quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Eu ainda sou do tempo em que a Alemanha tinha perdido a guerra

Eu sou do tempo em que se estudava que a Alemanha tinha perdido a guerra, que tinha perdido para a URSS e os EUA e Reino Unido ( sim, por esta ordem) a vontade de aniquilar os Judeus e Ciganos e submeter os outros não-arianos ao poder da raça superior.
Eu que sou desse tempo, que sou português e amo a minha pátria, fico pasmado quando ouço Merkel, com toda a naturalidade, a retomar a ideia que Bruxelas deverá ter um poder de veto sobre os orçamentos nacionais que se desviem dos limites europeus para o défice orçamental (3% do PIB) e da dívida pública (60% do PIB).
Ninguém diz nada?! Somos o tubo de ensaio económico do mundo dito civilizado e todos se calam perante as alarvidades desta senhora de leste?!
Onde fica a soberania dos estados membros?!
Se isto não é o domínio de um povo sobre o outro, utilizando a economia, retomando quiçá um velho objectivo germânico, não sei o que será.
Que venha a guerra com espingardas e balas, é menos hipócrita.

Uma cidade com futuro

Há tempos, aqui neste espaço, escrevi que Oliveira de Azeméis, apesar da crise e das dificuldades, tem gente audaz e trabalhadora, tem meios de desenvolvimento que nos possibilitam olhar o futuro com esperança, numa perspectiva de consolidação económica e que trará melhores condições de vida a todos.
Esta situação passa-se porque, felizmente, temos políticos que compreendem os desejos dos empresários, dos micro aos grandes, e criam ferramentas que lhes possibilitam crescer, muito ao estilo do provérbio chinês que diz algo do género " dou-te a cana e ensino-te a pescar, alimentando-te para o resto da vida".
Essas ferramentas podem ser, por exemplo, melhores vias de acesso, a instalação de mais e melhores instalações de ensino, eventos como a Noite Branca que promoveu o comércio tradicional ou o próximo grande evento oliveirense que é a Promoção PME 2012.
A Promoção PME 2012 é um evento dedicado a PME Líder, PME Excelência e a PME que se enquadrem nas indústrias criativas e do pólo tecnológico. É um evento para mostrar o melhor que se faz em Oliveira de Azeméis em sectores cada vez mais estratégicos na economia nacional.
Ou seja, é um evento importante para as empresas porque poderão mostrar-se à comunidade regional, aumentando a sua notoriedade e podendo realizar negócios devido ao evento.
É igualmente um evento importante para a comunidade estudantil oliveirense porque permite aos alunos conhecerem o mercado de trabalho e/ ou inspirarem-se para projectos empreendedores onde poderão colocar em prática tudo o que aprenderam.
Com isto assegura-se o futuro dos jovens, das empresas e, consequentemente, de Oliveira de Azeméis.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Seguro, um homem atento à banca de jornais

Tal qual Jorge da Silva Carvalho, também António José Seguro é uma pessoa atenta às bancas de jornais e não me admirava que fizesse clipping!
Vejamos, na quinta-feira a Visão saía com esta capa:


E na sexta-feira António José Seguro diz que vem aí uma " bomba atómica fiscal". Muito original.
Posto isto, proponho a revista Visão ( no seu todo) para Secretário Geral do PS. Pelo menos tem mais ideias, mais humor, um pouco de amor e uma coisa extremamente útil: pode-se fazer arquivo, não vá falhar a memória a alguém!

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O populismo como um meio

Quando não há ideias, quando não se consegue ter um pensamento estruturado e contínuo sobre o que será melhor para uma dada comunidade - seja da mais pequena a um país no seu todo, os agentes políticos nessa situação lançam "coisas" para o ar, dando o aspecto que estão muito activos.
Isso é um engodo que aos olhos de alguns parece ouro mas, afinal, brilha pouco mais do que a palha.
O grave disto é quando esta palha cai no lado populista, reflectindo apenas e só o que "o povo quer ouvir" e não aquilo que efectivamente é correctamente pensado e analisado.
Este populismo é tanto mais perigoso quanto maior for o seu transmissor; neste momento o maior transmissor é o Partido Socialista.
( Eu, como oliveirense, até poderia dizer que se reflecte na estrutura nacional e na estrutura local. Mas o populismo socialista oliveirense é de tão baixa índole que não merece uma linha de texto.)
Há dias, António José Seguro propôs a redução do número de deputados à Assembleia. Sem grandes estudos sem grandes explicações.
Numa altura em que se fazem manifestações contra os políticos em geral, é fácil propor isto. É algo que o povo quer ouvir e que o PS, sem apelo nem agravo, deita cá para fora.
Se calhar, mais sensato, seria dizer que seria necessário aumentar os ordenados dos deputados por forma a se atraírem melhores pessoas, mais qualificadas, que fariam um melhor trabalho em prol de todos nós. Mas explicar isso é complicado e não dá votos.
Seguro propõe uma redução do número de deputados a reboque de se gastar menos dinheiro no OE com o funcionamento da Assembleia. Correcto. O que se faz à representatividade? Não respondeu.
Poderemos pensar que a representatividade iria ser assegurada por uma maior proximidade com os cidadãos, em assembleias intermédias. Quiçá com a presença de partidos regionais e listas de cidadãos independentes.
Ou seja, como o PS atirou uma medida "fácil", não explicando a mesma, poderei pensar que o que Seguro queria era apresentar uma Regionalização encapotada e sendo malévolo para com o resto da esquerda, fazendo-a desaparecer da Assembleia, em prol dos seus interesses.
Poderei pensar que esta medida, ao invés da redução dos custos, iria aumentá-los porque seriem necessárias estruturas intermédias para os deputados regionais.
Posso pensar também que estas estruturas necessitam, para além de deputados regionais, de assessores, consultores, juristas de confiança política, sendo necessário pagá-los.
Ou seja, estas estruturas são um excelente campo para nascerem empregos.
Será que, afinal, o que quer Seguro são mais "jobs for the boys" para o PS quando se der uma renovação de ciclo e se faça uma Regionalização?!

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Eanização de Cavaco para salvação do país?

Desde sempre pensei que os presidentes da república iam melhorando ao longo dos mandatos e ao longo do tempo. Assim, teríamos Cavaco como melhor, seguindo-se Sampaio, Soares e Eanes.

Sempre pensei assim porque, tendo eu nascido em 1982, sempre convivi com uma constituição em que os poderes do Presidente eram diminutos se comparados com os do Governo. Sempre encarei a função do Presidente como um tudo ou nada, ou seja, como alguém que pode dissolver a Assembleia e demitir o Governo mas, falando em algo mais prático, de governação, de gestão diária, não pode intervir porque, se assim fosse, arriscar-se-ia a demitir gente todas as semanas e a haver eleições todos os meses.

Por isto é que penso que Cavaco Silva é o melhor Presidente que tivemos até hoje: foi o único que raramente interveio no Governo e, muito menos, na vida partidária.

Num lado diametralmente oposto tivemos Mário Soares que sempre tentou intervir na área da governação, fazendo a única oposição a Cavaco Silva durante quase oito anos, chegando a intervir na vida interna do PS aquando as eleições para Secretário Geral de Vítor Constâncio - contra a posição de Soares - e depois apoiando Guterres contra Sampaio.

Sampaio foi um excelente Presidente durante seis anos de mandato, os mesmo em que Guterres foi Primeiro-Ministro. Tal foi possível porque Guterres tinha tanto de mau Primeiro-Ministro como de bom Presidente, ocultando, inúmeras vezes, Sampaio.

Guterres nunca gostou de decidir e então era vê-lo em tudo quanto era representação do estado português: eram convenções, encontros, cimeiras, festas, etc.. Em tudo onde deveria estar Sampaio, estava Guterres. Onde deveria estar Guterres, estava Jorge Coelho.

Caindo Jorge Coelho caiu Guterres e, poucos meses depois, pudemos assistir a todas as trapalhadas e atropelos cometidos por Sampaio.

De Eanes não tenho memória... Mas cresci a ouvir dizer mal dele, cresci com uma caricatura do António onde estava escrito "Veto logo existo", cresci a pensar que o Almirante Pinheiro de Azevedo seria um excelente Presidente - para mim o primeiro erro político de Sá Carneiro, muito embora tivesse sido uma excelente estratégia para colocar o então PPD do lado dos vencedores.

Eanes, numa altura em que o país tinha acabado de sair da Revolução e da estabilização do 25 de Novembro, numa altura de grave crise financeira e económica - não era uma crise de social e de valores como a que vivemos hoje porque o peso dos 48 anos de ditadura ainda estava muito presente - tendo uma constituição mais favorável ao Presidente ( 1976), sempre interveio em áreas da governação, chamando a si a iniciativa de formar alguns governos.

Não foram governos excelentes mas, à época, dado o tempo político, seria porventura uma opção aceitável.

Hoje estamos numa situação de emergência nacional, mergulhados numa crise financeira, económica, social, de valores e, provavelmente, política. Como não sou sociólogo, não vou falar da crise social e de valores. A crise financeira e económica é visível até para um cego. Por isso vou falar da crise política.

Tivemos um Governo eleito em condições excepcionais, numa altura em que todos já sofriam na pele a má governação socialista, indo a eleições Sócrates e os outros. Felizmente ganharam os outros.
Os outros, sem terem direito a "estado de graça", desde cedo conseguiram mover o povo para um desígnio nacional de sacrifício, pagando os excessos dos últimos anos. A bem ou mal todos aceitaram; muito mais a bem do que a mal.

O problema é que o caminho escolhido ou não foi o melhor ou não foi bem executado e estamos num ponto onde não parece haver solução à vista. Pior do que isso, esse caminho levou a que os dois partidos que compõem o governo tenham entrado claramente em rota de colisão.

Perante isto, o que poderá fazer o Presidente da República? Não fazer nada, dissolver a Assembleia ou manter a Assembleia e optar por um governo de iniciativa presidencial.

Não fazer nada vai fazer com que o povo se recorde de Cavaco como o Presidente que nada fez ( nem de bem nem de mal).

Dissolver a Assembleia vai fazer com que o país pare mais seis ou sete meses devido a eleições, sendo que existirão eleições internas no PS ( António Costa não deixaria Seguro concorrer como candidato a Primeiro Ministro) e no PSD virá ao de cima tudo o que há de mau nas tricas partidárias, com as tropas de Passos Coelho a não deixarem que existam eleições internas, minando tudo.

Assim sendo, a melhor solução seria a de Cavaco Silva chamar a si a responsabilidade de formar um governo. Um governo sério, feito de gente preparada e com provas dadas no lado profissional, quer seja académico, empresarial e associativo. Um Governo de gente que pense que é uma honra poder servir Portugal e os portugueses.

Já que estamos no domínio do hipotético, hipoteticamente esse Governo seria constituído pelos três líderes dos partidos democráticos, salvaguardando que seriam Ministro sem  Pasta.

Depois, mais 13 ou 14 pessoas com a responsabilidade de devolverem a dignidade a Portugal e aos portugueses. Poderiam ser Manuela Ferreira Leite, Miguel Cadilhe, Francisco Assis, Vítor Ramalho, Luís Amado, Bagão Felix, Pires de Lima, Rui Rio, Luís Marques Mendes, Jorge Moreira da Silva, Teresa Patrício Gouveia, Rui Moreira, António Lobo Xavier e Leonor Beleza.

Um Presidente com uma solução para o país e um conjunto de pessoas insuspeitas e com provas dadas. Neste tempo político penso que seria o mais indicado.

Quando? Logo após a aprovação do Orçamento de Estado, não dando hipótese a Passos Coelho de remodelar o actual Governo.

Por Portugal, pelos portugueses, acima de todos os interesses partidários.

domingo, 7 de outubro de 2012

O Fim

"A situação é parecida com a dos últimos dias do Governo Santana Lopes. Parecida, mas longe, muito longe de ser igual. É muito mais grave, mais profunda, e sem aparente saída política de curto prazo em eleições, como acontecia em 2005. Um tempo político acabou em Setembro de 2012, que durava desde o início da primeira década do século, e que se esgotou neste deserto em que parece não existirem forças anímicas na democracia para resolver a profunda crise de representação.

Em 2005, os últimos dias do Governo PSD-CDS começaram com a fuga de Barroso, um acto de grande irresponsabilidade no contexto nacional, depois de uma derrota eleitoral. Os últimos dias do Governo Barroso já são parecidos com todos os dias do Governo Santana Lopes: Barroso preparava-se para despedir Manuela Ferreira Leite e estava convencido que era a política de restrição orçamental que tinha sido responsável pela derrota eleitoral nas europeias. Não me admirava que fosse, até porque o eleitorado em 2009, prevenido da crise que aí vinha, nem por isso deixou de votar em Sócrates, para um ano e meio depois o correr como um vil político que devia ser preso.

Barroso, que começou bem ao dizer que o "país estava de tanga", identificou o risco que a herança de Guterres lhe tinha deixado. Tenho há muito tempo a convicção que foi o tandem Guterres-Pina Moura o primeiro responsável da crise actual, porque o tempo político que conduziu ao pântano começou aí. As tentativas de puxar para trás a crise para comprometer Cavaco ou "todos os Governos desde o 25 de Abril" tratam tempos políticos, económicos e sociais distintos, metendo-os no mesmo saco. Pode ser útil para a propaganda, ou para uma narrativa ideológica do "Estado despesista", mas é pouco fundado nos factos. Uma coisa que é preciso nunca esquecer é que os tempos em política são diferentes e que isso não se vê apenas nas estatísticas económicas.

Na verdade, o tempo que tem sequência até ao anúncio da TSU em Setembro, começou com o "pântano" guterrista e corresponde à noção de que se estava a abrir um abismo entre a necessidade de controlar a despesa do Estado e os bloqueios vindos da partidocracia, do sistema político-constitucional e das escolhas eleitorais dos portugueses. Guterres percebeu-o tarde e foi-se embora. Barroso ainda deu um tempo a Manuela Ferreira Leite para começar a combater os motivos da "tanga" e depois tirou-lho por razões eleitoralistas e de gestão da sua carreira pessoal. Esta foi a primeira tentativa falhada de inversão. A segunda veio dos primeiros anos de Sócrates, entre 2005 e 2007, teve algum sucesso, e embora a dimensão desse sucesso tenha números exagerados, nem por isso deixou de ser meritória. O mesmo Sócrates, que veio mais tarde a rebentar com as finanças públicas, começou como disciplinador do défice. E por aqui se ficaram as tentativas ocorridas no tempo político que vivemos até 2011, de inverter uma situação de corrida ao desastre.

O espectáculo da governação neste último mês é de facto penoso de se ver. No momento em que escrevo, o primeiro-ministro anda fugido de aparecer em público nas comemorações de 5 de Outubro para evitar ser vaiado, e evitou cuidadosamente "dar a cara", como tinha prometido de peito cheio, para anunciar as "más notícias". Um brutal pacote fiscal, já bem dentro do terreno do puro confisco, foi anunciado por um ministro das Finanças que fez uma declaração de amor aos portugueses que se manifestaram chamando-lhe a ele e aos seus colegas de Governo "gatunos". Sacher-Masoch explica isto muito bem.

No Parlamento, durante a discussão das moções de censura, o ambiente de fim dos tempos era evidente. Quebrando uma regra protocolar substantiva, o primeiro-ministro recusou-se a responder individualmente aos dirigentes dos partidos que apresentaram a censura, Jerónimo de Sousa e Louçã. Não há outra explicação senão aquela que alguns deputados gritaram: "Tem medo!". E é de ter medo, porque o bom senso terra a terra e a genuína indignação de Jerónimo de Sousa, junto com a retórica parlamentar de Louçã, são poderosos face a um político acossado como é hoje Passos Coelho.

Na mesma sessão, Paulo Portas fez questão de deixar bem claro que a coreografia do entendimento ocorrida há dias entre CDS e PSD é pouco mais do que isso e que a coligação se apresenta em público rasgada sem disfarces. Tinha no dia anterior recebido uma bofetada de luva preta quando Gaspar falou do "enorme aumento de impostos", como se atirasse a Portas uma resposta pública à sua carta aos militantes dizendo "ai sim, não querias um aumento de impostos, pois leva lá um enorme aumento de impostos".

Na bancada, Passos e Relvas riam-se quando Honório Novo, do PCP, confrontava Portas com o seu "partido de contribuintes". Ao lado, estava Álvaro Santos Pereira e um Governo que uma "fonte próxima do primeiro-ministro" - o que, em linguagem jornalística, significa ou Passos Coelho ou alguém mandatado por ele - ter dito ao Expresso que era para remodelar o mais depressa possível. E Álvaro Santos Pereira, nomeado individualmente pela mesma "fonte", continua ali, impávido e sereno.

António Borges somou apenas mais algumas palavras furiosas ao tom revanchista que perpassa em todo o discurso governamental, um remake dos empurrões na incubadora de antanho: são os empresários "ignorantes" que não "perceberam" a "inteligência" da TSU; são os juízes do Tribunal Constitucional que chumbaram a meritória retirada de dois meses de salário à função pública, para protegerem os seus proventos pessoais; são os funcionários públicos que "vivem" como "cigarras", alimentando-se do trabalho das "formigas" privadas e que, se pensam que escapam, estão bem enganados. Um gigantesco "é bem feito" é dito todos os dias pelo Governo ao país. O país retribui em espécie. Depois disto tudo, não adianta queixarem-se de que as pessoas se distraem com faits-divers em vez de irem ao fundo da questão, porque cada vez mais os faits-divers são o fundo da questão, porque não há mais nada.

O Presidente está perdido no seu labirinto e tem apenas uma tentativa possível, aquilo que impropriamente se designa por "governo de salvação nacional", que é hoje mais provável do que há um ano e que pode vir a ter um escasso tempo útil no meio do desespero vigente. Teria que ser mesmo feito pelo Presidente, fora da partidocracia actual, com acordo parlamentar escrito e assinado por parte do PS, PSD e CDS que lhe desse legitimidade democrática, com um compromisso mais alargado do que o deste Governo. Esse acordo deveria incluir, preto no branco, todas as medidas julgadas necessárias para cumprir o memorando da troika, algumas que deveriam ser renegociadas sem pôr em causa os compromissos de fundo com os nossos credores.

Esse Governo teria como prazo-limite o fim da intervenção estrangeira, que é o seu principal objectivo, e deveria, a seguir, haver eleições. A austeridade não acabava, podia até estabilizar-se num patamar superior, mas teria que absolutamente ter um prazo, no fim do qual começaria a abrandar. Todas as medidas de emergência deveriam ter um prazo vivido, 2014 por exemplo, porque prazos vagos e indefinidos, ou de dez anos para cima, não são "vividos" e geram uma síndroma de Sísifo: nenhum sacrifício parece ter resultado. As palavras, demasiado repetidas, de que um político "responsável" não fala em prazos, não servem para os dias de hoje e são desresponsabilizantes. Hoje, os portugueses precisam, para retomar alguma confiança, de prazos que responsabilizem os políticos.

Não é uma solução perfeita, longe disso. Não tenho dúvidas de que os partidos farão tudo para a torpedear, mesmo que aceitem em desespero de causa. A mediocridade das carreiras políticas no PSD e no PS seria seriamente posta em causa se um Governo destes se revelar eficaz, a extrema-esquerda combatê-lo-ia sem tréguas, mas não vejo outra possibilidade de dar esperança aos portugueses e restaurar alguma confiança. É verdade que muita coisa de urgente não poderia ser feita por uma solução deste tipo: alterar a Constituição, promover um combate eficaz à corrupção, introduzir legislação que inverta o processo de domínio partidocrata, como seja a possibilidade de grupos de cidadãos concorrerem ao Parlamento, a colocação dos nomes das listas partidárias por ordem, etc. Mas muitas outras medidas podem e devem ser tomadas.

A alternativa a uma solução presidencial deste tipo acabará por ser novas eleições sem garantia de governabilidade nos seus resultados, até porque na actual configuração parlamentar não vejo qualquer possibilidade de haver uma solução que substitua a desagregação acelerada da actual governação. O que não pode continuar é o que está, embora também saiba que o apodrecimento dura demasiado tempo e muitas vezes acontece por apatia e interesse egoísta, e depois parte-se para o que já é inevitável há muito tempo, tarde de mais. Esta responsabilidade, a seu tempo, ou seja, em breve, o Presidente não a pode falhar. É coerente com o mandato que procurou e recebeu e com o seu entendimento do papel presidencial. Se não o fizer, e há-de haver uma altura em que até o PSD e o CDS o pedirão, acabará a presidir ao apodrecimento, com ele como parte do problema, por omissão. Vamos ver.
"

(José Pacheco Pereira, Versão do Público de 6 de Outubro de 2012.)

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Discurso proferido na entrega de prémios de mérito escolar do Rotary Club de Oliveira de Azeméis


Imaginem um caminhante, de botas impermeáveis nos pés, com roupa confortável, chapéu, uma mochila que contém comida e agasalhos. Imaginem esse caminhante a percorrer um caminho, ao longo de um rio, perto do sopé de uma montanha. Outros caminhantes acompanham o nosso homem…

Entretanto o caminho vai estreitando e a caminhada em grupo começa a ser de difícil progressão… Passados uns tempos, começar a subir.

Com a subida vem o calor inicial, fazendo-o ir buscar água à mochila. Depois cai a chuva, tornando o percurso melancólico. As roupas colam ao corpo devido à água e só um agasalho mais forte o consegue deixar de pensar nas adversidades. Mais uns passos e tem fome. Socorre-se novamente da mochila.

Aparecem animais rasteiros, coelhos mas também lagartos e pequenas cobras que causam alguma estranheza para, de seguida, virem animais de grande porte e as aves de rapina que obrigam a uma atenção redobrada e a uma corrida cheia de adrenalina!

A subida continua e agora é o frio que incomoda o caminhante. Saem umas luvas e um cachecol da “casa ambulante” que leva às costas. Quando se habitua ao frio, quando a neve já não incomoda, vem a solidão.

Quase a chegar ao topo, já a grande altitude, falta o oxigénio, aquele bem tão essencial que nem damos conta… mas o homem, a respirar mal, cansado, com a roupa num estado bem diferente daquele que estava no inicio da subida, continua, gasta as ultimas forças e continua.

Chegou ao topo!

No planalto olhou e viu apenas o céu azul: nem uma nuvenzinha a separar o homem do universo infinito que se lhe depara.

Aquele homem, aquele caminhante, são vocês: catorze alunos brilhantes, apoiados numa mochila, no calçado confortável e na força de vontade, capazes de atravessarem todas as dificuldades em prol de um objectivo.

Parabéns!

Estando na presença de pessoas de jovens brilhantes, cometo a ousadia de citar Oscar Wilde:

'É absurdo falar da ignorância da juventude. Hoje em dia só tenho algum respeito pelas opiniões das pessoas muito mais novas do que eu. Parecem-me estar à minha frente. A vida revelou-lhes a sua última maravilha. Quanto aos velhos, contradigo-os sempre. É uma questão de princípio. Se lhe pedirmos opinião sobre uma coisa que aconteceu ontem, eles dão-nos solenemente as opiniões correntes em 1820, quando as pessoas usavam golas altas, acreditavam em tudo e não sabiam absolutamente nada...'

Parabéns, vocês são os líderes do amanhã.

E agora?!

Cada um de vós é o melhor aluno da vossa escola. Não chega?! Não, porventura não.

O mercado de trabalho, pela crise que vivemos, pelo número cada vez maior de quadros médios e superiores, é uma malha cada vez mais estreita e, infelizmente, o desemprego nos jovens licenciados é cada vez mais elevado.

Talvez por isso, quando íamos às vossas casas anunciar que iriam receber o Prémio de Mérito Escolar, ouvimos os vossos pais, muitas vezes, a lamentarem-se do grande esforço que fizeram, e de toda a vossa dedicação para, provavelmente, terem que ir prosseguir a vida profissional no estrangeiro.

Vão.

Somos portugueses e historicamente tivemos sempre uma ambição muito maior que aquilo que este pequeno território nos pode oferecer. Por isso fizemos coisas grandiosas e demos “novos mundos ao mundo”.

Se não fosse esta ambição das “cabeças pensantes”, de gente tão extraordinária como vocês, nunca tínhamos vencido em Aljubarrota, nunca teríamos chegado a Ceuta, nem à Índia, ao Brasil ou a Macau. Nunca teríamos construído este verdadeiro império de cultura, de Camões a Mia Couto, do Padre António Vieira a Vinícius de Morais, de Pessoa a Pepetela, baseado na língua portuguesa e que abrange 250 milhões de pessoas em todo o mundo.

Este mundo da lusofonia é o vosso primeiro mercado de trabalho.

Por isto que referi, pela nossa história, por algo superior a nós - porque já está no nosso sangue - digo: “vão”.

E também digo “ mas voltem”. Saiam bons de Portugal e regressem como os melhores.

Antes dos descobridores irem para África, Ásia e América, Portugal era um país remediado, confinado a um espaço entre a Serra da Estrela e o Atlântico, do Rio Minho até aos Algarves. Depois das descobertas e por um período de 75 anos, antes do catolicismo atroz implementado por D. Manuel I, Portugal foi a nação mais poderosa do mundo.  

Tenham sempre isto em mente: vão viver o mundo, vão beber a cultura dos outros povos e enriqueçam como pessoas, como profissionais e, claro está monetariamente. Façam isso e depois voltem.

Voltem porque as vossas famílias, os vossos pais, irmãos, tios, avós, necessitam de vocês.

Voltem porque as empresas portuguesas necessitam de mais e melhores quadros e vocês, pelo vosso percurso, devem ajudá-las.

Voltem porque o país necessita de mais e melhores pessoas.

O lema de Rotary é “ dar de si antes de pensar em si”. Penso que é um lema que não se deve aplicar apenas a Rotary mas a toda a vida comunitária sã. Por isso voltem porque a vossa terra necessita de vocês, as associações necessitam de gente que dê o exemplo de trabalho e de conquista e que esteja disposta a ajudar os outros.

Voltem para a associação cultural, para o clube desportivo, para os partidos políticos.

Como iniciei com Oscar Wilde “Hoje em dia só tenho algum respeito pelas opiniões das pessoas muito mais novas do que eu. Parecem-me estar à minha frente.”.

Parecem-me estar à minha frente um grupo de académicos brilhantes que têm tudo para serem profissionais empenhados e pessoas dignas.

O futuro pertence-vos e são vocês os donos dele.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A/c dos Senhores de cabelos brancos


Que muita falta fazem pois têm conhecimento e mundo.