Ao pedirem-me para, em nome do Rotary Club de Oliveira de
Azeméis, fazer um elogio público aos jovens que mais se distinguiram nos vários
degraus da “academia oliveirense” dei por mim a pensar em como era a vida
escolar na minha época.
Recuei uma década e meia, até ao ano em que frequentei o
décimo segundo ano e ingressei no ensino superior. Contudo, apesar de só se
terem passado 14 ou 15 anos, encontrei diferenças enormes.
A convivência com os colegas era de conversa diária, nas
aulas, no recreio, na partilha de CD´s e livros, de idas à Portagem e ao 4º
Bairro. Ainda não existiam SMS e namorar tinha que ser com o telefone fixo, de
casa, onde normalmente atendia sempre alguém que não era quem se desejava e era
necessário fazer uma apresentação e conversa digna desse nome.
Internet era um mundo à parte, de que se falava mas que
ainda era pouco explorado: o Google tinha acabado de ser fundado – o Sapo fez
18 anos há dias –, falava-se que ia ser um canal de informação mas, na época,
era apenas uma utopia.
As TIC existiam… Não existiam computadores – nas escolas e
na maioria das casas – que suportassem os processadores de texto. Apresentações
em Powerpoint eram uma miragem, sendo que o Word e Paint faziam as delícias dos
mais habilidosos. Tudo o resto era feito à mão, com recortes e fotocopias.
Em apenas 15 anos vivíamos uma realidade diferente. Não
estou a dizer que fosse melhor ou pior, apenas diferente; prova que o mundo
está em constante evolução e que a cristalização de momentos, para além da
“saudade”, impede o crescimento enquanto cidadãos.
Essa evolução é fundamental para os jovens que temos aqui
hoje: os mais bem preparados e eficazes para enfrentar a sociedade e o mercado
de trabalho.
Uma das grandes diferenças entre a sociedade que descrevi e
a de hoje é a informação. A minha pré-adolescência e a de todos quanto me
antecederam não foi preenchida de SMS, blogues, Youtube, Google, Hi 5,
Facebook, Twitter, Instagraam, etc.. Ou seja, a grande diferença está na
informação e nos conteúdos nela produzidos, na facilidade de acesso à cultura e
ao conhecimento.
Se quiséssemos conhecer o mundo que nos rodeia, se
quiséssemos fazer um simples trabalho de investigação para alguma disciplina,
teríamos que ler imensos livros, jornais, estar atento à televisão e à hora em
que passavam os programas. Os mais “preguiçosos” sempre poderiam recorrer à
enciclopédia mas a informação nela contida é escassa, tratando os temas
superficialmente, não permitindo um real aprofundamento dos casos.
O acesso a fotografias e imagens das maravilhas do mundo era
algo complicado. Dou o exemplo de uma das mais belas aldeias de Portugal, o
Piódão, escondido entre a Serra do Açor e a Serra da Estrela, só se tornou
conhecido após o Rali de Portugal passar lá e saírem imagens lindíssimas para
todo o mundo, através da RTP e dos média internacionais; foi aí que os
portugueses conheceram a sua terra. Conhecer as maravilhas escondidas no
estrangeiro era tarefa quase impossível, a menos que se tivesse muito dinheiro
para investir em viagens.
Hoje em dia, graças à internet, todos esses problemas estão
dissipados: a partir de casa, de um quiosque, de um tablet ou um smartphone,
podemos aceder a todas as novidades, in loco, à escala global.
Hoje, todos, desde os mais jovens aos mais adultos, todas as
pessoas têm a possibilidade – e obrigação? – de se manterem informados e, com
isso, melhorar o seu nível cultural. No fundo, a grande meta para se atingir
uma sociedade mais justa, coesa e solidária: se todas as pessoas comunicarem,
falarem entre si e se todos se entenderem, se se atingirem consensos,
conseguimos encontrar um caminho para a compreensão e paz mundial, um dos
desígnios de Rotary.
Há dias, na Universidade de Verão do PSD, António Barreto
referia que um dos problemas de Portugal, do ensino e da sua afirmação era o
excesso de formação versus o conhecimento geral, a cultura, a aprendizagem pelo
conhecimento. Segundo o Professor, em Portugal estuda-se para se obter uma
profissão e não para se ser mais culto e, a partir daí, conseguir trabalhar
naquilo que realmente se gosta.
Fará sentido um aluno chegar ao 12 ano e perspectivar
estudar para uma licenciatura em Relações Internacionais, tendo perspectiva em
ir trabalhar para a Comissão Europeia ou Terapia Ocupacional para ir trabalhar
para o Centro de Dia da sua terra, por exemplo?! E se não gostar do curso ou
não houver saídas profissionais, o que faz? Não seria melhor tirar um curso
geral, técnico ou não, de Direito, Humanidades, Filosofia, Ciências, Economia,
Belas Artes, Engenharia ou Medicina e, após isso, escolher em que área pretende
trabalhar? Não ficaria com horizontes mais amplos e, consequentemente, com mais
saídas profissionais?
A cultura assume, assim, um papel fundamental e praticamente
único entre a diferenciação entre os bons e os maus profissionais já que, nos
dias que correm, quase todos têm acesso a formação superior.
Vocês, os melhores alunos das escolas de Oliveira de Azeméis, provaram ao longo destes anos que estão prontos, que têm mérito, que podem enfrentar todos os desafios e terão, com toda a certeza, oportunidades únicas pela vossa vida fora – parabéns a vocês, aos vossos pais e tutores e aos professores. Agora é altura de aproveitarem tais oportunidades.
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