Imaginem
um caminhante, de botas impermeáveis nos pés, com roupa confortável, chapéu,
uma mochila que contém comida e agasalhos. Imaginem esse caminhante a percorrer
um caminho, ao longo de um rio, perto do sopé de uma montanha. Outros
caminhantes acompanham o nosso homem…
Entretanto
o caminho vai estreitando e a caminhada em grupo começa a ser de difícil
progressão… Passados uns tempos, começar a subir.
Com
a subida vem o calor inicial, fazendo-o ir buscar água à mochila. Depois cai a
chuva, tornando o percurso melancólico. As roupas colam ao corpo devido à água
e só um agasalho mais forte o consegue deixar de pensar nas adversidades. Mais
uns passos e tem fome. Socorre-se novamente da mochila.
Aparecem
animais rasteiros, coelhos mas também lagartos e pequenas cobras que causam
alguma estranheza para, de seguida, virem animais de grande porte e as aves de
rapina que obrigam a uma atenção redobrada e a uma corrida cheia de adrenalina!
A
subida continua e agora é o frio que incomoda o caminhante. Saem umas luvas e
um cachecol da “casa ambulante” que leva às costas. Quando se habitua ao frio,
quando a neve já não incomoda, vem a solidão.
Quase
a chegar ao topo, já a grande altitude, falta o oxigénio, aquele bem tão
essencial que nem damos conta… mas o homem, a respirar mal, cansado, com a
roupa num estado bem diferente daquele que estava no inicio da subida,
continua, gasta as ultimas forças e continua.
Chegou
ao topo!
No
planalto olhou e viu apenas o céu azul: nem uma nuvenzinha a separar o homem do
universo infinito que se lhe depara.
Aquele
homem, aquele caminhante, são vocês: catorze alunos brilhantes, apoiados numa
mochila, no calçado confortável e na força de vontade, capazes de atravessarem
todas as dificuldades em prol de um objectivo.
Parabéns!
Estando
na presença de pessoas de jovens brilhantes, cometo a ousadia de citar Oscar
Wilde:
'É
absurdo falar da ignorância da juventude. Hoje em dia só tenho algum respeito
pelas opiniões das pessoas muito mais novas do que eu. Parecem-me estar à minha
frente. A vida revelou-lhes a sua última maravilha. Quanto aos velhos,
contradigo-os sempre. É uma questão de princípio. Se lhe pedirmos opinião sobre
uma coisa que aconteceu ontem, eles dão-nos solenemente as opiniões correntes
em 1820, quando as pessoas usavam golas altas, acreditavam em tudo e não sabiam
absolutamente nada...'
Parabéns,
vocês são os líderes do amanhã.
E
agora?!
Cada
um de vós é o melhor aluno da vossa escola. Não chega?! Não, porventura não.
O
mercado de trabalho, pela crise que vivemos, pelo número cada vez maior de
quadros médios e superiores, é uma malha cada vez mais estreita e,
infelizmente, o desemprego nos jovens licenciados é cada vez mais elevado.
Talvez
por isso, quando íamos às vossas casas anunciar que iriam receber o Prémio de
Mérito Escolar, ouvimos os vossos pais, muitas vezes, a lamentarem-se do grande
esforço que fizeram, e de toda a vossa dedicação para, provavelmente, terem que
ir prosseguir a vida profissional no estrangeiro.
Vão.
Somos
portugueses e historicamente tivemos sempre uma ambição muito maior que aquilo
que este pequeno território nos pode oferecer. Por isso fizemos coisas
grandiosas e demos “novos mundos ao mundo”.
Se
não fosse esta ambição das “cabeças pensantes”, de gente tão extraordinária
como vocês, nunca tínhamos vencido em Aljubarrota, nunca teríamos chegado a
Ceuta, nem à Índia, ao Brasil ou a Macau. Nunca teríamos construído este
verdadeiro império de cultura, de Camões a Mia Couto, do Padre António Vieira a
Vinícius de Morais, de Pessoa a Pepetela, baseado na língua portuguesa e que
abrange 250 milhões de pessoas em todo o mundo.
Este
mundo da lusofonia é o vosso primeiro mercado de trabalho.
Por
isto que referi, pela nossa história, por algo superior a nós - porque já está
no nosso sangue - digo: “vão”.
E
também digo “ mas voltem”. Saiam bons de Portugal e regressem como os melhores.
Antes
dos descobridores irem para África, Ásia e América, Portugal era um país
remediado, confinado a um espaço entre a Serra da Estrela e o Atlântico, do Rio
Minho até aos Algarves. Depois das descobertas e por um período de 75 anos,
antes do catolicismo atroz implementado por D. Manuel I, Portugal foi a nação
mais poderosa do mundo.
Tenham
sempre isto em mente: vão viver o mundo, vão beber a cultura dos outros povos e
enriqueçam como pessoas, como profissionais e, claro está monetariamente. Façam
isso e depois voltem.
Voltem
porque as vossas famílias, os vossos pais, irmãos, tios, avós, necessitam de
vocês.
Voltem
porque as empresas portuguesas necessitam de mais e melhores quadros e vocês,
pelo vosso percurso, devem ajudá-las.
Voltem
porque o país necessita de mais e melhores pessoas.
O
lema de Rotary é “ dar de si antes de pensar em si”. Penso que é um lema que
não se deve aplicar apenas a Rotary mas a toda a vida comunitária sã. Por isso
voltem porque a vossa terra necessita de vocês, as associações necessitam de
gente que dê o exemplo de trabalho e de conquista e que esteja disposta a
ajudar os outros.
Voltem
para a associação cultural, para o clube desportivo, para os partidos
políticos.
Como
iniciei com Oscar Wilde “Hoje em dia só tenho algum respeito pelas opiniões das
pessoas muito mais novas do que eu. Parecem-me estar à minha frente.”.
Parecem-me
estar à minha frente um grupo de académicos brilhantes que têm tudo para serem
profissionais empenhados e pessoas dignas.
O
futuro pertence-vos e são vocês os donos dele.