segunda-feira, 29 de abril de 2013

Acabado de chegar a Portugal...

... digam-me uma coisa porque eu ainda não percebi:

vamos ter eleições em breve?


















Ou já foram?

quinta-feira, 25 de abril de 2013

terça-feira, 16 de abril de 2013

Serviço-público

O direito à informação está consagrado a todos os portugueses. É serviço-público dar essa informação.
Joaquim Vieira fê-lo.

domingo, 14 de abril de 2013

e a Merkel

"Estou, Zé? É a Ângela! Eu sempre te apoiei, tu sabes."

JP Sá Couto ainda mexe

É com um sorriso, quiçá beneplácito da sua vontade, que Cristina Esteves ouve Sócrates gabar-se do seu Magalhães, um sucesso na Venezuela, em toda a América do Sul e também na polícia inglesa.
Será que sou só eu que não vejo grande utilidade/ inovação na coisa?!

A mercearia - 13


Eu gosto de cidades e, de igual forma, gosto de aldeias e pequenas vilas. Não gosto das duas por igual ao mesmo tempo porque não me consigo refugiar nelas em tempos iguais. O que eu não gosto, mesmo nada, são cidades que parecem aldeias, que perderam – ou nunca tiveram – o cosmopolitismo necessário para ser cidade ou, de igual forma, aldeias que mais parecem cidades, que ao invés de um baixo casario apresentam construções em altura e uma vivência plástica. Neste caso passamos de uma rusticidade típica a um provincianismo bacoco, tentando imitar – mal – o que se passa “lá fora”.

As cidades, as verdadeiras, as cosmopolitas, que têm história a trespassar as ruas, são caracterizadas pelas enormes opções de trabalho, cultura, diversão, recriação e espaços verdes. Centremo-nos aqui, nos espaços de lazer e diversão arborizados, de extrema importância para renovar o ar atmosférico, criar zonas de sombra nos meses mais quentes e capazes de albergar pequenos pássaros.

Se pensarmos na cidade mais próxima de Oliveira de Azeméis, o Porto, temos bairros típicos que contêm pequenos jardins e zonas arborizadas. É assim em S. Lázaro, na Cordoaria, o Palácio de Cristal, a Praça Francisco Sá Carneiro, Praça de Liége, Arca d´Água, Praça da República, etc.. Só depois surgiu o Parque da Cidade.

Se pensarmos em Lisboa, entendemos a cidade de igual forma, com pequenos jardins que vão desde Campo de Ourique à zona reabilitada da Expo, sem esquecer, claro está, Monsanto.

Por esse mundo fora, cidades como Londres, Berlim, Karslruhe, Bruxelas, Brasília, Washington, Oslo, etc., têm pequenos jardins, pequenos espaços de lazer, por cada bairro.

Retomando a nossa pequena escala oliveirense, foi apresentado pela Câmara Municipal o projecto Parque dos 11, que visa a reabilitação da Feira dos 11: um espaço outrora importante para o comércio oliveirense mas desde há muitos anos transformado num parque de estacionamento desordenado, cheio de equipamentos avulsos e com árvores em avançado estado de degradação, que apenas por sorte, não provocaram um acidente, tendo sido necessário o seu abate.

O projecto apresentado para o Parque dos 11 tem como conceito principal a vivência ao ar livre e a prática desportiva, interligado através de um percurso associado a um ginásio e a um circuito de manutenção. Terá um grande espaço relvado, sendo uma área multiusos capaz de albergar várias funções – lazer, estadia e recreio. Para contemplação, uma grande banqueta, permitindo uma visão periférica de todo o espaço.

O que foi proposto e debatido foi uma requalificação do actual espaço, tendo em conta o período de audição pública que decorreu até 15 de Março, criando pela primeira vez um verdadeiro espaço de lazer naquela zona da cidade, contemplando o uso dos outros equipamentos aí existentes, e pensado nas pessoas.

Serão plantadas o dobro das árvores que existiam, Bétula Alba, uma espécie autóctone, portuguesa. Serão igualmente plantados hydrangeas e cornos alba, que darão ao parque tonalidades brancas, na primavera, e avermelhadas no outono. O espaço será intervencionado e dará vida a Oliveira de Azeméis!

Ficou-se também a saber que a médio prazo os passeios da cidade serão repensados, intervencionados e arborizados, por forma a dar beleza à cidade e a criar pontos de ligação entre os vários espaços verdes, como sejam o Parque dos 11, o Jardim Público, Praça da Cidade, Av. D. Maria, a Alameda em frente à Escola Soares de Basto e, claro está o ex-libris, Parque de La-Salette.

Neste conjunto de espaços intervencionados, não podemos esquecer igualmente as margens do rio Caima, em Palmaz, o Parque Molinológico de Ul, espaços intervencionados em S. Roque, a praça em Carregosa, etc..

Ou seja, Oliveira de Azeméis, a cidade e o concelho, estão a criar pequenos espaços verdes que têm a capacidade de proporcionar momentos de lazer em família, contemplação da natureza e a prática desportiva, a exemplo das grandes cidades mundiais.

Após esta intervenção e os melhoramentos que se pretendem nas ruas e passeios, Oliveira de Azeméis poderá pensar num Parque da Cidade, a exemplo do Porto, a exemplo de Lisboa e de outras cidades. Só o deverá fazer nessa altura porque caso contrário poderá cair num provincianismo bacoco, visto bem perto de nós, de termos cidades com grandes parques da cidade mas não existindo espaços de proximidade com as zonas residenciais.

Na mesma semana que a arquitecta Maria Luís Gonçalves, em nome dos técnicos da Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis, apresentou o projecto Parque dos 11, Gonçalo Ribeiro Telles, o mais conhecido e conceituado arquitecto paisagista português foi galardoado com o Prémio Sir Geoffrey Jellicoe, o “Nobel” da arquitectura paisagista. Este prémio, que deve enobrecer todos os portugueses, é a prova do valor dos nossos arquitectos e das nossas escolas de arquitectura e mostra, também, como a organização do território contemplando espaços de lazer em comunhão com a natureza é cada vez mais actual.

Para terminar apenas duas notas: a primeira, de apreço, para com Leonel Martins da Silva, uma voz sempre a ter em conta no universo socialista oliveirense, que ouviu a explicação do projecto, parabenizou-a e deu sugestões válidas para o médio-prazo.

Em sentido inverso, depois de tanta tinta que correu nos jornais e caracteres gastos no Facebook e Twitter, não vi na sala nenhum dos “grandes oliveirenses”  que falaram de tempos idos – da sua meninice e juventude, do preservar a memória histórica de um povo nem que fosse apenas um “cancro” na cidade-, que criticaram a Câmara Municipal pelo abate das árvores, que disseram cobras e lagartos do poder executivo camarário. Ninguém. Afinal, nunca lhes ocorreu no pensamento a melhoria da Feira dos 11, nunca a segurança pública oliveirense foi motivo de preocupação: o que fizeram foi, tão e só, escárnio e maledicência gratuita, numa necessidade atroz de serem do contra e de aparecerem na comunicação a dizer qualquer coisinha.

Duas coisas que não combinam na mesma frase

António José Seguro afirma que tem um apoio genuíno dos socialistas, quando obtém 96 % dos votos.
Isto é algo típico nas ditaduras, não nas instituições democráticas.

Uma decisão sensata

"RECOMENDAÇÃO

Considerando a muito exigente conjuntura financeira e socioeconómica que afeta Portugal e os Portugueses e tendo em conta a nova legislação relativa ao financiamento dos partidos políticos e das campanhas eleitorais (Lei n.º 1 de 2013);
O Conselho Nacional do PSD, reunido a 13 de Abril de 2013, sob proposta da Comissão Política Nacional, recomenda:
- Que as candidaturas às próximas eleições autárquicas adotem uma redução não inferior a quarenta por cento nos respectivos orçamentos de campanha, evidenciando um esforço acrescido de contenção de despesas que se impõe na conjuntura actual.

O CONSELHO NACIONAL"

A quadrilha dos aparelhos partidários

"O aparelho do PSD não gostou da nomeação de Miguel Poiares Maduro. Não lhe interessa as competências do novo ministro, nem nada que tenha a ver com o conhecimento dos dossiês ou a dedicação ao país. Apenas se preocupa com este ponto: o novo ministro não percebe nada de PSD e vai ter o dinheiro do QREN que vem da Europa.
O aparelho criticou ainda a nomeação de um secretário de Estado (António Leitão Amaro) que, sendo do PSD, não é da linha de Passos Coelho, uma vez que apoiou Paulo Rangel. Ou seja, nem o ministro nem o secretário de Estado conhecem suficientemente as subtilezas do apoio que necessita o presidente da Junta X, que traz 12 votos e meio para o Congresso, e também se torna decisivo para a eleição do presidente da Distrital Y, o qual tem sólidas esperanças de ser nomeado presidente de um Instituto, onde terá a oportunidade de trocar os favores de um QREN por uma coisa qualquer. (Isto também explica a quase unanimidade do nostálgico voto de louvor a esse grande Relvas, que nunca hesitou em pôr o partido à frente dos interesses do país).
Outro aparelho, o do PS, reelegeu António José Seguro líder do partido, ao que parece com mais de 95% dos votos. Como se vê, é falsa a existência de quaisquer divisões dentro do PS, ou nada representam aqueles que passam a vida a dizer mal do secretário-geral socialista.
Em cada eleitorado aparelhístico há uma pequena Coreia do Norte que ama o seu grande líder.
Esta gente, estas autênticas quadrilhas têm um papel mais pernicioso na política atual que a corte tinha nas monarquias absolutas. Um desafio importante é saber como nos podemos livrar desta canga."


Henrique Monteiro in Expresso

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Miguel Poiares Maduro

Sobre o indigitado ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional, Miguel Poiares Maduro, deixo aqui as palavras que proferi sobre ele, aquando a celebração dos 40 anos do Expresso.

terça-feira, 9 de abril de 2013

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Apenas um tributo


Uma Grande Senhora


Por que não saímos da cepa torta

" Não há melhor exemplo da miséria da nossa vida pública, na sua versão mediática, do que o facto de José Sócrates ser a sua figura dominante num dia só, quanto mais por meia dúzia de dias. Isso, sim, é que é revelador e preocupante, não a figura do antigo primeiro-ministro, ou, acima de tudo, o que ele disse ou possa vir a dizer, e muito menos a sua putativa futura vida política, que, qualquer pessoa com um mínimo de bom senso e conhecimento da realidade sabe que, se passar pelo voto, tão cedo não existe. Mas a cerimónia colectiva de incomodidade e embasbacamento com a entrevista, essa sim, é um péssimo sinal da anomia dos nossos tempos e das fortes correntes de nostalgia e radicalismo que a atravessam.

Tudo isso explica o "efeito Sócrates", tão intenso quanto é nula a importância do que disse, um remake da série de obsessões, mentiras e falsificações de números, estatísticas e factos, que tiveram um papel muito relevante no agravamento da crise do país e em colocá-lo numa situação de bancarrota. Sim, porque, com mais ou menos "narrativa", a acção de Sócrates como primeiro-ministro conduziu o país a um abismo. E sobre isso não se soube nada de novo. Pior: confirmaram-se todas as suspeitas do que ele nos tinha feito e continua capaz de fazer.

Se o fez por ser um "animal feroz", ou por ter aquela determinação cega que ninguém lhe nega e tão evidente foi na entrevista, eu ainda me preocupo mais, porque o teor autoritário e dominador da personagem junto dos espíritos fracos foi uma razão do seu sucesso político. Se ser "animal feroz" foi ou é qualidade, então essa qualidade serviu para nos atirar a todos para uma crise maior e sem fim, quando podia ser bem mais pequena e moderada nos seus efeitos. O radicalismo que a reacção a Sócrates revela numa parte da opinião pública e publicada, poderia ser a descoberta do populista salvífico que muitos esperam, se não fosse tão viva a memória das suas malfeitorias. É porque não quero que essa memória se esvaia, na fácil máquina de esquecimento que é a comunicação social, que também aqui o trato como assunto, porque o mal que ele traz alimenta-se do silêncio, não da fala.

Este homem foi um perigo, ajudou, e muito, a afundar-nos colectivamente, e seria hoje de novo um perigo, se não houvesse tão recente e viva memória dos seus "feitos". Mas o que é interessante é perceber que dele não nos defenderam muitos dos iluminados da nossa praça, à direita e à esquerda, como agora também não seriam capaz de o fazer. A razão por que me preocupa a reacção à entrevista é esta: este homem seria o populista ideal, e muita gente abre-lhe alas, apenas porque ele fala alto e grosso, num mundo em que Seguro é o que é e Passos e Relvas são que são e não suscitam nem temor, nem entusiasmo. Apenas tédio e preocupação. 

Quando falei da nostalgia que alimenta esta reacção à entrevista foi disso mesmo: a direita precisa de um inimigo e trata-o como a quinta-essência das malfeitorias da esquerda, coisa a que nunca pertenceu, porque precisa de encontrar identidade pela construção de um adversário. Sócrates é o adversário ideal, e é por isso que foi com a sua colaboração e assentimento que o Governo lhe abriu as portas da "sua" televisão. Para além disso, calcula que, por muito que possa vir a ser atingido por um ou outro remoque certeiro, Sócrates será um problema essencialmente para o PS. Os estragos que Sócrates possa vir a fazer ao Governo serão sempre entendidos como danos colaterais, aceitáveis pela enorme vantagem de ele impedir, pela sua mera existência semanal na televisão, a consolidação da liderança de Seguro. Por outro lado, a vendetta pessoal de Sócrates contra Cavaco é também bem-vinda, porque, para o grupo à volta de Passos Coelho, Relvas, Menezes e Ângelo, colocar o Presidente na ordem é uma necessidade estratégica. E pensa, e bem, que não será possível a Sócrates no seu comentário escapar à "síndroma" de Santana Lopes em que qualquer coisa discutida em 2013 vai dar, por volta da terceira frase, à incubadora, ou, no caso de Sócrates, aos eventos de 2011 e à contínua autojustificação de tudo pela traição alheia.

O mesmo fenómeno de nostalgia e radicalização existe à esquerda. A esquerda, principalmente a que está órfã no PS de Seguro, enfileira atrás daquilo que pensa ser um cabo de guerra a sério e não de um clone com falinhas mansas. Há demasiada orfandade na actual "oferta"política para deixar um lugar para Sócrates e ele ocupa-o não porque queira o lugar de Seguro, mas também porque, para ele, as dificuldades de Seguro serão a sua versão dos danos colaterais. O "animal feroz" para "tomar a palavra", que nele significa o mesmo que "tomar um castelo", sabe que prejudica Seguro, mas é suficientemente obcecado com a sua pessoa e a sua missão para não se preocupar com isso.

A comunicação social, com quem Sócrates manteve uma relação muito próxima até ao momento em que iniciou a sua queda, quando, à maneira portuguesa, todos os que lhe apararam o jogo, o começaram a calcar com a mesma veemência com que o adulavam, gosta de festa e Sócrates dá-lhes festa. Este homem que, como Relvas, mas com muito mais poder e cumplicidades, usou todos os meios ao seu alcance para afastar os jornalistas que se lhe opunham e punir todos os que o afrontavam, volta hoje a ser tratado com a mesma complacência com que se aceitavam sem questionar os seus anúncios propagandísticos e sua contínua manipulação dos factos e estatísticas. O modo como se menoriza o próprio conteúdo da sua entrevista - insisto um remake sem novidades de tudo aquilo que andou a dizer em 2010-11 -, em detrimento do folclore do seu "efeito", mostra isso mesmo.

A história da "narrativa" é reveladora. Sócrates apresentou-se como pretendendo combater a "narrativa" que a direita fazia da sua governação e queda, opondo-lhe a sua própria "narrativa". Esta história das "narrativas", um modismo para designar uma construção ficcional de eventos, preso exactamente pelo fio da narrativa, é atractiva porque procede a uma selecção de factos, moldados pela sequência cronológica escolhida, que pode não ser a que aconteceu, e pela eliminação dos "factos-problema", que podiam prejudicar a clareza ficcional da história. Na sua "narrativa", Sócrates coloca o seu principal motor interior, a sua vontade, cuja determinação varreu com tudo, bom senso, estudo, conhecimento, verdade, atenção ao real, custos, condições, tudo. E levou-nos ao que se sabe.

É, no fundo, um argumentário político, que pode ter uma maior ou menor aproximação à realidade ou à ideologia, e que serve como discurso de justificação, mas não é, nem foi, o que aconteceu, não é a realidade, nem a verdade. Não foi o que aconteceu nem na "narrativa" contra Sócrates, nem na do próprio Sócrates. Mas a escolha por Sócrates desta figura da "narrativa" mostra como, para ele, os factos contam pouco, mas sim o conflito mediático entre interpretações, o que é consistente com a recusa que sempre teve da palavra "verdade" no vocabulário político. Ele não diz "no que aconteceu", mas sim "na narrativa do que aconteceu". Há quem ache que isto é que é a essência do "discurso político", a moldagem da realidade pela vontade política. Sócrates era desta escola, uma variante mais animada do que a moldagem da realidade pelas folhas de Excel, mas em ambos os casos com efeitos desastrosos. 

Aliás, Sócrates deu muito poucos factos, e os que deu estão manchados, por serem falsos (a escolha de números e estatísticas manipuladas, uma sua pecha de sempre) ou poderem ter uma outra leitura e interpretação. Por exemplo, a aprovação do PEC IV, com o apoio europeu (desvalorizado na "narrativa" da direita), que tipo de ajudas garantia para Portugal? Desconhece-se. Essas ajudas poderiam sobreviver à crise grega e à subida exponencial dos juros nos mercados, sem darem origem a um qualquer "plano de resgate"? Duvido. Por aí adiante. Como é que se poderia manter um primeiro-ministro que, no momento em que mais precisava de alargar a sua base de apoio, à frente de um Governo minoritário, hostilizava tudo e todos? Por aí adiante. Nada foi verdadeiramente explicado na sua "narrativa", que, no essencial, nos mostrou o mesmo homem que nada aprende, nada esquece, e cuja vaidade e vontade varrem tudo à frente.

Não foi a entrevista que foi interessante. Foi o seu efeito. O sucesso do retorno de Sócrates não é o sucesso do governante de 2005-2011, nem a sua reabilitação, mas o sucesso do populismo e da orfandade do país político de 2013. Faz uma diferença. Faz toda a diferença."
 

terça-feira, 2 de abril de 2013

A merceria - 12


A semana passada foi profícua em acontecimentos políticos: foi a possível remodelação e a decisão do Tribunal Constitucional sobre o Orçamento de Estado, foi, porventura porque estávamos na altura da quaresma, o ressuscitar de Sócrates e dos velhos fantasmas, foi a carta de Silva Peneda.

Do primeiro caso, há muito que sabem o que eu penso.

Do segundo, Sócrates e a TV são dois bichos indissociáveis e há muita gente que sabe isso… Tanto que o aparecimento de Sócrates fez esquecer o primeiro acontecimento político e apontou armas a outro alvo, dando jeito a muita gente.

O terceiro, para mim de longe o mais importante e o menos falado, foi a carta de Silva Peneda dirigida a Wolfgang Schäuble, Ministro das Finanças alemão. Digo que foi o mais importante porque numa altura de crise social, económica e financeira, alguém de renome e com responsabilidade no Estado Social – Silva Peneda é Presidente do Conselho Económico e Social e foi Ministro do Emprego e da Segurança Social em dois governos de Cavaco Silva – dirige-se de forma aberta e frontal ao, porventura, maior decisor financeiro da Comunidade Europeia, exigindo-lhe, acima de tudo, respeito por milhões de pessoas em Portugal, Grécia, Chipre, Espanha, Irlanda e Itália que estão a passar dificuldades.

Silva Peneda,na sua Carta Aberta protestando contra a afirmação do alemão, que disse, “Sempre foi assim. É como numa classe [na escola], quando temos os melhores resultados, os que têm um pouco mais de dificuldades são um pouco invejosos", escreveu “O sentimento de inveja anda normalmente associado a uma cultura de confrontação e não tem nada a ver com outra cultura, a de cooperação”, explicando de seguida a sua posição usando palavras de Francisco Lucas Pires; poderia ter ido buscar palavras de Konrad Adenaeur – primeiro Chanceler da Republica Federal Alemã e um dos pais fundadores da Comunidade Europeia - que diriam mais ou menos o mesmo: o grande objectivo europeu é o garante da paz, do crescimento e prosperidade e aí não cabem sentimentos de inveja ou de superioridade.

O social-democrata tomou a posição que deveria ter sido exigida a Sócrates, Teixeira dos Santos, Passos Coelho, Gaspar e a muitos eurodeputados que, em contraponto com os euro-cépticos do Tratado de Lisboa, se transformaram em euro-arregimentados: exigiu respeito porque “ ironia, própria dos que se sentem superiores aos outros, não é de todo compatível com a cultura de compromisso que tem sido a matriz essencial da matriz da construção do sonho europeu dos últimos sessenta anos.”.

Silva Peneda, uma pessoa muito próxima do Presidente da República, tomou a posição que muitos deveriam ter tomado e que o Presidente, por razões institucionais, não pode fazer; mostrou a sua grande grandeza.

Com o regresso de Sócrates volta-se a falar das presidenciais de 2016. O mainstream aponta para Guterres e Sócrates à esquerda e Durão e Marcelo à direita. Vivem-se tempos políticos conturbados onde as pessoas não acreditam nos políticos – já passaram a fase de olharem com desconfiança. É necessário encontrar pessoas, Homens, que fazem política pelas populações e não para se servirem delas.

Em 2011, após as presidenciais, apontei António Barreto como sendo o grande candidato do centro a ocupar o lugar de Presidente; nestes dias tem emergido outro, um pouco mais à direita: Silva Peneda.

in Politica Queira Mais