quarta-feira, 29 de maio de 2013

Quem se deve apoiar?

Quem é o candidato que diz,  repetidas vezes, " os bons exemplos de Rui Rio são para seguir"?
Não deveria ser esse candidato que o PSD deveria apoiar?!

Quem é Ana Avoila?

"Há anos que ouço falar em Ana Avoila e ontem, num momento que tive, decidi pesquisar quem era e o que fazia. Primeira surpresa: os nomes dos sindicalistas não têm biografias na Internet, ao contrário dos nomes de quase toda a gente que aparece na televisão.
Retiro pelo contexto, pelo facto de ser coordenadora da Frente Comum dos sindicatos da Administração Pública que é funcionária pública. Mas faz (ou fez) o quê? Deserto absoluto. Fosse outro o cargo e não faltaria quem dissesse que esta ausência de currículo era suspeita... mas adiante.
Que idade tem? Não se sabe, mas deve ter 59 anos. Porque há uma Ana Avoila, Funcionária Pública e membro da Direção do Setor da Função Pública de Lisboa do PCP, membro do secretariado Permanente da Direção do Sindicato dos Trabalhadores da Função Pública do Sul e Açores, Coordenadora da Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública que foi candidata pelo Partido Comunista às Europeias de 2009 e que tinha, na altura, 55 anos. Presumo que seja a mesma.
Continuando a pesquisa denoto que em 19 de fevereiro de 1998, há mais de 15 anos, uma Ana Avoila era subscritora de um abaixo-assinado a defender a interrupção voluntária da gravidez. Como tinha, por profissão dirigente sindical, presumo ser a mesma.
Em 11 de maio de 2003, há 10 anos, já falava em nome dos trabalhadores da Administração Pública, acusando o então Governo de Durão Barroso de asfixiar os funcionários com as suas medidas. Em 25 de setembro de 2006, há quase sete anos, acusava o governo de Sócrates de querer "liquidar a Administração Pública entregando os serviços mais rentáveis ao patronato". Há 15 dias disse que o Governo de Passos está a "governar em ditadura" e faz "reuniões a correr para lixar os trabalhadores". Presumo que seja a mesma Avoila que marca greves sem passar cavaco aos outros sindicatos, porque acha que sim.
Não entendo bem a credibilidade da senhora. Se ela é dirigente há 15 anos e não conseguiu melhores resultados do que estar tudo cada vez pior, seja em que Governo for, pode ter a humildade de perguntar a si própria se o problema não será também um pouco seu, pois não soube melhorar, ou impedir que piorassem as condições dos trabalhadores que representa. Mas, curiosamente, nestes cargos, ao contrário de nos partidos e nos clubes, nunca há oposições internas visíveis. Mais: quando se acusa um Governo eleito há dois anos de governar em ditadura, que pode ouvir quem está à frente de uma organização há 15 anos (pelo menos)?
O que faz correr uma pessoa assim? É a fé? Quem a segue fá-lo por motivos idênticos? Às vezes é bom interrogarmos estes profissionais da contestação, porque nem sempre as coisas são muito claras no campo de quem mais se queixa."


Henrique Monteiro in Expresso

sexta-feira, 24 de maio de 2013

A mercearia - 17


Estamos a poucas horas de se iniciar um dos eventos mais marcantes da sociedade oliveirense, que se realiza há já muitos anos, tendo como função revisitar modas e costumes de outrora, dando a conhecer os sabores tradicionais, numa estreita colaboração com associativismo do concelho. Refiro-me, como podem imaginar, ao “Mercado à Moda Antiga”.
Falamos de um evento que começou por carolice, de dimensão local, com a força de vontade da GRACC e que, em boa hora, foi apadrinhado pela Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis.
A estratégia da Câmara Municipal, assumindo o Vereador responsável pela área do Turismo um papel fundamental, foi o de transformar um evento local num evento supralocal, atravessando várias fronteiras. Nos últimos anos foi feito um esforço nesse sentido, mediatizando o “ Mercado à Moda Antiga”.
Para isso, em colaboração estreita com o Turismo Porto e Norte, a divulgação do evento nas lojas de Vigo (Espanha) do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, dando a conhecer aos estrangeiros Oliveira de Azeméis e as suas actividades; a presença na BTL – o certame mais importante do país no que diz respeito ao turismo. A presença de promotores nos mercados do Bolhão e Aveiro, assim como na Estação de S. Bento e na Ribeira de Gaia.
No contacto directo com o público, além de todas estas acções, é de primordial importância a internet, a imprensa escrita e a televisão.
Também aqui foi feita uma grande aposta nos dois últimos anos, e toda a gente fala do “Mercado à Moda Antiga” em Oliveira de Azeméis.
Como garantia de sucesso, para os oliveirenses mais cépticos, fica o caso da Abreu. A Abreu é uma empresa centenária que tem como core business as viagens e o turismo. Este ano, pela primeira vez, a Abreu criou pacotes especiais para trazer turistas a Oliveira de Azeméis, ao “Mercado à Moda Antiga”.
Se uma empresa – que vive da visão e risco da sua administração, com vista a dar lucros – aposta neste nosso produto, é porque ele está bem pensado, estruturado, organizado, acrescenta valor e tem potencial para o futuro.
Não sei quais são as expectativas da Abreu e dos dois hotéis a ela associados; podem contar com uma visita ou cem visitas. Para mim, a primeira família a vir a Oliveira de Azeméis através deste pacote já é uma vitória porque nos indica que o caminho é válido.      
É com este tipo de eventos – como, também, a “ Noite Branca”, “Volta a Portugal em Bicicleta”, “ Mundial de Futsal”, etc. - que, em conjunto com os produtos que se fabricam em Oliveira de Azeméis, podemos falar da “Marca Azeméis”.
Oliveira de Azeméis apresenta-se com um grande centro industrial – moldes, calçado, agro-alimentar -, um cada vez mais importante centro de ensino – Escola Superior Aveiro Norte, Escola de Enfermagem da Cruz Vermelha, etc. -, e, também, como um polo turístico na região Entre Douro e Vouga.  
Ao ver todas estas potencialidades, apenas tenho pena de a linha do Vale do Vouga não ser aproveitada pela Metro do Porto por forma a transportar (diariamente) muito mais pessoas ou não ser aproveitada como uma linha turística, utilizando, a exemplo de muitos países da Europa, as velhas locomotivas a carvão.
Com qualquer uma destas soluções, certamente, Oliveira de Azeméis teria mais um motivo para mais pessoas poderem vir ao Mercado (ou para o trabalho). No entanto esse é tema para outra discussão, num outro local.
Desejo a todos um excelente “Mercado à Moda Antiga”. Por lá nos encontramos!

quinta-feira, 16 de maio de 2013

A mercearia - 16


Decorreu hoje, no cine-teatro Caracas, a sessão “Políticos de Palmo e Meio”. Uma iniciativa da Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis, que decorre desde 2006, que visa fomentar, em crianças de tenra idade, princípios básicos de democracia e cidadania, o conhecimento do concelho e dos órgãos executivos.
Numa altura em que é enraizado na nossa sociedade – ainda não percebi se propositadamente por grupos políticos radicais (de esquerda, de direita e anarquistas como, por exemplo, o movimento “ Que se lixe a Troika”, o “Movimentos 12 de Março” ou os “Indignados” ) ou se por descuido e ignorância – que todos os políticos são corruptos, que não são necessários, caindo-se numa falácia ao invés de se exigir justiça, convém envolver todos nas questões da democracia, começando pela representação, apresentação de ideias e discussão. A sessão “Políticos de Palmo e Meio” consegue tudo isso e desejo, com toda a sinceridade e esperança, que no futuro tenha frutos, conseguindo uma sociedade com pessoas cada vez mais informadas e interessadas pela causa pública.
O tema da sessão deste ano foi “Património” – um tema que não era fácil - e eu esperava ouvir discussões sobre o património no mundo de uma criança: a casa e a escola.
Por exemplo, ouvir os miúdos pedirem um parque de jogos novo, um baloiço, umas balizas para jogarem à bola, um jardim; quanto muito, uma cantina para a escola. Estava à espera de ouvir alguém dizer que conhece um colega que não se alimenta tão bem como ele e os colegas e perguntar porquê e o que poderá ser feito.
Contudo, ao ouvir crianças de nove e dez anos a falarem de “ Qren”, “ Adritem”, “sustentabilidade”, “percentagem de financiamento da Câmara Municipal” e afins, causa-me alguma estranheza. Ao ouvir tudo isto sem o sorriso e a espontaneidade típica de quem ainda não tem preocupações na vida, fez-me levar a pensar a tristeza dos nossos dias.
Crianças, a lerem papeis, claramente escritos por adultos, usados como arma de arremesso em jogos políticos cobertos pela comunicação social, repetindo questões levantadas na Assembleia Municipal, interpelando o Presidente da Câmara com o vigor de um oposicionista, em ano de eleições autárquicas, é, no mínimo, um abuso.
Espero que em 2014, quando se realizar a próxima sessão dos “Políticos de Palmo e Meio”, depois de passado o período eleitoral, devolvam a inocência aos miúdos de Oliveira de Azeméis.  

terça-feira, 14 de maio de 2013

O Guignol

No início do século XIX apareceu em Lyon um nova versão do teatro de marionetes com uma personagem central que deu o nome à cena: Guignol. Muitas das suas personagens são idênticas às da Commedia dell"Arte italiana e incluem variantes do Arlequim, do Polichinelo, uns criados oportunistas, uns "burgueses", um militar façanhudo, um polícia e vários ladrões, uns ingénuos e uns espertos, umas damas de virtude assanhada e outras de costumes fáceis, etc., etc. A actividade mais popular no Guignol é a pancadaria, sendo que a cabeça dos bonecos tem sempre que ser feita de madeira dura para permitir a repetida cena de uma ou várias personagens andarem com um pau a bater na cabeça uns dos outros. Se se quiser dizer em português, o Guignol é uma fantochada.

A imagem do Guignol, cujas variantes nacionais ainda estão nas minhas memórias de infância, perseguiu-me toda a semana passada enquanto assistia ao espectáculo dado pelas sucessivas declarações de Passos Coelho e Paulo Portas, os arrufos e as declarações de amor perpétuo, os elogios da corte de servidores, a admiração dos jornalistas e comentadores com a supina inteligência de um e a incompetência "mediática" do outro, num jogo de cena penoso de se ver, diante de milhões de pessoas a empobrecer, desempregadas, ameaçadas nos seus direitos mais básicos, velhos sem qualquer alternativa atirados aos cães da "convergência das pensões". Era Guignol do mais perfeito: pauladas, tiradas retóricas, choros e arrependimentos, mentiras e maldades. 

A sequência rápida destas últimas semanas diz tudo sobre como estamos. Comecemos pelo chumbo do Tribunal Constitucional, seguida das declarações de fúria governamental, da cena de silêncio e ida a Belém (porquê?), do despacho vingador de Vítor Gaspar, que continua em vigor e ninguém aplica porque é impraticável; das fugas de informação de que as reuniões do Conselho de Ministros são campos de batalha entre facções do Governo, detalhadamente contadas ao Expresso, a Marques Mendes, a Marcelo, a qualquer órgão de informação que queira saber; do discurso autocastrador de Cavaco Silva no 25 de Abril; do plano abstracto de "fomento industrial", anunciado com tanta pompa quanto o vazio de concretização, por uma facção do Governo ligada ao "crescimento"; da Assembleia informada de que terá direito a ver um documento essencial para o futuro do país, "uns minutinhos antes" de Bruxelas; da Assembleia informada de que pode discutir os créditos swap, mas que o acesso ao relatório que iliba a secretária de Estado (e feito sob sua direcção) permanece "confidencial"; do Documento de Estratégia Orçamental apresentado pela outra facção do Governo, a do "rigor orçamental", da ordem do imaginário (e aprovado por Portas que também o acha "irrealista"), dos anúncios sobre anúncios que não anunciam nada, do "será para depois de amanhã", "afinal os pormenores serão só para depois", etc., etc. "Menus de propostas", uma ridícula denominação, de vários tipos: anunciadas; anunciadas mas vetadas por outro ministro do mesmo Governo; anunciadas mas "abertas" para se cumprir o ritual da concertação social, e o novo ritual do "consenso"; propostas "equacionadas"; propostas que quando dão torto passam a "hipóteses" de trabalho (sendo que os números divulgados noutros documentos de "poupanças" são as das "hipóteses" e não as das propostas...), propostas em versão A e B e C, mudadas no espaço de uma semana; propostas terroristas passadas em fugas à comunicação social para ver no que dá e para depois vir o Governo congratular-se por afinal não ir fazer tão mal aos cidadãos como tinha "soprado" a uma imprensa que publica tudo; não-propostas e antipropostas da ordem da matéria negra e da antimatéria. Alguém me sabe ou pode dizer, a uma semana do seu anúncio, que medidas estão efectivamente decididas? Ninguém.

O "menu de propostas" parece aqueles menus desleixados em que uma cruz significa que o prato já não há, e depois, quando se pede outro, já não há os ingredientes e é melhor escolher o que não se tinha escolhido; ou aqueles menus dos restaurantes de luxo em que um palavreado destinado a épater le bourgeois, como "emulsão de chouriço", "vinagrete de citrinos" ou "sardinha em seu suco", ocultam pouco mais do que uma folha de alface comAceto Balsamico de Modena feito na Bairrada. E quanto aos preços do "menu" não há um único que bata certo. Os do Documento de Estratégia Orçamental não são os mesmos dos de Passos Coelho, nem os de Portas, nem os da contabilidade do "menu de medidas", nem os do secretário de Estado Rosalino, nem os que são dados nas reuniões de concertação social. São todos em milhares de milhões de euros, mas nada bate certo e não é só nas previsões, é nos números com que se parte para as previsões. 

Depois há o uso cada vez mais ofensivo da instabilidade, da chantagem e do medo para pôr as pessoas na ordem. Veja-se o que se passa com os despedimentos da função pública, que, se o Governo pudesse sem violação da lei e da Constituição, seriam às dezenas de milhares, amanhã mesmo. Mas como não pode, usa-se uma combinação de chantagem - as rescisões "por mútuo acordo" - com a colocação de milhares de trabalhadores na absurda (e ilegal) situação de manterem um vínculo ao Estado sem receberem um tostão de salário. E como o Governo percebeu que talvez, mesmo apesar dos inconvenientes pessoais da chamada "mobilidade especial", pudesse haver um número significativo de funcionários que a pudessem aceitar em desespero de causa, e como o objectivo, por detrás dessa tralha verbal tecnocrática, é só despedir, vem agora dizer que "precisamos de transformar o Sistema de Mobilidade Especial num novo Sistema de Requalificação da Administração Pública, com o objectivo de promover a requalificação dos trabalhadores em funções públicas, através de ações de formação". Poderíamos dizer que teria havido um progresso, visto que se pretendia apenas "requalificar" os trabalhadores. Mas se é assim por que é que a frase seguinte é "... e da introdução de um período máximo de 18 meses de permanência nessa condição, pois não é justo para a pessoa, nem é boa administração do Estado, perpetuar uma situação remuneratória que já não tem justificação laboral", ou seja "requalificar" significa despedir? Estes jogos de palavras orwellianos são tão habituais neste Governo como respirar. E eles estão ofegantes.

É uma descrição dura e desapiedada a que faço? Ainda me parece mole e meiga, porque a dimensão de Guignol, de engano, de dolo, de nos querer tomar por tolos, é compulsiva. Não é para levar a sério, mas é muito sério. É muito sério porque disto tudo fica um resíduo, um rasto, uma saliva marcando as paredes, uma babugem qualquer, de medidas, ordens avulsas, leis e directivas, despachos que destroem sem sentido a vida a muitas pessoas que estão a pagar um tributo demasiado caro à vaidade do dr. Portas, ao profetismo ignorante de Passos Coelho, à obstinação tecnocrática de Gaspar, ao servilismo dos deputados do PSD e do CDS, e à cumplicidade de muitos interesses. Esse tributo, que vai ser inútil porque dele não virá qualquer adquirido para os problemas do país, torna este Guignol criminoso. 

E não me venham com desculpas, nada disto tem a ver com o facto de haver uma coligação, nada disto mostra inteligência, mas apenas esperteza, nada disto mostra qualquer preocupação com o país, mas apenas instinto de sobrevivência eleitoral, nada disto mostra qualquer sentido de Estado mas apenas truques de imagem mediáticos, nada disto tem a ver com Portugal nem com os portugueses, mas com um sistema político corrompido pela sua ruptura com o povo e a nação. Guignol por Guignol prefiro o verdadeiro."

O "memorando era o programa do PSD", como disse Passos Coelho, impante da sua importância e papel como sendo aquele que iria mudar a face do país, da economia, o grande modernizador, que iria combater os "vícios do passado" e os maus hábitos dos portugueses, cheios de direitos e "pieguice". O conteúdo das suas declarações iniciais, utópicas e proféticas, encontrou em Gaspar o típico executor burocrático que era suposto trazer a eficácia da tecnocracia para a prossecução da "revolução". Gaspar acabou por ser o Mestre e não o Executor, mas isso também era previsível. 

As opções radicais, milenares e proféticas, implicaram um excesso de zelo e uma pressa de rolo compressor, tentando esmagar a "velha" economia e os "velhos" hábitos o mais rápido e violentamente possível, para depois, sobre as ruínas, se erguer o Portugal disciplinado, competitivo e alemão. Por isso, nenhum acordo com o PS, nenhum sério envolvimento dos parceiros sociais, nenhum esforço de "consenso" tinham sentido. Era um programa para os fiéis sem dúvidas, obstinados e cegos a tudo o que não fosse o "ir para além da troika", "custe o que custar". E os fracos como o PS, os sindicatos e mesmo as confederações patronais, tinham de ser postos à margem porque não eram confiáveis. Ficavam apenas, dentro do círculo do poder, o sector financeiro, e a elite dos "sempre os mesmos", que circulavam de governo para governo, da banca, das consultoras financeiras e dos grandes escritórios de advogados. Mas isso era natural, porque o "programa" da troika e de Passos Coelho era o deles. "

José Pacheco Pereira

quarta-feira, 1 de maio de 2013

A mercearia - 15


Escrevo no dia em que se comemora o Dia do Trabalhador; para mim, o feriado que mais se deve assinalar nos estados livres e de direito democrático porque, se se vive do trabalho e para o trabalho – é discutível a tributação do trabalho mas isso é tema para outra discussão, não tendo lugar nesta crónica -, se é à custa dos rendimentos do trabalho que as populações têm melhores condições de vida, que se pode construir um estado-social, mais justo e coeso, é, no meu ponto de vista, um dia a ser assinalado.
Um dia que deve ser comemorado pelas pessoas e as suas famílias, com os amigos, com os colegas de profissão mas sem o corporativismo de outrora, lembrando comemorações pouco livres como as paradas em Berlim Oriental, Moscovo, Pequim e um pouco espalhadas por todas as ditas democracias populares.
Na semana em que se comemora o Dia do Trabalhador, sendo para mim o feriado dos estados livres e de direito democrático, comemorou-se o dia mais importante do século XX português: o 25 de Abril de 1974 – sendo que a liberdade, apesar da Revolução, só é completamente instaurada com o 25 de Novembro, devido à audácia de um grupo de militares, politicamente apoiados pelo PSD, PS e CDS que, durante mais de um ano, lutou por instaurar um sistema democrático, representando todos os portugueses de igual forma, com sufrágio livre e universal, terminando com todo o tipo de polícias políticas, colocando os militares nos quartéis e estabelecendo a ordem institucional.
O 25 de Abril foi o dia da alteração do regime, caminhando-se para a liberdade. Para a revolução acontecer e para ter tido o sucesso que teve, deve-se, em grande parte, ao PCP, à extrema-esquerda, aos católicos progressistas e à maçonaria que, ao longo de muitos anos no período anterior ao dia que se comemora, utilizando o associativismo e publicações clandestinas, incutiram ideais de liberdade e contestação num povo amordaçado.
Este papel foi fundamental para o sucesso da revolução: acender um fósforo numa floresta húmida, não causa nenhum dano; contudo, se for capim, as proporções são muito diferentes. Felizmente o capim ardeu, levando consigo o fósforo.
No período seguinte, Sá Carneiro, Mário Soares, Eanes, Adelino Amaro da Costa, apenas para citar alguns, foram de vital importância para o estabelecimento da ordem institucional e da entrada de Portugal no grande projecto europeu de caminho para a paz e a prosperidade económica e social que é a Comunidade Europeia.
Após isso, Cavaco Silva – o melhor Primeiro Ministro que Portugal conheceu – cumpriu algo fundamental num estado livre: a devolução das empresas aos empresários e a abertura da comunicação-social, TV, aos privados. O estado deve ter um papel activo na defesa, justiça e ordem pública, saúde, educação, solidariedade-social e, em algumas aspectos, um papel regulador. Em tudo o resto deverá sair e dar “liberdade ao risco”, à visão estratégica dos empresários e dos seus funcionários.
Ou seja, a liberdade foi conquistada por todos e todos tiveram um papel importante na sua conquista. Assim foi e assim é sendo, por isso, o 25 de Abril o dia de todos e não apenas o dia de algumas forças, o dia de algumas pessoas.
Falta cumprir Abril? Falta: precisamos de um sistema de justiça mais célere, necessitamos de uma real separação dos poderes, é necessária uma responsabilização da população e dos seus governantes pela preservação do bem-publico.
Contudo, o 25 de Abril foi em 1974, sendo que a Carta Magna foi escrita em 1215: o nosso sistema é jovem sendo nós, por isso mesmo, merecedores de confiança e respeito por tudo o que fizemos e alcançamos em tão pouco tempo.
Todas estas razões são motivo de orgulho e, os dois feriados, deveriam ser aproveitados para: festejar a liberdade de opção e a liberdade de imprensa, festejar o direito ao voto, festejar o direito ao trabalho, festejar o direito de se fazer parte de uma sociedade que se pretende justa. Abraçar o amigo, o vizinho, o desconhecido. Apontar os defeitos do sistema mas honrá-los.
Todos somos importantes na sociedade e é em liberdade que mais se sente isso. Portanto, nos festejos, deverá estar o rico e o pobre, o patrão e o empregado, a esquerda e a direita, o polícia e o ladrão, o operário e o contabilista, o camponês e o advogado, o mecânico e o actor, etc., todos por igual.

A mercearia - 14


Como todos sabem sou um desportista assíduo, federado, que, além das provas de automobilismo e por forma a obter a condição física necessária para ter níveis de desgaste físico e concentração dentro dos parâmetros ditos aceitáveis, pratico outros desportos.
Este gosto pelo desporto vem desde muito novo – fui para a natação ainda antes dos dois anos, na Escola Livre de Azeméis, pratiquei ténis durante nove anos, no CTA, joguei basquete, na Oliveirense, andei na equitação e ingressei no automobilismo- e foi encarado como tradição familiar: o Avô Heitor foi dirigente da Oliveirense; o Tio Aníbal foi campeão no ténis, pela Oliveirense, campeão no basquete, pela Académica de Coimbra, médico do Sporting e do Comité Olímpico Português; o Tio Simplício foi campeão de ténis, pela Oliveirense; o Pai foi atleta da Mocidade Portuguesa (numa altura em que quase todos os jovens teriam que pertencer à propaganda do Estado, quer quisessem ou não), da Oliveirense, da Escola Livre, do CTA, dirigente, também, do CTA; o Tio Zé Manel foi, até há bem pouco tempo, dirigente do Sporting. Ou seja, eu cresci a ouvir falar de desporto e prática desportiva, entre jogos ao ar-livre, balneários, tardes de domingo a ver a RTP 2, etc..
Por tudo isto, sempre considerei o desporto como um factor agregador da sociedade, de inclusão, onde, após o árbitro soar o apito, o semáforo passar a verde ou após a “moeda ao ar”, não há ricos nem pobres, não há brancos pretos ou amarelos, não há quezílias, não há diferenças. O que existe, a partir desse momento, é tão e só a vontade de ganhar, de ser o primeiro, de levar para casa os louros; tudo dentro das regras, do desportivismo e da camaradagem.
Assim, o desporto incute nas pessoas o espírito guerreiro e de conquista mas, também, a compreensão, a amizade, o respeito, a hierarquia, a lei. Ajuda-nos a sermos educados, a tratar todos de igual para igual, a compreender a função de cada um dentro de uma equipa e a reconhecer o valor do mecânico e do ponta-de-lança, ambos importantes, ambos vencedores e ambos derrotados.
O desporto, pelo que descrevi anteriormente, assume uma função vital na educação dos jovens e adultos porque é um caminho de compreensão e reconhecimento, que leva os povos à paz. Os Jogos Olímpicos foram, são, e espero que continuem a ser, durante muitos séculos, os jogos da paz e do intercâmbio mundial de culturas, raças e religiões.
É fundamental educar os nossos jovens – especialmente em alturas de grave crise financeira, económica, social e cultural – no respeito e compreensão pelo próximo, com base no desporto, de forma que todos possam conviver pacificamente. Por isso, é fundamental a criação de um plano de Desporto Escolar, é fundamental os clubes e as associações terem um papel educador/ integrador dos jovens, assumindo um papel social da comunidade.
Neste aspecto, a GEDAZ integrou um projecto europeu – Elys – que visou trazer para as escolas de Oliveira de Azeméis boas práticas desportivas, promovendo uma cultura desportiva com o apoio das famílias, fazer prevalecer o fairplay.
A GEDAZ, apesar dos momentos difíceis por que passam as empresas municipais por todo o país, não deixa de exercer o seu papel no desporto oliveirense, fulcral para a toda a sociedade.