domingo, 17 de agosto de 2014


Um exercício em hora de despedida

Como despedida - este blog e o seu propósito terminaram há bastante tempo atrás - deixo-vos um pequeno exercício: preencham os espaços entre (...) com os nomes ou associações que vos apetecer. É-vos familiar?!

" - (...) - disse-, espero bem que todos os (...) desta (...) dêem o devido valor ao sacrifício que o (...) faz ao arcar com este trabalho adicional. Não pensem, (...), que a liderança é um prazer! Pelo contrário, é uma enorme responsabilidade, bem pesada. Ninguém acredita mais convictamente do que o (...) na igualdade entre todos (...). Ele teria todo o gosto em deixar-vos tomar as vossas decisões sozinhos. Mas correríamos o risco de vocês tomarem decisões erradas, (...), e depois, o que seria de nós? Imaginemos que vocês tinham decidido ir atrás das ideias de (...), com as suas fantasias sobre (...)... (...) esse que, como agora bem sabemos, não passava de um criminoso...
- Ele combateu com bravura na (...) - interveio alguém.
- A bravura não chega - disse (...). - A lealdade e a obediência são mais importantes. E quanto à (...), parece-me que ainda havemos de descobrir que o papel de (...) nesse combate  foi alvo de grandes exageros. Disciplina, (...), disciplina de ferro! Eis a nossa divisa nos tempos que correm. Bastará um passo em falso e os nossos inimigos cairão sobre nós sem dó nem piedade. De certeza, (...), que nenhum de vocês quer ver o (...) de regresso, pois não?!"*


* Extraído de " A quinta dos animais", George Orwell, tradução de Paulo Faria para a Antígona, 2ª edição, Maio de 2013

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Memórias de Orwell

"Novo Banco" - o nome, o conceito ainda não sei - faz-me lembrar, invariavelmente, Orwell ou Moore.
Tenho medo de pensar que, por desculpa do descalabro financeiro e económico de Portugal e dos Povos do Sul,  alguém pense uma entidade superiora para nos gerir politicamente.
Os neo-liberais com fundamentos Marxistas, como Maçães ou Maduro, já terão tido essa ideia?!
(ou é um filme que já aconteceu!)

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O país e a sua realidade - II

Vamos construir um estereótipo: o português-tipo é do Benfica e gosta de estar informado sobre desporto, vê a TVI e tem um interesse particular pela Casa dos Segredos, tem a série de televisão Game of Thrones no topo da sua lista de preferências, veste Zara, faz compras na Worten e quer um iPhone e um Mercedes, ouve a música do momento, está no Facebook, lê A Pipoca Mais Doce, gosta de blockbusters, tem um fraquinho por bolos de chocolate e de iogurte, está a ponderar uma visita a Angola e quer saber mais sobre Érica Fontes."

Hugo Torres, in Público

O país e a sua realidade - I

Vemos a cada dia que passa que os portugueses não sabem nada, ou praticamente nada, sobre o seu país. A ignorância histórica atinge as raias da obscenidade. Quando muito refastelamo-nos nuns ecos idiotas do tempo dos Descobrimentos, mal sabendo do que estamos a falar. Da Geografia, seja física, seja humana, ainda menos. Não conhecemos bem o território que habitamos, nem a relação da nossa vida com ele. Temos uma frequência sumariamente turística e petisqueira com alguns lugares mais promovidos.
Da cultura portuguesa e no que toca às artes, fora este ou aquele monumento mais visitados ao domingo durante a volta dos tristes, somos de uma fúnebre obtusidade. Da língua, estamos falados. Não me refiro apenas ao desconhecimento da sua história. Sucessivas gerações ligadas ao ensino têm dado cabo dela e contribuído para o seu abastardamento. Práticas diárias na comunicação social coadjuvam essa torpeza. É estropiada por toda a gente em todas as áreas do quotidiano e do saber. Da Literatura, depois de décadas em que o ensino andou divorciado dela ou se dedicou a exercícios metodológicos que corresponderam ao seu assassínio progressivo, vivemos numa ignorância deprimente. Basta ler os jovens escritores que se candidatam a concursos literários (e tenho feito essa experiência por pertencer a vários júris). Eu apostaria, dobrado contra singelo, que, salvo muito raras, mas mesmo muito raras excepções, não têm qualquer experiência, por muito elementar que seja, da grande tradição literária da nossa língua e do património que a integra. Dá-me ideia de que é gente que leu algum autor dos últimos vinte anos, e pouco mais. Não aprenderam absolutamente nada com mais ninguém. Para trás do mínimo que leram, é como se a literatura portuguesa não existisse nem tivesse um cânone, não fosse lida por inútil ou desnecessária, e se encontrasse relegada para o baú das inutilidades no sótão das insignificâncias pátrias.
Esta situação não me pesa apenas a mim como escritor. Os confrades da minha geração e, vamos lá!, pelo menos os da seguinte, têm perfeita consciência daquilo que estou a dizer e estou convencido de que fazem o que podem para ajudar a superar este lúgubre estado de coisas. O assacar de responsabilidades não adianta muito neste momento. Já sabemos dos programas de ensino, da má qualida- de de muitas docências, do alheamento imperdoável de muitas instituições públicas e privadas, de muitas famílias, de muitos encarregados de educação.
O que é preciso é fazer alguma coisa que fique do lado de fora das estatísticas e das apreciações formais da competências. O que é preciso é a promoção a sério de uma série de disciplinas e de conteúdos identitários, sem exacerbamentos nacionalistas nem patriotinheirismos ridículos e fora de prazo. E também é preciso pôr estes valores, no seu vasto e múltiplo conjunto e nas suas interligações ao alcance do maior número possível de cidadãos, independentemente do trajecto que tenham feito ou façam nos níveis do ensino secundário e do ensino superior.
De resto, não deveria esquecer-se uma relação, diacrónica e sincrónica, com a Europa. Sem algumas noções elementares a este respeito, nada compreenderemos de nós mesmos, da nossa identidade e dos nossos problemas. Essa falta também se faz sentir, tanto ou mais do que as apontadas no tocante à História, à Geografia, às artes, à língua e à Literatura.
É por isso que deveria haver, um pouco por toda a parte, programas que abrissem pistas de compreensão para todas estas realidades e outras mais, levados a cabo pelo maior número possível de instituições. Esses programas deveriam também suscitar uma componente de prazer, de alegria do conhecimento, de abordagem sem complexos da identidade e da história nacional. Deveriam ajudar os cidadãos a compreender-se sem ventriloquias nem gargarejos enfáticos e suscitar neles a vontade de ir mais longe na aprendizagem de si mesmos.
As pessoas estão fartas de se sentir niveladas pelo mais baixo. Querem conteúdos acessíveis, sem empertigamentos académicos, e que permitam a organização de transversalidades entre as áreas do saber. Este é um fenómeno de todas as idades e de todas as condições sociais. Indo beber a imagem ao Alexandre O"Neill, ninguém quer viver Portugal como um remorso.".

domingo, 24 de novembro de 2013

Leitura obrigatória


Foi um livro escrito numa lógica de prevenção sobre o que poderia vir do mundo vivido desde 1917 até 1939.
Deixou de ser uma prevenção e passou para o campo da ficção.
Infelizmente os tempos preventivos voltaram.
Urge a necessidade de se ler Orwell.

domingo, 6 de outubro de 2013

Álvaro Cunhal - Fotobiografia

Hoje comprei a fotobiografia de Álvaro Cunhal, editada pelas Edições Avante, num dos muitos actos que simbolizam o centenário do nascimento do histórico comunista.
Contendo fotografias com grande qualidade de um sempre fotogénico Cunhal - Cunhal sabia melhor do que ninguém como utilizar a sua imagem para seduzir as pessoas -, o livro é um belo documento de propaganda comunista. Com edição de Julho e dado o fantástico resultado eleitoral autárquico da CDU nas eleições de Setembro, será que o responsável foi Cunhal?!
De uma maneira ou outra, terá sido.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

E agora?!

Tal qual Nero: decapitou a social-democracia, incendiou o país e implodiu o partido. O que falta agora?!

sábado, 14 de setembro de 2013

Discurso proferido na entrega dos Prémios de Mérito Escolar 2012/13, do Rotary Club de Oliveira de Azeméis

Ao pedirem-me para, em nome do Rotary Club de Oliveira de Azeméis, fazer um elogio público aos jovens que mais se distinguiram nos vários degraus da “academia oliveirense” dei por mim a pensar em como era a vida escolar na minha época.

Recuei uma década e meia, até ao ano em que frequentei o décimo segundo ano e ingressei no ensino superior. Contudo, apesar de só se terem passado 14 ou 15 anos, encontrei diferenças enormes.
A convivência com os colegas era de conversa diária, nas aulas, no recreio, na partilha de CD´s e livros, de idas à Portagem e ao 4º Bairro. Ainda não existiam SMS e namorar tinha que ser com o telefone fixo, de casa, onde normalmente atendia sempre alguém que não era quem se desejava e era necessário fazer uma apresentação e conversa digna desse nome.

Internet era um mundo à parte, de que se falava mas que ainda era pouco explorado: o Google tinha acabado de ser fundado – o Sapo fez 18 anos há dias –, falava-se que ia ser um canal de informação mas, na época, era apenas uma utopia.

As TIC existiam… Não existiam computadores – nas escolas e na maioria das casas – que suportassem os processadores de texto. Apresentações em Powerpoint eram uma miragem, sendo que o Word e Paint faziam as delícias dos mais habilidosos. Tudo o resto era feito à mão, com recortes e fotocopias. 
Em apenas 15 anos vivíamos uma realidade diferente. Não estou a dizer que fosse melhor ou pior, apenas diferente; prova que o mundo está em constante evolução e que a cristalização de momentos, para além da “saudade”, impede o crescimento enquanto cidadãos.

Essa evolução é fundamental para os jovens que temos aqui hoje: os mais bem preparados e eficazes para enfrentar a sociedade e o mercado de trabalho.

Uma das grandes diferenças entre a sociedade que descrevi e a de hoje é a informação. A minha pré-adolescência e a de todos quanto me antecederam não foi preenchida de SMS, blogues, Youtube, Google, Hi 5, Facebook, Twitter, Instagraam, etc.. Ou seja, a grande diferença está na informação e nos conteúdos nela produzidos, na facilidade de acesso à cultura e ao conhecimento.
Se quiséssemos conhecer o mundo que nos rodeia, se quiséssemos fazer um simples trabalho de investigação para alguma disciplina, teríamos que ler imensos livros, jornais, estar atento à televisão e à hora em que passavam os programas. Os mais “preguiçosos” sempre poderiam recorrer à enciclopédia mas a informação nela contida é escassa, tratando os temas superficialmente, não permitindo um real aprofundamento dos casos.

O acesso a fotografias e imagens das maravilhas do mundo era algo complicado. Dou o exemplo de uma das mais belas aldeias de Portugal, o Piódão, escondido entre a Serra do Açor e a Serra da Estrela, só se tornou conhecido após o Rali de Portugal passar lá e saírem imagens lindíssimas para todo o mundo, através da RTP e dos média internacionais; foi aí que os portugueses conheceram a sua terra. Conhecer as maravilhas escondidas no estrangeiro era tarefa quase impossível, a menos que se tivesse muito dinheiro para investir em viagens.

Hoje em dia, graças à internet, todos esses problemas estão dissipados: a partir de casa, de um quiosque, de um tablet ou um smartphone, podemos aceder a todas as novidades, in loco, à escala global.

Hoje, todos, desde os mais jovens aos mais adultos, todas as pessoas têm a possibilidade – e obrigação? – de se manterem informados e, com isso, melhorar o seu nível cultural. No fundo, a grande meta para se atingir uma sociedade mais justa, coesa e solidária: se todas as pessoas comunicarem, falarem entre si e se todos se entenderem, se se atingirem consensos, conseguimos encontrar um caminho para a compreensão e paz mundial, um dos desígnios de Rotary.

Há dias, na Universidade de Verão do PSD, António Barreto referia que um dos problemas de Portugal, do ensino e da sua afirmação era o excesso de formação versus o conhecimento geral, a cultura, a aprendizagem pelo conhecimento. Segundo o Professor, em Portugal estuda-se para se obter uma profissão e não para se ser mais culto e, a partir daí, conseguir trabalhar naquilo que realmente se gosta.
Fará sentido um aluno chegar ao 12 ano e perspectivar estudar para uma licenciatura em Relações Internacionais, tendo perspectiva em ir trabalhar para a Comissão Europeia ou Terapia Ocupacional para ir trabalhar para o Centro de Dia da sua terra, por exemplo?! E se não gostar do curso ou não houver saídas profissionais, o que faz? Não seria melhor tirar um curso geral, técnico ou não, de Direito, Humanidades, Filosofia, Ciências, Economia, Belas Artes, Engenharia ou Medicina e, após isso, escolher em que área pretende trabalhar? Não ficaria com horizontes mais amplos e, consequentemente, com mais saídas profissionais?

A cultura assume, assim, um papel fundamental e praticamente único entre a diferenciação entre os bons e os maus profissionais já que, nos dias que correm, quase todos têm acesso a formação superior.

Vocês, os melhores alunos das escolas de Oliveira de Azeméis, provaram ao longo destes anos que estão prontos, que têm mérito, que podem enfrentar todos os desafios e terão, com toda a certeza, oportunidades únicas pela vossa vida fora – parabéns a vocês, aos vossos pais e tutores e aos professores. Agora é altura de aproveitarem tais oportunidades.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Este não é o PSD com que sonhei


Para os que pensam que isto é obra maléfica de outro partido, aqui fica a prova.
"Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus".

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Blowin' in the wind

"Yes, how many years can some people exist before they're allowed to be free?
Yes, how many times can a man turn his head, pretending that he just doesn't see?
The answer my friend is blowin' in the wind, the answer is blowin' in the wind."

A guerra das condolências

"O país já tinha chegado a pontos muito baixos. Mas ontem a 'guerra das condolências' foi algo que ultrapassou o imaginável. A história, com o devido respeito a todos os que perderam a vida, independentemente do modo como a viam e da forma como procederam, conta-se assim:
  1. Perante a morte de um amigo e colega, António Borges, o Presidente da República manda publicar na página oficial da Presidência uma nota de condolências;
  2. Os bombeiros profissionais e outros cidadãos manifestaram a indignação pelo facto de o Presidente não ter apresentado semelhantes condolências aos bombeiros recentemente falecidos;
  3. Na página do Facebook de Cavaco Silva, aqueles que se podem chamar profissionais da indignação, amplificaram essa indignação. Quando chegaram ao 'impressionante' número de 3000 (três mil, a página do Expresso tem quase 200 vezes esse número de visitantes por dia) a comunicação social começou a dar nota da profunda revolta de milhares de portugueses (por essa altura, a censura do turismo australiano à foto de um canguru ou a linguiça portuguesa no McDonald's do Havai tinham despertado mais interesse entre os leitores).
  4. Cavaco Silva indica que enviou as condolências em privado aos soldados da paz falecidos tendo pedido, expressamente, para que tais votos não fossem divulgados publicamente. Responsáveis dos bombeiros confirmam o Presidente.
  5. Apesar do esclarecimento, o protesto que consiste em escrever "as minhas sinceras condolências aos familiares dos bombeiros falecidos" continuava como se nada estivesse esclarecido (algumas pessoas protestam duas, três quatro vezes, repetindo a frase dezenas ou centenas de vezes).
Sinceramente, penso que não são precisas mais palavras sobre o assunto. Chegámos a um ponto em que tudo - mas tudo, incluindo a morte de seres humanos - serve para a pequena chicana política. O que se viu nas redes sociais depois da morte de António Borges chegou a ser chocante e revelador de como algumas pessoas acham que os outros (e sobretudo os seus familiares e amigos) não têm direito ao mínimo respeito pela dor. O aproveitamento do trágico falecimento dos bombeiros para uma campanha política, também mostra como há tanta gente que, ou não pensa, ou não tem sentimentos.
E neste caso, pelo menos visivelmente, não foram os partidos, nem os políticos. Foram, provavelmente, muitos daqueles que estão sempre pronto a criticar tudo e todos. Deus nos livre desta turba desumana!"

Henrique Monteiro in Expresso

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O Estado Empresa

Nos últimos anos a tentativa (muitas vezes conseguida) de transformar a orgânica do Estado na orgânica de uma empresa, levou a uma diminuição da qualidade da democracia, tendo pessoas com obrigações - deveres e direitos - para com os seus concidadãos, sido tomadas como simples joguetes em jogos económicos.
John le Carré, mais uma vez, mostra-nos este lado cruel, actuando da pior forma.
" A delicate truth" é mais um livro brilhante que deveria despertar mentes.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A mercearia - 21

Como viajante, adoro conhecer e conviver com pessoas de todo o mundo, com o povo, com aqueles que têm histórias para contar.
Como rotário, acredito profundamente que a compreensão entre os povos é um dos caminhos para a paz: quando as pessoas se conhecem, quando criam laços de amizade e comerciais, não se atacam gratuitamente.
No entanto, apesar da reorganização do mundo - geopolítica e geoestratégica -  após o fim da guerra-fria, o 11 de Setembro e o surgimento de novas superpotências económicas ( militares, apenas os Estados Unidos se mantém; o Reino Unido e França cortam cada vez mais os seus orçamentos, a Alemanha não tem nem quer ter exército activo, os BRIC perceberam que a sua arma é outra), continuo a acreditar num mundo dividido em dois: os bons e os maus, nós e eles, entre os que circulam entre os corredores brilhantes de Whitehall, pela Praça do Luxemburgo e reúnem em Malta e os que se encontram em tendas no meio do deserto, na selva africana ou sul-americana - movidos pelo narcotráfico - e em salas sombrias onde nasce o sol, mas onde todos são culpados pelas mais diversas formas de tortura e desprezo pelos direitos humanos, em todo o mundo.
Acredito que Portugal está do lado dos bons e a sua presença na NATO, CE e ONU, assim como a aliança política mais antiga do mundo, com a Inglaterra, atestam isso mesmo.
Apesar de me considerar um humanista, penso que os países devem  ter um exército, voluntário, obrigatório ou profissional, por forma a defenderem e manterem a soberania e segurança externa, sua ou dos seus aliados e interesses.
Tenho, também, consciência que a paz se conquista e mantém através da guerra e da posterior educação que se dá, dos vencedores aos vencidos. Podemos pensar que foram guerras que ajudaram a definir e manter fronteiras, desde que se conhece a humanidade; que permitiram a alteração de regimes; que permitiram a libertação de povos, tendo em vista a melhoria das suas condições de vida.
Posto isto, pergunto se não aprendemos nada com o que se passou no Curdistão, Balcãs, Ruanda, Tchetchênia ou a Ossétia do Norte.
Pergunto como é possível que de há dois anos a esta parte sabemos o que se passa na Síria e, ainda assim, não actuamos.
Como é que só agora a ONU exige uma clarificação, sem pedir inquérito, ao uso de armas químicas em Damasco?!
Estamos à espera de quê?! De mais ataques?! De mais mortes?!
O que deveríamos ter aprendido neste tempo todo é que quando está um gato escondido com o rabo de fora, é porque o resto do corpo já é tão grande que não dá para encobrir mais. A diplomacia, infelizmente, não tem feito parar os processos de aniquilação de um povo e, quando assim é, deve-se dar o devido papel às armas.
Caso contrário, vamos enviar os Capacetes Azuis, ou outra força internacional, que se limitarão a observar os restos da chacina – as valas comuns, os corpos carbonizados, mutilados, que sofrem com ataques químicos e/ou biológicos -, fazendo o mundo chorar mais estas mortes; quanto aos conscientes, restas-lhes sentir vergonha por os seus líderes democraticamente eleitos - sobe a égide da Carta Magna, do Jacobismo e da Guerra da Secessão -,mas que não colocaram de parte os seus próprios interesses em prol da Humanidade. 

in Política Queira Mais

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Os amanhãs que cantam

"Há uma obscena falta de vergonha incrustada no texto da moção de confiança que o Governo vai apresentar e que, por si só, é um retrato de uma política que, após as ingenuidades e ignorâncias iniciais, tem sido feita pelo dolo, para a manipulação e para o engano. Que haja intelectuais por detrás desta mistificação, faz-me confirmar uma velha desconfiança quanto à corrupção que a ambição traz ao pensamento. E mais: com esta moção, todos os membros do Governo passam a ser versões de Paulo Portas e a reverem-se no modelo de duplicidade sobrevivente do "irrevogável".

O que esta moção nos diz é uma completa mistificação desde a primeira letra. Diz-nos que havia um ciclo político pensado em duas fases: uma, o cumprimento do "programa", outra, o desenvolvimento e o crescimento. A crise governativa das últimas semanas foi o rito de passagem, a perda da pele da serpente, que permitiu abandonar a velha pele, para fazer reluzir a segunda. Ou seja, ainda bem que houve esta crise, catártica na sua bondade, para podermos, limpos e lustrais, apresentar um "novo ciclo" aos portugueses. Nada disto é verdade, nem o "programa" foi cumprido, bem longe disso, nem este "novo ciclo" estava previsto nestes termos na programação governativa, nem as vítimas da "austeridade" podem esperar qualquer alívio, nem as vítimas que se seguem, as da "reforma do Estado", podem escapar à desvalorização do seu trabalho e ao desemprego. O programa real continua, o virtual vem aí. Só que não é para os mesmos.

Cumpriu-se o "programa", apesar de nenhum dos números do défice e da dívida ter sido atingido? Podemos "regressar aos mercados"? Obtiveram-se os resultados miraculosos do "ajustamento"? Bem pelo contrário, o que Passos, Gaspar, Moedas e outros pensavam, em completa consonância com a troika, é que após uma varredela para o lixo da economia "ultrapassada", após o desmantelamento do Estado social, após a inversão das relações de poder na legislação laboral, após o fim dos "direitos adquiridos", depois da "libertação" da sociedade do Estado, após o "ajustamento" dos portugueses a viverem "de acordo com as suas posses", muito poucas, aliás, a economia exportadora, a economia desenvolvida tecnologicamente, a sociedade dinâmica dos "empreendedores" esmagasse os "piegas", sem que o Estado tivesse qualquer outro papel do que garantir a ordem pública e a hierarquia social estabelecida. O "arranque" viria da sociedade "libertada", e nunca jamais, em tempo algum, o Estado voltaria a ser "desenvolvimentista". 

Ora isto não aconteceu, nem podia acontecer, houve demasiadas "surpresas" e estes homens ficaram presos nas ruínas do seu discurso, arrastando-o, já não para construir o seu modelo utópico, mas para encobrir e remediar os estragos do que tinham feito. Já há algum tempo que as medidas sucessivas de austeridade se destinam não a qualquer "ajustamento", mas a tapar a ineficácia das anteriores. Gaspar percebeu isto e percebeu que o primeiro-ministro já estava a hesitar com o partido e eleições, e como precisava de uma determinação absoluta, foi-se embora. 

Passos ficou no ar, entre um discurso cuja simplicidade e "economês", feito de algumas leituras sobre Singapura, lhe era atractivo e as pressões partidárias e atribulações governativas. Continua no ar, lançando mais confusão do que clareza -, o discurso partidário de ruptura das conversações é o oposto do texto da moção de confiança e só passou uma semana - mas, como sempre disse, nunca me convenceram pessoas que se tornam ideólogos de uma coisa, quando essa coisa está na moda. E por isso, o Passos desenvolvimentista e socrático contra Manuela Ferreira Leite pode regressar a qualquer momento, até porque não foi assim há muito tempo. 

Não é hoje tão fácil fazer estas inflexões quando se tem o lastro dos desastres cometidos, mas não é impossível. No fundo, todos eles são Paulo Portas. A verdade é que Passos aprovou uma moção de confiança que, se tomada a sério, é uma crítica dura aos seus desvarios de engenharia utópica. Substituir Gaspar por Maduro, ambos tendo influência por via da insegurança académica de Passos, a mesma que o faz entrar mudo e sair calado dos Conselhos Europeus, pode ser reconfortante como mentor, mas não chega. E, por isso, o discurso governamental vai-nos dizer à saciedade que saímos de uma encruzilhada "má" para uma estrada "boa". Com a capacidade que tem a comunicação social para reproduzir a linguagem do poder, esta propaganda vai ser repetida sem prudência. Até ao dia em que tombará e o contrário será a norma. Tem sido sempre assim, com Sócrates e Passos, não vai ser diferente.

Claro que haverá algumas "medidas", nos impostos para as empresas, no IVA da restauração, na concertação social, com uma UGT desejosa de voltar ao "consenso", com um PS cujo compromisso real com este "novo ciclo" desconhecemos. E vamos admitir que há mesmo "sinais" de alguma recuperação da economia, como nos diz a propaganda governamental, seleccionando para o efeito os indicadores positivos e não falando dos negativos. Vamos admitir que estamos na véspera de uma "mudança", de "uma segunda oportunidade", de "uma nova fase". Vamos admitir isso tudo, mas não vamos admitir que nos digam que isso significa o que nos querem dizer que significa.

Vamos admitir que o "pior já passou", mesmo que se trate apenas de bater no fundo. Claro que há-de haver uma altura - não sei se ainda esta -, em que, estando tudo mal, já não se pode piorar. Na verdade, não é bem assim, pode-se sempre piorar, basta a passagem do tempo para o fazer. Um ano de empobrecimento não é a mesma coisa que três e quatro, e estar desempregado a única dinâmica que conhece é o passar do tempo, para pior.

Olhando estes "sinais", as perguntas que temos que fazer são duas. Uma, o que é que ficou para trás destruído sem recuperação, cujos restos estão por todo o lado, e como é que eles vão envenenar o presente e o futuro? Outra, bem mais importante e "subversiva", é que, se houver "recuperação", quem é que dela beneficia? A resposta politicamente correcta é que beneficia a todos. A resposta verdadeira é que a poucos, muito poucos, e aos mesmos de sempre. Talvez umas migalhas cheguem aos de baixo, ou nem isso, porque eles podiam lembrar-se de comprar electrodomésticos e lá se vão os números das importações.

Numa sociedade em que se agravaram os factores de exclusão e em que uma parte importante - classe média, desempregados, "novos pobres", mundo do trabalho desprotegido - perdeu todo o poder, os frutos de qualquer tímida "recuperação" seguirão as linhas de água profunda cavadas pela ruptura social na sociedade portuguesa e correrão para onde sempre correram. 

Este óbvio facto, de que ninguém que levou com a "crise" em cima vai beneficiar dos "sinais" em tempo da sua vida, é ocultado por um discurso político que foi reduzido nestes últimos anos ao "economês". Esse discurso não se vai embora apenas porque passamos a ter uma retórica política que fala do "crescimento" em vez do "rigor orçamental". Bem pelo contrário, pode até reforçar-se, moldando o modo como se vai ver a "recuperação" e os seus frutos, legitimando a continuação da austeridade para os mesmos e "libertando" alguns de impostos, regulações, limitações, leis. Leis, no limite da Constituição, um dos programas escondidos das "negociações" com o PS. 

O "novo ciclo" do Governo, naquilo que não é pura sobrevivência eleitoral, mas discurso de feiticeiro, serve para reciclar a linguagem do poder aos mesmos interesses de sempre. Mas a sua fragilidade é a mesma do discurso do "rigor orçamental". É mais agradável de ouvir, mais enleante, leva o PS à ilharga, foge da agressividade militante da engenharia utópica Passos-Gaspar, mas destina-se a manter o mesmo círculo de ferro que captura a democracia portuguesa por um establishment financeiro e de grandes empresas nacionais (cada vez menos) e estrangeiras, e de uma elite que aceita servi-las e aceita os seus limites de fogo daquilo que se pode ou não fazer. 

Visto de longe, sanitariamente de longe, este Governo, para se manter, fez todos os tratos com Cassandra e abriu todas as caixas de Pandora. É só esperar pelos resultados do "novo ciclo"."

A mercearia - 20

No passado dia 15,o Caracas estava a abarrotar.
Muita gente que normalmente vota no CDS, PS e PCP; de bandeira em riste e afirmando ir votar PSD e Hermínio Loureiro nas próximas autárquicas.
O slogan de campanha, que aponta o passado e perspectiva o futuro, é perfeitamente adequado ao momento que vivemos e que vamos viver; Hermínio Loureiro com um discurso muito bem estruturado e assertivo deu aso a toda a dimensão linguística de “Um bom Presidente”.
Ainda sobre o slogan, quem diz " Um bom Presidente" não é Hermínio Loureiro: são as pessoas anónimas que todos os dias vivem com o resultado da sua gestão. O meu caro amigo Hermínio não tem que se colocar em bicos de pés e afirmar coisas que mais ninguém sonha, só para dizer que é bom; os oliveirenses fazem-no com orgulho.
É o meu candidato. Digo-o.
Sobre as eleições autárquicas, relembro aqui um texto que escrevi em Novembro de 2012, aquando a visita de Jerónimo de Sousa a Oliveira de Azeméis – fui ao comício do PCP porque apesar das diferenças ideológicas, considero Jerónimo de Sousa uma pessoa séria e integra para com os ideais que defende, tendo eu, aí, a oportunidade de o ouvir in loco, sem o spin e/ou cortes jornalísticos -, em que referia que, nas próximas eleições autárquicas, os oliveirenses deverão escolher entre um partido social-democrata e um partido comunista ortodoxo, já que todos os outros partidos – as cúpulas nacionais - não conhecem Oliveira de Azeméis e as necessidades e desejos das suas gentes.
Disse isto em Novembro e reafirmo agora porque, num período em que ninguém andava atrás de votos, o PSD oliveirense tinha trazido a Oliveira de Azeméis Marco António Costa, Miguel Relvas e Marques Mendes, para citar alguns exemplos – o líder partidário é Primeiro Ministro e não se deve deslocar de forma abusiva a acções partidárias – e o PCP trouxe Jerónimo de Sousa.
Este tipo de acções servem para mostrar Oliveira de Azeméis “aos senhores de Lisboa” ao mesmo tempo que as concelhias demonstram, bem, o seu poder dentro das estruturas nacionais e, com isso, mostrarem a “quem manda” os problemas reais dos seus concidadãos. É o levar para as sedes nacionais os problemas da chamada província.
Enquanto isto se passou, o PS trouxe a Oliveira de Azeméis Francisco Assis – (in)felizmente muito longe da actual direcção socialista e da concelhia oliveirense e do Bloco não veio nem Louçã, nem João Semedo nem Catarina Martins.
Posteriormente ao texto, em Fevereiro, o euro-deputado Nuno Melo esteve em Oliveira de Azeméis aquando a posse da concelhia popular.
Assim sendo, por parte dos principais partidos políticos portugueses, os únicos que merecem respeito por parte dos oliveirenses, os únicos que tiveram pessoas da liderança partidária a usarem o seu tempo para visitarem Oliveira de Azeméis e inteirarem-se dos problemas das pessoas de cá, são o PSD, PCP e CDS.

Hermínio Loureiro é o meu candidato e aproveito este espaço para felicitar a candidatura do João – conhece-o desde a altura do colégio – à Câmara Municipal, desejando que as suas intervenções venham alargar o espaço de debate e a troca de ideias, a bem dos oliveirenses.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Um bom Presidente

O Caracas cheio,  a abarrotar.
Muita gente que normalmente vota no CDS, PS e PCP; de bandeira em riste e afirmando ir votar PSD e Hermínio Loureiro nas próximas autárquicas.
Hermínio Loureiro com um discurso muito bem estruturado e assertivo.
O slogan de campanha, que aponta o passado e perspectiva o futuro, é perfeitamente adequado ao momento que vivemos e que vamos viver.
Ainda sobre o slogan, quem diz " Um bom Presidente" não é Hermínio Loureiro: são as pessoas anónimas que todos os dias vivem com o resultado da sua gestão. O meu caro amigo Hermínio não tem que se colocar em bicos de pés e afirmar coisas que mais ninguém sonha, só para dizer que é bom; os oliveirenses fazem-no com orgulho.