quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Discurso proferido na entrega de prémios de mérito escolar do Rotary Club de Oliveira de Azeméis

Olhando para esta plateia tenho que dizer bem alto: parabéns.

Estou em frente aos líderes de amanhã, estou em frente a pessoas, a jovens, que, através do seu esforço, fruto do seu trabalho, com o apoio das suas famílias conseguiram sobressair numa imensidão de cabeças pensantes e que estão aqui hoje a receber um merecido prémio.
Parabéns.

Olhando para esta plateia parece que não há mais nada a dizer, parece que o mérito escolar, só por si, é um fim em si mesmo.
Felizmente que não é: estou aqui em frente a futuros engenheiros, médicos, advogados, professores, um número infinito de profissões mas, sobretudo, estou aqui em frente a pessoas, a jovens e é como jovem que vos vou falar.

Há muitos anos atrás tomei conhecimento do que era vida quando li uma conferência médica do Professor João Lobo Antunes e que mais não era do que uma viagem aos moinhos de D. Quixote, ao seu amor por Dulcineia e a voz realista de Sancho Pança.
Nessa altura descobri o que era erudição, o conhecimento adquirido por horas de estudo e de leitura que tinham levado o médico João Lobo Antunes a abordar um outro tema para explicar o que verdadeiramente pretendia.  

Mas ele é médico, não poderia utilizar termos médicos? Podia, mas a alegria que se conquista pelo conhecimento alargado de temas não lhe permitiu fazer isso.
O termo “erudito”, pelo tempo em que vivemos e pela quantidade tão abrangente de informação que dispomos caiu em desuso. Actualmente é preferível dizer “vida” ou que alguém é um “cidadão do mundo”.

E é esse exemplo que vos quero transmitir aqui hoje: a vida que se ganha paralelamente ao estudo, contemplando-o e completando-o, e que vos pode tornar especiais.
Se pensarem na família Lobo Antunes, João, António e a Paula, têm todos percursos académicos brilhantes mas também se distinguiram na escrita e na representação.

Se pensarem em António Gedeão, foi professor de físico-química e escritor.

José Megre era engenheiro mas também um dos mais completos viajantes portugueses e autor de livros e filmes de viagens fantásticos.
Cavaco Silva, muito antes de ser Presidente da República ou Primeiro-Ministro era um economista brilhante mas também foi do Benfica.

O Chefe José Avillez, antes de passar pelas cozinhas do El Bulli e do Tavares formou-se em comunicação empresarial e foi aí que descobriu o gosto pela cozinha.
Ainda hoje Rui Rio é lembrado como um dos melhores presidentes que a Associação de Estudantes da FEP algum dia teve, para além de ter pertencido a uma banda musical.

Não só em Portugal mas também no estrangeiro abundam os casos de pessoas com carreiras académicas brilhantes mas que ao mesmo tempo se destacam noutras áreas. Brian May, conhecido guitarrista dos Queen, possuí um doutoramento e tem vários livros publicados na área da astrofísica.
Estes exemplos servem para vos dizer que vocês já têm um percurso académico brilhante mas que a isso podem juntar vida, mundo, tornando-vos especiais.

Leiam, escrevam, convivam com os amigos, façam Erasmus, viajem no Inter-rail, vão ao cinema, inscrevam-se no voluntariado, militem na política, joguem futebol, jogging, surf, ski, acampem, reconstruam um carro, construam um veleiro, façam teatro, pintem, divirtam-se... tudo com um sorriso, porque sorrindo é muito mais saboroso.
Com estas actividades vocês podem contemplar a vossa formação, podem aprender coisas que não se aprendem nos bancos da universidade, aprendem a superar dificuldades e objectivos pré-definidos ,e com certeza, vão ter ainda mais orgulho em vocês.

Além disto, desta satisfação, têm algo mais a escrever num CV e com isso ganham pontos extra quando alguém estiver a ler a vossa vida académica e a compará-la com a de outro estudante com igual média.
No outro dia, o antigo reitor da Universidade do Minho, ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros e ex-Eurodeputado João de Deus Pinheiro disse na televisão que gostava muito de ver um CV de alguém que tivesse terminado o curso com uma média elevada; mas que gostava ainda mais do CV de alguém que até nem poderia ter uma média tão elevada como a do colega mas que, por exemplo, durante os seus anos de curso tivesse pertencido a uma associação porque isso indicava que a pessoa em questão tinha aprendido mais do que aquilo que lhe era dado na faculdade.

Está à minha frente uma plateia de jovens brilhantes que, para chegarem aqui, deverão ter estudado 20 ou 25 horas por semana fora o horário das aulas. Muito bom!
Mas daqui, para o futuro, lanço um desafio: em vez de 25 horas semanais para o estudo, dediquem apenas 23.

As duas horas que vão retirar ao estudo vão ganhar noutra actividade: inscrevam-se num grupo de voluntariado – inscrevam-se no Rotaract por exemplo. Durante essas duas horas semanais esqueçam o estudo e dêem o melhor de vós pelos outros. Apliquem, na prática, aquilo para que estudaram e, ainda mais importante, aquilo que sonharam.

Vão ver que vai valer a pena e que vocês se vão sentir especiais.

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