" O país tem 15% (?) de desempregados. Está sob tutela externa. Não tem dinheiro
para mandar cantar um cego. Está a fazer cortes brutais em áreas sociais, como
Educação e Saúde. Está a ver se sai da recessão. É este país, cercado de
problemas, que perde um dia inteiro a discutir a promoção do Pingo
Doce. Até na Assembleia da
República...
Faz sentido? A resposta desdobra-se em dois planos: o do
consumidor e o da classe política. Primeiro o consumidor. Faz sentido criticar
quem foi às compras? Não. O consumidor é racional e uma promoção de 50% (que
devia ter sido preparada com mais cuidado, é verdade) faz diferença. Não
perceber isso é ignorância.
Agora a classe política. A Jerónimo
Martins violou a lei? Só se tiver feito “dumping”. E enquanto as autoridades
(Autoridade da Concorrência, ASAE, tribunais) não se pronunciarem sobre isso, o
assunto aconselha prudência. Foi o que fez a classe política? Não. Primeiro
alguns deputados meteram os pés pelas mãos, tentando crucificar a Jerónimo
Martins (ai os recalcamentos…!). Depois acabaram a afirmar que houve dumping,
“substituindo-se” às autoridades. Pergunta: e se as autoridades concluírem que
não houve dumping? Voilà: não acontece nada aos deputados. Têm
imunidade…
Mas voltemos ao essencial: como é que uma promoção se
transformou no principal assunto de discussão política? Não há assuntos mais
importantes para tratar? Claro que há. Mas a matéria prestava-se ao folclore:
dos sindicatos e da classe política, sobretudo da que está mais à Esquerda. A
“jornada de luta” do 1º de Maio foi uma desilusão tão grande (obnubilada por uma
simples campanha comercial), que era preciso esconder o fracasso a todo o
custo."
Camilo Lourenço
quinta-feira, 3 de maio de 2012
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Este tipo de "fenómenos" e acontecimentos "extraordinários" caem bem, sim, quando convém (a uns ou outros) camuflar o que vai menos bem e fica melhor no esquecimento.
ResponderEliminarQuanto à promoção em si, causadora da polémica, dá um belíssimo caso de estudo. Primeiro e porque me diz algo em especial, para quem trabalha em marketing/comunicação. Segundo e mais importante porque noutro contexto talvez nunca chegasse a acontecer. Situações como esta vão-se repetir.
Consumidores fragilizados, com poucos recursos e orçamentos encolhidos vão sempre aderir em massa a estas iniciativas, sejam melhor ou pior conduzidas por quem as levar a cabo. A publicidade e buzz gerado fazem com que valha a pena para as segundas (o Pingo Doce já declarou que vai repetir a campanha ainda este ano).
Portanto, num país que enfrenta desemprego, cortes, recessão faz ainda mais sentido que não se deixem passar momentos destes em branco - sob risco de ficarmos ainda mais à mercê dos "grandes".