Escrevo no dia em que se comemora o Dia do Trabalhador; para
mim, o feriado que mais se deve assinalar nos estados livres e de direito
democrático porque, se se vive do trabalho e para o trabalho – é discutível a
tributação do trabalho mas isso é tema para outra discussão, não tendo lugar
nesta crónica -, se é à custa dos rendimentos do trabalho que as populações têm
melhores condições de vida, que se pode construir um estado-social, mais justo
e coeso, é, no meu ponto de vista, um dia a ser assinalado.
Um dia que deve ser comemorado pelas pessoas e as suas
famílias, com os amigos, com os colegas de profissão mas sem o corporativismo
de outrora, lembrando comemorações pouco livres como as paradas em Berlim
Oriental, Moscovo, Pequim e um pouco espalhadas por todas as ditas democracias populares.
Na semana em que se comemora o Dia do Trabalhador, sendo
para mim o feriado dos estados livres e de direito democrático, comemorou-se o
dia mais importante do século XX português: o 25 de Abril de 1974 – sendo que a
liberdade, apesar da Revolução, só é completamente instaurada com o 25 de
Novembro, devido à audácia de um grupo de militares, politicamente apoiados
pelo PSD, PS e CDS que, durante mais de um ano, lutou por instaurar um sistema
democrático, representando todos os portugueses de igual forma, com sufrágio
livre e universal, terminando com todo o tipo de polícias políticas, colocando
os militares nos quartéis e estabelecendo a ordem institucional.
O 25 de Abril foi o dia da alteração do regime, caminhando-se
para a liberdade. Para a revolução acontecer e para ter tido o sucesso que
teve, deve-se, em grande parte, ao PCP, à extrema-esquerda, aos católicos
progressistas e à maçonaria que, ao longo de muitos anos no período anterior ao
dia que se comemora, utilizando o associativismo e publicações clandestinas,
incutiram ideais de liberdade e contestação num povo amordaçado.
Este papel foi fundamental para o sucesso da revolução:
acender um fósforo numa floresta húmida, não causa nenhum dano; contudo, se for
capim, as proporções são muito diferentes. Felizmente o capim ardeu, levando
consigo o fósforo.
No período seguinte, Sá Carneiro, Mário Soares, Eanes,
Adelino Amaro da Costa, apenas para citar alguns, foram de vital importância
para o estabelecimento da ordem institucional e da entrada de Portugal no
grande projecto europeu de caminho para a paz e a prosperidade económica e
social que é a Comunidade Europeia.
Após isso, Cavaco Silva – o melhor Primeiro Ministro que
Portugal conheceu – cumpriu algo fundamental num estado livre: a devolução das
empresas aos empresários e a abertura da comunicação-social, TV, aos privados.
O estado deve ter um papel activo na defesa, justiça e ordem pública, saúde,
educação, solidariedade-social e, em algumas aspectos, um papel regulador. Em
tudo o resto deverá sair e dar “liberdade ao risco”, à visão estratégica dos
empresários e dos seus funcionários.
Ou seja, a liberdade foi conquistada por todos e todos
tiveram um papel importante na sua conquista. Assim foi e assim é sendo, por
isso, o 25 de Abril o dia de todos e não apenas o dia de algumas forças, o dia
de algumas pessoas.
Falta cumprir Abril? Falta: precisamos de um sistema de
justiça mais célere, necessitamos de uma real separação dos poderes, é
necessária uma responsabilização da população e dos seus governantes pela
preservação do bem-publico.
Contudo, o 25 de Abril foi em 1974, sendo que a Carta Magna
foi escrita em 1215: o nosso sistema é jovem sendo nós, por isso mesmo,
merecedores de confiança e respeito por tudo o que fizemos e alcançamos em tão
pouco tempo.
Todas estas razões são motivo de orgulho e, os dois
feriados, deveriam ser aproveitados para: festejar a liberdade de opção e a
liberdade de imprensa, festejar o direito ao voto, festejar o direito ao
trabalho, festejar o direito de se fazer parte de uma sociedade que se pretende
justa. Abraçar o amigo, o vizinho, o desconhecido. Apontar os defeitos do
sistema mas honrá-los.
Todos somos importantes na sociedade e é em liberdade que
mais se sente isso. Portanto, nos festejos, deverá estar o rico e o pobre, o
patrão e o empregado, a esquerda e a direita, o polícia e o ladrão, o operário
e o contabilista, o camponês e o advogado, o mecânico e o actor, etc., todos
por igual.
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