sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Discurso proferido na entrega de prémios de mérito escolar do Rotary Club de Oliveira de Azeméis


Imaginem um caminhante, de botas impermeáveis nos pés, com roupa confortável, chapéu, uma mochila que contém comida e agasalhos. Imaginem esse caminhante a percorrer um caminho, ao longo de um rio, perto do sopé de uma montanha. Outros caminhantes acompanham o nosso homem…

Entretanto o caminho vai estreitando e a caminhada em grupo começa a ser de difícil progressão… Passados uns tempos, começar a subir.

Com a subida vem o calor inicial, fazendo-o ir buscar água à mochila. Depois cai a chuva, tornando o percurso melancólico. As roupas colam ao corpo devido à água e só um agasalho mais forte o consegue deixar de pensar nas adversidades. Mais uns passos e tem fome. Socorre-se novamente da mochila.

Aparecem animais rasteiros, coelhos mas também lagartos e pequenas cobras que causam alguma estranheza para, de seguida, virem animais de grande porte e as aves de rapina que obrigam a uma atenção redobrada e a uma corrida cheia de adrenalina!

A subida continua e agora é o frio que incomoda o caminhante. Saem umas luvas e um cachecol da “casa ambulante” que leva às costas. Quando se habitua ao frio, quando a neve já não incomoda, vem a solidão.

Quase a chegar ao topo, já a grande altitude, falta o oxigénio, aquele bem tão essencial que nem damos conta… mas o homem, a respirar mal, cansado, com a roupa num estado bem diferente daquele que estava no inicio da subida, continua, gasta as ultimas forças e continua.

Chegou ao topo!

No planalto olhou e viu apenas o céu azul: nem uma nuvenzinha a separar o homem do universo infinito que se lhe depara.

Aquele homem, aquele caminhante, são vocês: catorze alunos brilhantes, apoiados numa mochila, no calçado confortável e na força de vontade, capazes de atravessarem todas as dificuldades em prol de um objectivo.

Parabéns!

Estando na presença de pessoas de jovens brilhantes, cometo a ousadia de citar Oscar Wilde:

'É absurdo falar da ignorância da juventude. Hoje em dia só tenho algum respeito pelas opiniões das pessoas muito mais novas do que eu. Parecem-me estar à minha frente. A vida revelou-lhes a sua última maravilha. Quanto aos velhos, contradigo-os sempre. É uma questão de princípio. Se lhe pedirmos opinião sobre uma coisa que aconteceu ontem, eles dão-nos solenemente as opiniões correntes em 1820, quando as pessoas usavam golas altas, acreditavam em tudo e não sabiam absolutamente nada...'

Parabéns, vocês são os líderes do amanhã.

E agora?!

Cada um de vós é o melhor aluno da vossa escola. Não chega?! Não, porventura não.

O mercado de trabalho, pela crise que vivemos, pelo número cada vez maior de quadros médios e superiores, é uma malha cada vez mais estreita e, infelizmente, o desemprego nos jovens licenciados é cada vez mais elevado.

Talvez por isso, quando íamos às vossas casas anunciar que iriam receber o Prémio de Mérito Escolar, ouvimos os vossos pais, muitas vezes, a lamentarem-se do grande esforço que fizeram, e de toda a vossa dedicação para, provavelmente, terem que ir prosseguir a vida profissional no estrangeiro.

Vão.

Somos portugueses e historicamente tivemos sempre uma ambição muito maior que aquilo que este pequeno território nos pode oferecer. Por isso fizemos coisas grandiosas e demos “novos mundos ao mundo”.

Se não fosse esta ambição das “cabeças pensantes”, de gente tão extraordinária como vocês, nunca tínhamos vencido em Aljubarrota, nunca teríamos chegado a Ceuta, nem à Índia, ao Brasil ou a Macau. Nunca teríamos construído este verdadeiro império de cultura, de Camões a Mia Couto, do Padre António Vieira a Vinícius de Morais, de Pessoa a Pepetela, baseado na língua portuguesa e que abrange 250 milhões de pessoas em todo o mundo.

Este mundo da lusofonia é o vosso primeiro mercado de trabalho.

Por isto que referi, pela nossa história, por algo superior a nós - porque já está no nosso sangue - digo: “vão”.

E também digo “ mas voltem”. Saiam bons de Portugal e regressem como os melhores.

Antes dos descobridores irem para África, Ásia e América, Portugal era um país remediado, confinado a um espaço entre a Serra da Estrela e o Atlântico, do Rio Minho até aos Algarves. Depois das descobertas e por um período de 75 anos, antes do catolicismo atroz implementado por D. Manuel I, Portugal foi a nação mais poderosa do mundo.  

Tenham sempre isto em mente: vão viver o mundo, vão beber a cultura dos outros povos e enriqueçam como pessoas, como profissionais e, claro está monetariamente. Façam isso e depois voltem.

Voltem porque as vossas famílias, os vossos pais, irmãos, tios, avós, necessitam de vocês.

Voltem porque as empresas portuguesas necessitam de mais e melhores quadros e vocês, pelo vosso percurso, devem ajudá-las.

Voltem porque o país necessita de mais e melhores pessoas.

O lema de Rotary é “ dar de si antes de pensar em si”. Penso que é um lema que não se deve aplicar apenas a Rotary mas a toda a vida comunitária sã. Por isso voltem porque a vossa terra necessita de vocês, as associações necessitam de gente que dê o exemplo de trabalho e de conquista e que esteja disposta a ajudar os outros.

Voltem para a associação cultural, para o clube desportivo, para os partidos políticos.

Como iniciei com Oscar Wilde “Hoje em dia só tenho algum respeito pelas opiniões das pessoas muito mais novas do que eu. Parecem-me estar à minha frente.”.

Parecem-me estar à minha frente um grupo de académicos brilhantes que têm tudo para serem profissionais empenhados e pessoas dignas.

O futuro pertence-vos e são vocês os donos dele.

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