Eu gosto de cidades e, de igual forma, gosto de aldeias e
pequenas vilas. Não gosto das duas por igual ao mesmo tempo porque não me
consigo refugiar nelas em tempos iguais. O que eu não gosto, mesmo nada, são
cidades que parecem aldeias, que perderam – ou nunca tiveram – o cosmopolitismo
necessário para ser cidade ou, de igual forma, aldeias que mais parecem
cidades, que ao invés de um baixo casario apresentam construções em altura e
uma vivência plástica. Neste caso passamos de uma rusticidade típica a um provincianismo
bacoco, tentando imitar – mal – o que se passa “lá fora”.
As cidades, as verdadeiras, as cosmopolitas, que têm
história a trespassar as ruas, são caracterizadas pelas enormes opções de
trabalho, cultura, diversão, recriação e espaços verdes. Centremo-nos aqui, nos
espaços de lazer e diversão arborizados, de extrema importância para renovar o
ar atmosférico, criar zonas de sombra nos meses mais quentes e capazes de
albergar pequenos pássaros.
Se pensarmos na cidade mais próxima de Oliveira de Azeméis,
o Porto, temos bairros típicos que contêm pequenos jardins e zonas arborizadas.
É assim em S. Lázaro, na Cordoaria, o Palácio de Cristal, a Praça Francisco Sá
Carneiro, Praça de Liége, Arca d´Água, Praça da República, etc.. Só depois
surgiu o Parque da Cidade.
Se pensarmos em Lisboa, entendemos a cidade de igual forma, com
pequenos jardins que vão desde Campo de Ourique à zona reabilitada da Expo, sem
esquecer, claro está, Monsanto.
Por esse mundo fora, cidades como Londres, Berlim,
Karslruhe, Bruxelas, Brasília, Washington, Oslo, etc., têm pequenos jardins,
pequenos espaços de lazer, por cada bairro.
Retomando a nossa pequena escala oliveirense, foi
apresentado pela Câmara Municipal o projecto Parque dos 11, que visa a
reabilitação da Feira dos 11: um espaço outrora importante para o comércio
oliveirense mas desde há muitos anos transformado num parque de estacionamento
desordenado, cheio de equipamentos avulsos e com árvores em avançado estado de
degradação, que apenas por sorte, não provocaram um acidente, tendo sido
necessário o seu abate.
O projecto apresentado para o Parque dos 11 tem como
conceito principal a vivência ao ar livre e a prática desportiva, interligado
através de um percurso associado a um ginásio e a um circuito de manutenção.
Terá um grande espaço relvado, sendo uma área multiusos capaz de albergar
várias funções – lazer, estadia e recreio. Para contemplação, uma grande
banqueta, permitindo uma visão periférica de todo o espaço.
O que foi proposto e debatido foi uma requalificação do
actual espaço, tendo em conta o período de audição pública que decorreu até 15
de Março, criando pela primeira vez um verdadeiro espaço de lazer naquela zona
da cidade, contemplando o uso dos outros equipamentos aí existentes, e pensado
nas pessoas.
Serão plantadas o dobro das árvores que existiam, Bétula
Alba, uma espécie autóctone, portuguesa. Serão igualmente plantados hydrangeas
e cornos alba, que darão ao parque tonalidades brancas, na primavera, e
avermelhadas no outono. O espaço será intervencionado e dará vida a Oliveira de
Azeméis!
Ficou-se também a saber que a médio prazo os passeios da
cidade serão repensados, intervencionados e arborizados, por forma a dar beleza
à cidade e a criar pontos de ligação entre os vários espaços verdes, como sejam
o Parque dos 11, o Jardim Público, Praça da Cidade, Av. D. Maria, a Alameda em
frente à Escola Soares de Basto e, claro está o ex-libris, Parque de
La-Salette.
Neste conjunto de espaços intervencionados, não podemos
esquecer igualmente as margens do rio Caima, em Palmaz, o Parque Molinológico
de Ul, espaços intervencionados em S. Roque, a praça em Carregosa, etc..
Ou seja, Oliveira de Azeméis, a cidade e o concelho, estão a
criar pequenos espaços verdes que têm a capacidade de proporcionar momentos de
lazer em família, contemplação da natureza e a prática desportiva, a exemplo
das grandes cidades mundiais.
Após esta intervenção e os melhoramentos que se pretendem
nas ruas e passeios, Oliveira de Azeméis poderá pensar num Parque da Cidade, a
exemplo do Porto, a exemplo de Lisboa e de outras cidades. Só o deverá fazer
nessa altura porque caso contrário poderá cair num provincianismo bacoco, visto
bem perto de nós, de termos cidades com grandes parques da cidade mas não
existindo espaços de proximidade com as zonas residenciais.
Na mesma
semana que a arquitecta Maria Luís Gonçalves, em nome dos técnicos da Câmara
Municipal de Oliveira de Azeméis, apresentou o projecto Parque dos 11, Gonçalo
Ribeiro Telles, o mais conhecido e conceituado arquitecto paisagista português
foi galardoado com o Prémio Sir Geoffrey Jellicoe, o “Nobel”
da arquitectura paisagista. Este prémio, que deve enobrecer todos os
portugueses, é a prova do valor dos nossos arquitectos e das nossas escolas de
arquitectura e mostra, também, como a organização do território contemplando
espaços de lazer em comunhão com a natureza é cada vez mais actual.
Para terminar apenas duas notas: a primeira,
de apreço, para com Leonel Martins da Silva, uma voz sempre a ter em conta no
universo socialista oliveirense, que ouviu a explicação do projecto, parabenizou-a
e deu sugestões válidas para o médio-prazo.
Em sentido inverso, depois de tanta tinta que
correu nos jornais e caracteres gastos no Facebook e Twitter, não vi na sala
nenhum dos “grandes oliveirenses” que falaram de tempos idos – da sua
meninice e juventude, do preservar a memória histórica de um povo nem que fosse
apenas um “cancro” na cidade-, que criticaram a Câmara Municipal pelo abate das
árvores, que disseram cobras e lagartos do poder executivo camarário. Ninguém.
Afinal, nunca lhes ocorreu no pensamento a melhoria da Feira dos 11, nunca a
segurança pública oliveirense foi motivo de preocupação: o que fizeram foi, tão
e só, escárnio e maledicência gratuita, numa necessidade atroz de serem do contra
e de aparecerem na comunicação a dizer qualquer coisinha.
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