forbes? É convidado para escrever livros e dar conferências expondo as suas dificuldades e explicando as suas vitórias?
Eu não sei e também não sei se o leitor sabe. Será que é importante?! Eu não queria o Sr. Américo Amorim nem para Presidente de Junta, quanto mais para liderar a Câmara Municipal. No entanto, se me dizem que é um gestor competente, até prova em contrário, eu acredito que seja.      
O que me causa admiração é um candidato apresentar-se como cabeça-de-lista a umas eleições autárquicas como sendo um gestor competente. A política, a nobre arte da política, é para todos, tendo a profissão que tiverem: médicos, músicos, camponeses, pedreiros, cientistas, cineastas, etc., etc..
Alguém que se diz ser especialista em gestão, coloca-me logo várias questões: será que sabe de sociologia? Finanças públicas? Protecção civil? Desporto? Bem sei que tudo se aprende, que ninguém chegou a um cargo 100% preparado.
Contudo há algo que me intriga ainda mais: eu, como consultor de empresas, conheço centenas de empresas, empresários e membros da administração; contudo, não conheço nenhuma empresa que seja uma democracia.
Ou seja, pela minha experiência, custa-me a crer que um gestor formatado no ambiente empresarial consiga ser um líder democrata, consiga ouvir e atender a pessoas que são sistematicamente contra a sua posição, sem poderem usar termos que, infelizmente e cada vez mais, estão presentes na administração das empresas: “quero, posso e mando” e “rua”.
A mim causa-me confusão quando ouço alguém dizer que o país, a Câmara Municipal ou a Junta de Freguesia deveriam ser geridos como um empresa. Onde estaria, aqui, a voz dos cidadãos?! Onde estaria o contra-poder?! Onde estaria o direito ao contraditório?! Isso não existe no mundo empresarial.
Tudo isto se passa em ditadura, não em democracia, por mais ténue que ela seja.
Pelo mesmo prisma, penso ser um erro colossal alguém se apresentar a uma eleição enaltecendo-se como sendo um “gestor competente”, em vez de, por exemplo, se apresentar como sendo um humanista.

 Numa altura de crise financeira, económica, política e social, num país entregue à austeridade e aos gestores tecnocratas, como, por exemplo, o ex-ministro das finanças, o Dr. Vitor Gaspar, o Sr. Eng. Joaquim Jorge Ferreira apresenta-se como sendo mais um, igual a todos os outros, não trazendo, para já, nada de diferente ou positivo à campanha e aos oliveirenses. 


sexta-feira, 5 de julho de 2013

Paulo para Maria Luís...


Num mundo perfeito

Ontem disseram-me que o Lobo Xavier é que deveria estar à frente do CDS.
Eu, simplesmente, respondi: " O Rui Rio no PSD e o Francisco Assis no PS".

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Agora, é a hora


Cuidado com os próximos tempos

Será a notícia inocente?!

O navio fantasma

"Querer manter a todo o custo o governo em funções é a pior estratégia para os interesses nacionais face "aos nossos credores". Não o perceber é típico da actual incompetência institucionalizada. Se Passos Coelho pensa que faz a ferro e fogo um "ajustamento" contra tudo e contra todos e que é isso que "os nossos credores" querem, está completamente enganado. Não só "os nossos credores" não confiam hoje na sua capacidade política de o fazer, como, depois da situação criada pela dupla demissão de Gaspar e Portas, os "nossos credores" o que vão exigir é que os três partidos PSD, CDS e PS façam um novo acordo.

As condições políticas para esse acordo não existem sem eleições, e ninguém imagina que o CDS e o PS possam hoje ter vontade política para fazer esse acordo, durante a troika e no pós-troika. E um governo isolado, bloqueado e a cair aos bocados, é a última coisa que pode acalmar os "nossos credores". Amanhã eles já estarão noutra, mesmo que não o digam. Por cá, a cegueira funciona assim."


José Pacheco Pereira in Abrupto

terça-feira, 2 de julho de 2013

E, de repente....

o ar nesta latrina tornou-se mais respirável.

P.S.: pensei que por falta de tempo (ontem) tinha perdido o timming de mandar esta piada.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Viva o povo brasileiro




Sem milícias nem barões de favelas,é o povo e apenas o povo que acordou; assim sendo não há lugar a "negociações".
Parabéns!!

quarta-feira, 12 de junho de 2013

A mercearia -18

Como todos sabem, gosto de desporto: por ser (ter sido) praticante de alguns desportos, por tradição, pela estratégia, pelo “dever cumprido” mesmo quando se perde, pela superação da condição física e mental, pelo bem-estar e pela saúde.
Apesar de ter as minhas preferências clubísticas, não entro em grandes euforias nem em grandes lamúrias quando a minha equipa favorita ganha ou perde: tudo é desporto, tudo é treino.
No entanto, tenho um orgulho muito grande quando equipas e desportistas da minha terra ganham as suas competições ou alcançam resultados dentro dos objectivos inicialmente traçados. Aqui, nos últimos tempos, temos tido vários motivos de alegria que vão do ténis ao basquetebol, do hóquei ao ciclismo, não esquecendo um “grande desporto” de integração social, como é o caso do boccia. 
Além dos feitos alcançados por atletas e clubes, Oliveira de Azeméis, de há muitos anos a esta parte, é uma meca no desporto nacional, pautando-se pela organização de vários campeonatos das mais diversas modalidades, de congressos e colóquios de dirigentes, médicos e atletas, pela aproximação da actividade desportiva à população.
Ao falar de desporto em Oliveira de Azeméis não se pode dissociar de falar da União Desportiva Oliveirense (UDO). A UDO é o maior clube do concelho, é um dos maiores do distrito de Aveiro, com equipas de topo nas mais diversas modalidades e escalões.
Pela sua dimensão, pelo número de atletas e modalidades que congrega, é o clube mais representativo, a todos os níveis: tem dimensão física e cultural.
Devido ao número de atletas na formação e aos espaços utilizados pela UDO, a Oliveirense é o clube que mais fundos recebe anualmente por parte da edilidade e aos quais o Partido Socialista se opõe.
O Partido Socialista de Oliveira de Azeméis usa o argumento que a UDO recebe muito mais dinheiro e apoios que os outros clubes, não existindo equidade.
Há dias, aqui neste espaço, uma pessoa ligada ao PS local, sobre a subida da UDO à Liga Profissional de Basquetebol, disse: “(…)como é que tem uma equipa do mais alto nível de competição nacional da modalidade que não tem sequer infra-estruturas para os treinos?” para, de seguida “os oliveirenses viram a sua equipa do coração regressar à Liga Profissional de Basquetebol mas, além das palavras e do carinho do público, com que mais pôde esta equipa contar?” e finalizar com “ (…)quem sabe estará para chegar uma Câmara e um presidente que vos possa convenientemente dar apoio…”.
Perante isto, várias dúvidas surgiram, às quais gostava de obter resposta. Assim:
1.       O PS local, que criticou veemente o apoio dado pela Câmara Municipal à UDO vem, agora, depois da equipa sénior da UDO subir ao escalão mais alto do basquetebol nacional, sugerir mais apoios para a oliveirense?
2.       Não sabe o PS local que na cedência de espaços por parte da GEDAZ à UDO, nomeadamente o pavilhão municipal para o treino das equipas de basquetebol, não há direito a nenhum pagamento?
3.       Pretende o Eng. Joaquim Jorge Ferreira, caso ganhe as eleições autárquicas, edificar um centro de treino específico para a oliveirense?
4.       Se sim, a autarquia constrói e cede o espaço por tempo indeterminado, aluga o espaço (a valor de mercado ou a preço simbólico?), ou tem em mente outra forma de transferir algo público para uma entidade privada?
Como cidadão oliveirense, como interessado na causa pública, como desportista, como adepto da UDO, gostava de ouvir o Eng. Joaquim Jorge Ferreira falar sobre estes assuntos ou, então, o putativo Vereador do Desporto de uma possível equipa de gestão autárquica do PS a responder a tais perguntas (se for alguém diferente de Ana Catarina Santos porque, das suas opiniões/ ideias, já todos sabemos quais são).
Aproveito também a ocasião para voltar a questionar o Eng. Joaquim Jorge Ferreira sobre a sua linha estratégica: se pretendem dar um centro de treino à UDO, suponho que, em linha do que defenderam até aqui, também pretendam dar o mesmo tratamento aos outros clubes. Ou seja, qualquer clube terá direito a um espaço próprio, digno da(s) modalidade(s) que pratica, capaz de ombrear com o que de melhor se faz no centro da Europa, Estados Unidos e China.
Assim sendo, o PS irá apostar numa política de obras-públicas, com construções idênticas às até aqui edificadas e que, além de lapidarem mais um pouco o erário público, se prevê uma taxa de ocupação reduzida?

Ou será que, agora, a duplicação de relvados sintéticos, courts de ténis, piscinas, ringues de patinagem, pistas de atletismo, é, para o PS local assim como foi em tempos para o PS nacional, o custo da interioridade?!  

in Politica Queira Mais

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Onde está o logótipo do PSD?


É esta a candidatura do PSD à segunda maior Câmara Municipal do país?
Mas o site não deveria ter algo laranja e o logótipo do nosso partido?
Não deveria fazer menção à excelente política praticada por Rui Rio e o PSD nos últimos 11 anos?

sábado, 1 de junho de 2013

Homenagem ao Dr. Carlos Costa, Governador do Banco de Portugal

Rotary foi um movimento criado por profissionais, tendo em vista a melhoria contínua da comunidade onde se inseriam esses profissionais.

Vou aproveitar o facto de estarmos reunidos na casa de um dos mais reconhecidos chef portugueses para fazer uma analogia:

Imaginem a história da sopa-da-pedra, onde de um pouco de água e de uma pedra, juntando a tenacidade e perspicácia do frade, nasceu uma sopa muito nutritiva capaz de saciar todos quanto a comiam. “ Já agora juntou-se uma batata, já agora juntou-se feijão, já agora junou-se toucinho e por aí fora”.

O movimento rotário nasce como a sopa-da-pedra: no início seriam uma ou duas pessoas, profissionais dignos que queriam ajudar a comunidade, mas eram poucos. “Já agora” um deles conhecia um amigo que também era um bom profissional e convidou-o para o grupo. “Já agora” esse amigo conhece outro amigo que por sua vez conhece mais um amigo e por aí fora, engrossando a sopa e as profissões aí representadas.

A sopa-da-pedra é feita através da junção de alimentos simples. Os clubes rotários também: são formados por pessoas simples, por profissionais dignos que se honram e que honram os seus pares. É dessa simplicidade e dessa junção de pessoas que se criam grupos de ajuda à comunidade, grupos a quem os cidadãos podem recorrer a pedir auxilio e a que se chamam Rotary Club.

Sendo os clubes rotários clubes preocupados com o mundo que os rodeia, é natural que reconheçam quem se distingue da sociedade devido ao seu mérito: sejam estudantes, sejam profissionais, sejam beneméritos. Quando assim é, agraciam-se essas pessoas, fazem-se homenagens.

Qualquer pessoa, desde que seja um bom profissional, empreendedor, dinâmico, que se honre e que honre os seus pares, poderá ser rotário ou poderá ser homenageado pelo Rotary Club.

Já homenageamos um carteiro, o Sr. Elísio Coelho dos Bombeiros, a Senhora D. Isabel Maria Calejo do Rancho de Cidacos, o Sr. Abílio que tantas vezes me rasgou o bilhete na entrada do cinema, ou os presentes Eng. Aníbal Campos, CEO da Silampos, Sr. António Oliveira, presidente do Lar Pinto de Carvalho, Professor Doutor Carlos Alegria e tantos outros  que deram o melhor de si à sua profissão e, consequentemente, à comunidade.

Hoje, estamos aqui reunidos para homenagear um distinto oliveirense, nascido a 3 de Novembro de 1949, com a graça de Carlos da Silva Costa.

É uma homenagem que muito nos apraz porque, numa altura em que o povo tem a percepção que para os mais altos cargos são nomeados pessoas sem currículo e sem história, onde o mérito profissional é facilmente substituído por qualquer outra razão, o Dr. Carlos Costa vem contrariar essa tendência, dando-nos, pelo seu passado, a garantia de um futuro de trabalho, de seriedade, em prol de todos, colocando os interesses de Portugal e dos portugueses à frente de quaisquer outros.

O Dr. Carlos Costa é licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto (1973).

Foi assistente da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (1973-1986) e docente do curso de pós-graduação do Centro de Estudos Europeus da Universidade Católica do Porto (1986-2000).~

Em Janeiro de 1978, ingressou no Centro de Estudos de Economia Portuguesa da Direcção de Estudos do Banco Português de Atlântico, que dirigiu entre 1981 e 1985.

Foi membro não executivo do Conselho de Administração do Instituto Nacional de Estatística (1990-1992).
Entre 1988 e 1992, integrou, a título pessoal, o Conselho Superior para a Reforma do Sistema Financeiro-1992, cujo “Livro Branco sobre o Sistema Financeiro” serviu de base à reforma global do quadro legislativo do sistema financeiro português.

Foi Coordenador dos Assuntos Económicos e Financeiros na Representação Permanente de Portugal junto da União Europeia e membro do Comité de Política Económica da União Europeia (1986-1992).

Entre 1993 e o final de 1999, foi Chefe de Gabinete do Comissário Europeu Prof. João de Deus Pinheiro com as responsabilidades das políticas de “Comunicação, Cultura e Audiovisual “ (1993-1994) e da Política de Cooperação da União Europeia com os países de África, Caraíbas e Pacífico (1995-1999).

Foi director-geral do Millenium BCP (2000-Março 2004) e foi membro do Conselho de Administração da Euro Banking Association (2001-2003).

Entre Abril de 2004 e Setembro de 2006, foi administrador da Caixa Geral de Depósitos, presidente do Conselho de Administração da Caixa Geral de Aposentações, presidente do Conselho de Administração do Banco Nacional Ultramarino S.A, Macau e presidente do Banco Caixa Geral (Espanha). Entre Janeiro e Agosto de 2005, integrou o Conselho de Administração da Unibanco Holdings, S.A., Brasil.

Foi vice-presidente do “European MANUFUTURE High Level Group” (2005-2006).

Foi membro do Conselho Consultivo do Comité das Autoridades de Regulamentação dos Mercados Europeus de Valores Mobiliários (2008-2010).

Foi vice-presidente do BEI entre Outubro de 2006 e Maio de 2010, com a responsabilidade pela Direcção Financeira e pelas operações de crédito para investimento em Portugal e Espanha, na Bélgica, no Luxemburgo, na América Latina e na Ásia.

É, Governador do Banco de Portugal, desde 7 de Junho de 2010.

É membro do Conselho de Governadores e do Conselho Geral de Governadores do Banco Central Europeu, membro do Conselho Geral do Comité Europeu de Risco Sistémico e do Grupo Consultivo Regional para a Europa do Conselho de Estabilidade Financeira. Preside ao Conselho Nacional de Supervisores Financeiros.

É vice-presidente honorário do Banco Europeu de Investimento (BEI), professor catedrático convidado da Universidade Católica do Porto e da Universidade de Aveiro e presidente do Conselho Consultivo da Faculdade de Economia da Universidade Católica do Porto.

O Dr. Carlos Costa é tudo isto mas é, sobretudo, uma pessoa simples, humana, preocupada com a sociedade que o rodeia.

Assim, é com grande orgulho que o Rotary Club de Oliveira de Azeméis leva a cargo esta justa e sentida homenagem que aqui lhe prestamos hoje, como agradecimento do seu contributo para uma sociedade mais humana, fraterna, acolhedora, solidária e justa, onde a banca e a sua regulação assumem um papel fundamental.

O Dr. Carlos Costa, pela forma como transmitiu o seu saber aos alunos da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, da Universidade Católica e da Universidade de Aveiro, pelo esforço e dedicação demonstrados ao longo de quase 40 anos a representar instituições financeiras portuguesas um pouco por todo o mundo, pelo seu trabalho junto da Comissão Europeia e, mais recentemente, pelo cargo de Governador do Banco de Portugal, leva-nos a concluir que em toda a sua vida profissional honrou o primeiro lema de Rotary: dar de si antes de pensar em si.

Senhor Governador, a sua presença hoje, aqui, é motivo de gáudio para o Rotary Club de Oliveira de Azeméis.

Muito obrigado,

P´lo Rotary Club de Oliveira de Azeméis,


João Rebelo Martins

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Quem se deve apoiar?

Quem é o candidato que diz,  repetidas vezes, " os bons exemplos de Rui Rio são para seguir"?
Não deveria ser esse candidato que o PSD deveria apoiar?!

Quem é Ana Avoila?

"Há anos que ouço falar em Ana Avoila e ontem, num momento que tive, decidi pesquisar quem era e o que fazia. Primeira surpresa: os nomes dos sindicalistas não têm biografias na Internet, ao contrário dos nomes de quase toda a gente que aparece na televisão.
Retiro pelo contexto, pelo facto de ser coordenadora da Frente Comum dos sindicatos da Administração Pública que é funcionária pública. Mas faz (ou fez) o quê? Deserto absoluto. Fosse outro o cargo e não faltaria quem dissesse que esta ausência de currículo era suspeita... mas adiante.
Que idade tem? Não se sabe, mas deve ter 59 anos. Porque há uma Ana Avoila, Funcionária Pública e membro da Direção do Setor da Função Pública de Lisboa do PCP, membro do secretariado Permanente da Direção do Sindicato dos Trabalhadores da Função Pública do Sul e Açores, Coordenadora da Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública que foi candidata pelo Partido Comunista às Europeias de 2009 e que tinha, na altura, 55 anos. Presumo que seja a mesma.
Continuando a pesquisa denoto que em 19 de fevereiro de 1998, há mais de 15 anos, uma Ana Avoila era subscritora de um abaixo-assinado a defender a interrupção voluntária da gravidez. Como tinha, por profissão dirigente sindical, presumo ser a mesma.
Em 11 de maio de 2003, há 10 anos, já falava em nome dos trabalhadores da Administração Pública, acusando o então Governo de Durão Barroso de asfixiar os funcionários com as suas medidas. Em 25 de setembro de 2006, há quase sete anos, acusava o governo de Sócrates de querer "liquidar a Administração Pública entregando os serviços mais rentáveis ao patronato". Há 15 dias disse que o Governo de Passos está a "governar em ditadura" e faz "reuniões a correr para lixar os trabalhadores". Presumo que seja a mesma Avoila que marca greves sem passar cavaco aos outros sindicatos, porque acha que sim.
Não entendo bem a credibilidade da senhora. Se ela é dirigente há 15 anos e não conseguiu melhores resultados do que estar tudo cada vez pior, seja em que Governo for, pode ter a humildade de perguntar a si própria se o problema não será também um pouco seu, pois não soube melhorar, ou impedir que piorassem as condições dos trabalhadores que representa. Mas, curiosamente, nestes cargos, ao contrário de nos partidos e nos clubes, nunca há oposições internas visíveis. Mais: quando se acusa um Governo eleito há dois anos de governar em ditadura, que pode ouvir quem está à frente de uma organização há 15 anos (pelo menos)?
O que faz correr uma pessoa assim? É a fé? Quem a segue fá-lo por motivos idênticos? Às vezes é bom interrogarmos estes profissionais da contestação, porque nem sempre as coisas são muito claras no campo de quem mais se queixa."


Henrique Monteiro in Expresso

sexta-feira, 24 de maio de 2013

A mercearia - 17


Estamos a poucas horas de se iniciar um dos eventos mais marcantes da sociedade oliveirense, que se realiza há já muitos anos, tendo como função revisitar modas e costumes de outrora, dando a conhecer os sabores tradicionais, numa estreita colaboração com associativismo do concelho. Refiro-me, como podem imaginar, ao “Mercado à Moda Antiga”.
Falamos de um evento que começou por carolice, de dimensão local, com a força de vontade da GRACC e que, em boa hora, foi apadrinhado pela Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis.
A estratégia da Câmara Municipal, assumindo o Vereador responsável pela área do Turismo um papel fundamental, foi o de transformar um evento local num evento supralocal, atravessando várias fronteiras. Nos últimos anos foi feito um esforço nesse sentido, mediatizando o “ Mercado à Moda Antiga”.
Para isso, em colaboração estreita com o Turismo Porto e Norte, a divulgação do evento nas lojas de Vigo (Espanha) do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, dando a conhecer aos estrangeiros Oliveira de Azeméis e as suas actividades; a presença na BTL – o certame mais importante do país no que diz respeito ao turismo. A presença de promotores nos mercados do Bolhão e Aveiro, assim como na Estação de S. Bento e na Ribeira de Gaia.
No contacto directo com o público, além de todas estas acções, é de primordial importância a internet, a imprensa escrita e a televisão.
Também aqui foi feita uma grande aposta nos dois últimos anos, e toda a gente fala do “Mercado à Moda Antiga” em Oliveira de Azeméis.
Como garantia de sucesso, para os oliveirenses mais cépticos, fica o caso da Abreu. A Abreu é uma empresa centenária que tem como core business as viagens e o turismo. Este ano, pela primeira vez, a Abreu criou pacotes especiais para trazer turistas a Oliveira de Azeméis, ao “Mercado à Moda Antiga”.
Se uma empresa – que vive da visão e risco da sua administração, com vista a dar lucros – aposta neste nosso produto, é porque ele está bem pensado, estruturado, organizado, acrescenta valor e tem potencial para o futuro.
Não sei quais são as expectativas da Abreu e dos dois hotéis a ela associados; podem contar com uma visita ou cem visitas. Para mim, a primeira família a vir a Oliveira de Azeméis através deste pacote já é uma vitória porque nos indica que o caminho é válido.      
É com este tipo de eventos – como, também, a “ Noite Branca”, “Volta a Portugal em Bicicleta”, “ Mundial de Futsal”, etc. - que, em conjunto com os produtos que se fabricam em Oliveira de Azeméis, podemos falar da “Marca Azeméis”.
Oliveira de Azeméis apresenta-se com um grande centro industrial – moldes, calçado, agro-alimentar -, um cada vez mais importante centro de ensino – Escola Superior Aveiro Norte, Escola de Enfermagem da Cruz Vermelha, etc. -, e, também, como um polo turístico na região Entre Douro e Vouga.  
Ao ver todas estas potencialidades, apenas tenho pena de a linha do Vale do Vouga não ser aproveitada pela Metro do Porto por forma a transportar (diariamente) muito mais pessoas ou não ser aproveitada como uma linha turística, utilizando, a exemplo de muitos países da Europa, as velhas locomotivas a carvão.
Com qualquer uma destas soluções, certamente, Oliveira de Azeméis teria mais um motivo para mais pessoas poderem vir ao Mercado (ou para o trabalho). No entanto esse é tema para outra discussão, num outro local.
Desejo a todos um excelente “Mercado à Moda Antiga”. Por lá nos encontramos!

quinta-feira, 16 de maio de 2013

A mercearia - 16


Decorreu hoje, no cine-teatro Caracas, a sessão “Políticos de Palmo e Meio”. Uma iniciativa da Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis, que decorre desde 2006, que visa fomentar, em crianças de tenra idade, princípios básicos de democracia e cidadania, o conhecimento do concelho e dos órgãos executivos.
Numa altura em que é enraizado na nossa sociedade – ainda não percebi se propositadamente por grupos políticos radicais (de esquerda, de direita e anarquistas como, por exemplo, o movimento “ Que se lixe a Troika”, o “Movimentos 12 de Março” ou os “Indignados” ) ou se por descuido e ignorância – que todos os políticos são corruptos, que não são necessários, caindo-se numa falácia ao invés de se exigir justiça, convém envolver todos nas questões da democracia, começando pela representação, apresentação de ideias e discussão. A sessão “Políticos de Palmo e Meio” consegue tudo isso e desejo, com toda a sinceridade e esperança, que no futuro tenha frutos, conseguindo uma sociedade com pessoas cada vez mais informadas e interessadas pela causa pública.
O tema da sessão deste ano foi “Património” – um tema que não era fácil - e eu esperava ouvir discussões sobre o património no mundo de uma criança: a casa e a escola.
Por exemplo, ouvir os miúdos pedirem um parque de jogos novo, um baloiço, umas balizas para jogarem à bola, um jardim; quanto muito, uma cantina para a escola. Estava à espera de ouvir alguém dizer que conhece um colega que não se alimenta tão bem como ele e os colegas e perguntar porquê e o que poderá ser feito.
Contudo, ao ouvir crianças de nove e dez anos a falarem de “ Qren”, “ Adritem”, “sustentabilidade”, “percentagem de financiamento da Câmara Municipal” e afins, causa-me alguma estranheza. Ao ouvir tudo isto sem o sorriso e a espontaneidade típica de quem ainda não tem preocupações na vida, fez-me levar a pensar a tristeza dos nossos dias.
Crianças, a lerem papeis, claramente escritos por adultos, usados como arma de arremesso em jogos políticos cobertos pela comunicação social, repetindo questões levantadas na Assembleia Municipal, interpelando o Presidente da Câmara com o vigor de um oposicionista, em ano de eleições autárquicas, é, no mínimo, um abuso.
Espero que em 2014, quando se realizar a próxima sessão dos “Políticos de Palmo e Meio”, depois de passado o período eleitoral, devolvam a inocência aos miúdos de Oliveira de Azeméis.  

terça-feira, 14 de maio de 2013

O Guignol

No início do século XIX apareceu em Lyon um nova versão do teatro de marionetes com uma personagem central que deu o nome à cena: Guignol. Muitas das suas personagens são idênticas às da Commedia dell"Arte italiana e incluem variantes do Arlequim, do Polichinelo, uns criados oportunistas, uns "burgueses", um militar façanhudo, um polícia e vários ladrões, uns ingénuos e uns espertos, umas damas de virtude assanhada e outras de costumes fáceis, etc., etc. A actividade mais popular no Guignol é a pancadaria, sendo que a cabeça dos bonecos tem sempre que ser feita de madeira dura para permitir a repetida cena de uma ou várias personagens andarem com um pau a bater na cabeça uns dos outros. Se se quiser dizer em português, o Guignol é uma fantochada.

A imagem do Guignol, cujas variantes nacionais ainda estão nas minhas memórias de infância, perseguiu-me toda a semana passada enquanto assistia ao espectáculo dado pelas sucessivas declarações de Passos Coelho e Paulo Portas, os arrufos e as declarações de amor perpétuo, os elogios da corte de servidores, a admiração dos jornalistas e comentadores com a supina inteligência de um e a incompetência "mediática" do outro, num jogo de cena penoso de se ver, diante de milhões de pessoas a empobrecer, desempregadas, ameaçadas nos seus direitos mais básicos, velhos sem qualquer alternativa atirados aos cães da "convergência das pensões". Era Guignol do mais perfeito: pauladas, tiradas retóricas, choros e arrependimentos, mentiras e maldades. 

A sequência rápida destas últimas semanas diz tudo sobre como estamos. Comecemos pelo chumbo do Tribunal Constitucional, seguida das declarações de fúria governamental, da cena de silêncio e ida a Belém (porquê?), do despacho vingador de Vítor Gaspar, que continua em vigor e ninguém aplica porque é impraticável; das fugas de informação de que as reuniões do Conselho de Ministros são campos de batalha entre facções do Governo, detalhadamente contadas ao Expresso, a Marques Mendes, a Marcelo, a qualquer órgão de informação que queira saber; do discurso autocastrador de Cavaco Silva no 25 de Abril; do plano abstracto de "fomento industrial", anunciado com tanta pompa quanto o vazio de concretização, por uma facção do Governo ligada ao "crescimento"; da Assembleia informada de que terá direito a ver um documento essencial para o futuro do país, "uns minutinhos antes" de Bruxelas; da Assembleia informada de que pode discutir os créditos swap, mas que o acesso ao relatório que iliba a secretária de Estado (e feito sob sua direcção) permanece "confidencial"; do Documento de Estratégia Orçamental apresentado pela outra facção do Governo, a do "rigor orçamental", da ordem do imaginário (e aprovado por Portas que também o acha "irrealista"), dos anúncios sobre anúncios que não anunciam nada, do "será para depois de amanhã", "afinal os pormenores serão só para depois", etc., etc. "Menus de propostas", uma ridícula denominação, de vários tipos: anunciadas; anunciadas mas vetadas por outro ministro do mesmo Governo; anunciadas mas "abertas" para se cumprir o ritual da concertação social, e o novo ritual do "consenso"; propostas "equacionadas"; propostas que quando dão torto passam a "hipóteses" de trabalho (sendo que os números divulgados noutros documentos de "poupanças" são as das "hipóteses" e não as das propostas...), propostas em versão A e B e C, mudadas no espaço de uma semana; propostas terroristas passadas em fugas à comunicação social para ver no que dá e para depois vir o Governo congratular-se por afinal não ir fazer tão mal aos cidadãos como tinha "soprado" a uma imprensa que publica tudo; não-propostas e antipropostas da ordem da matéria negra e da antimatéria. Alguém me sabe ou pode dizer, a uma semana do seu anúncio, que medidas estão efectivamente decididas? Ninguém.

O "menu de propostas" parece aqueles menus desleixados em que uma cruz significa que o prato já não há, e depois, quando se pede outro, já não há os ingredientes e é melhor escolher o que não se tinha escolhido; ou aqueles menus dos restaurantes de luxo em que um palavreado destinado a épater le bourgeois, como "emulsão de chouriço", "vinagrete de citrinos" ou "sardinha em seu suco", ocultam pouco mais do que uma folha de alface comAceto Balsamico de Modena feito na Bairrada. E quanto aos preços do "menu" não há um único que bata certo. Os do Documento de Estratégia Orçamental não são os mesmos dos de Passos Coelho, nem os de Portas, nem os da contabilidade do "menu de medidas", nem os do secretário de Estado Rosalino, nem os que são dados nas reuniões de concertação social. São todos em milhares de milhões de euros, mas nada bate certo e não é só nas previsões, é nos números com que se parte para as previsões. 

Depois há o uso cada vez mais ofensivo da instabilidade, da chantagem e do medo para pôr as pessoas na ordem. Veja-se o que se passa com os despedimentos da função pública, que, se o Governo pudesse sem violação da lei e da Constituição, seriam às dezenas de milhares, amanhã mesmo. Mas como não pode, usa-se uma combinação de chantagem - as rescisões "por mútuo acordo" - com a colocação de milhares de trabalhadores na absurda (e ilegal) situação de manterem um vínculo ao Estado sem receberem um tostão de salário. E como o Governo percebeu que talvez, mesmo apesar dos inconvenientes pessoais da chamada "mobilidade especial", pudesse haver um número significativo de funcionários que a pudessem aceitar em desespero de causa, e como o objectivo, por detrás dessa tralha verbal tecnocrática, é só despedir, vem agora dizer que "precisamos de transformar o Sistema de Mobilidade Especial num novo Sistema de Requalificação da Administração Pública, com o objectivo de promover a requalificação dos trabalhadores em funções públicas, através de ações de formação". Poderíamos dizer que teria havido um progresso, visto que se pretendia apenas "requalificar" os trabalhadores. Mas se é assim por que é que a frase seguinte é "... e da introdução de um período máximo de 18 meses de permanência nessa condição, pois não é justo para a pessoa, nem é boa administração do Estado, perpetuar uma situação remuneratória que já não tem justificação laboral", ou seja "requalificar" significa despedir? Estes jogos de palavras orwellianos são tão habituais neste Governo como respirar. E eles estão ofegantes.

É uma descrição dura e desapiedada a que faço? Ainda me parece mole e meiga, porque a dimensão de Guignol, de engano, de dolo, de nos querer tomar por tolos, é compulsiva. Não é para levar a sério, mas é muito sério. É muito sério porque disto tudo fica um resíduo, um rasto, uma saliva marcando as paredes, uma babugem qualquer, de medidas, ordens avulsas, leis e directivas, despachos que destroem sem sentido a vida a muitas pessoas que estão a pagar um tributo demasiado caro à vaidade do dr. Portas, ao profetismo ignorante de Passos Coelho, à obstinação tecnocrática de Gaspar, ao servilismo dos deputados do PSD e do CDS, e à cumplicidade de muitos interesses. Esse tributo, que vai ser inútil porque dele não virá qualquer adquirido para os problemas do país, torna este Guignol criminoso. 

E não me venham com desculpas, nada disto tem a ver com o facto de haver uma coligação, nada disto mostra inteligência, mas apenas esperteza, nada disto mostra qualquer preocupação com o país, mas apenas instinto de sobrevivência eleitoral, nada disto mostra qualquer sentido de Estado mas apenas truques de imagem mediáticos, nada disto tem a ver com Portugal nem com os portugueses, mas com um sistema político corrompido pela sua ruptura com o povo e a nação. Guignol por Guignol prefiro o verdadeiro."