sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Rio de Janeiro

A poucas horas de embarcar no Tom Jobin para regressar a Portugal, envolvido ainda pelo calor Carioca, escrevo este texto para a posteridade; para quando regressar poder comparar.

Abro um pequeno parêntesis para contar que a minha viagem para o Rio, via Madrid, foi deveras atribulada devido à greve dos controladores espanhóis e da tempestade que assolou a Cidade Maravilhosa. Devido a isso, ao excesso de horas no ar, consegui ler e reler de uma assentada as crónicas de Paulo Rangel no Público e Independente, compiladas no seu livro " Uma Democracia Sustentável".

Excelente linha de pensamento, independente, culta e erudita.

Voltando ao Rio, com o melhor guia possível ( melhor mesmo só os Nossos heróis Chico, Vinicius ou Tom) recebo " O incidente de Antares", escrito com base na esquerda brasileira e amado por todos. Foi a melhor forma de conhecer a história política, social e cultural de um povo.





Com essa visão percorri o Rio de uma ponta a outra, de Sta. Teresa ao Leblon, do Recreio a Niteroi, a Lagoa, o Botânico, os turísticos Pão-de-Açúcar e Redentor, a não menos turística Avenida Atlântica, a Lapa e as suas concorridas noites. Fui ao teatro e vi músicos de rua. Fui ao Shopping Leblon e aos Camelô. Falei com médicos, advogados, engenheiros e com donas de casa, aposentados, vendedores de rua. Comi nos melhores sítios e também queijinho coalho com oregãos, na praia ( não apareceu a ASAE e o queijo não me fez mal. Também fiquei com a impressão que os inspectores de tal policia, quando vêm para estas bandas, o comem na praia sem nenhum controlo sanitário). Andei pelas ruas, sozinho ou acompanhado, a pé, de carro, metro, autocarro e até pelo ar!





Descrevo tudo isto para afirmar que esta viagem ao Rio serviu para apagar alguns mitos urbanos e criar outros.





Por exemplo, não senti insegurança nas ruas. É óbvio que há ladrões de carteiras e telemóveis mas, excepção feita à policia e seguranças, não vi ninguém empunhando uma arma.

Outro exemplo, cultural, é a musicalidade da cidade. Todos cantam e dançam, fazendo-o ao som dos clássicos da música brasileira, do samba e da bossa-nova. Não ouvi coisas como a Ivete, Leandro e Leonardo, Fábio Júnior, coisas que chegam a Portugal e me fazem pensar: como está triste a cultura brasileira. O Rio reinventa-se todos os dias.

Li jornais diários, Globo e o Destak. Gostei de ler que chamam ditador comunista a Chavez, sem qualquer reserva. Temos muito a aprender com este povo!

No entanto, nem tudo são rosas. Obviamente!

Penso que o Rio tem três problemas graves e que se poderão resolver, caso haja vontade política para isso. Resolvendo estes problemas, o Rio não tem nada a perder para cidades como Nova Iorque, Londres, Barcelona, Singapura ou Tóquio.

O primeiro problema é o da segurança. Apesar de acima ter escrito que não senti insegurança na rua, foi porque andei a maior parte do tempo de calções, t-shirt e sapatilhas, sem relógio, sem telemóvel ou câmara fotográfica à mostra. No entanto, acredito que muita gente, muitos turistas e locais, tenham sido assaltados no Rio e que digam que é uma cidade perigosa. Não basta dizer que o Rio é seguro, é preciso mostrá-lo e tal tarefa fica complicada quando se tem imensas favelas dentro da cidade.

Outro problema é o transito. É caótico, sem nenhum controlo, onde todos passam os sinais vermelhos apenas porque sim, onde não existem corredores para táxis e autocarros e estes zig-zagueiam no meio dos outros carros. Não existe respeito pelos peões nem bicicletas.

Como se pode aumentar a produtividade de um povo se estes passam horas no tráfego, horas essas que poderiam ser aproveitadas para trabalhar ou descansar?

Por último, por força da minha chegada no meio de um temporal, vejo como um problema a saúde pública, a água e o saneamento.
Quando cheguei, a cidade estava alagada, um autêntico rio em delta dentro do Rio. No dia seguinte as ruas estavam imundas, cheias de lixo e lama que descem dos morros até ao centro da cidade, sem nenhum tipo de controlo ou tratamento. Existem zonas da cidade em que o cheiro a esgoto é medonho.

É necessário resolver estes problemas e, com isso, o Rio será uma cidade de primeiro calibre. Como?

Na minha opinião, resolveriam-se estes problemas se se fizessem passar vias-rápida pelo centro da cidade, facilitando o acesso das populações dos diversos bairros ao centro, ás suas áreas de trabalho e laser.
Essas mesmas vias-rápida passariam estrategicamente pelas favelas, fazendo com que essas pessoas tivessem que ser realojadas.

Para esse realojamento, seria necessário construir habitação social: controlada, com água e saneamento, em zonas mais periféricas. Não resolvia o problema do tráfico de droga nem as milícias mas penso ser melhor ter pessoas a habitar num prédio do que numa barraca!

Assim poderia-se libertar o Rio do transito, das favelas e do mau cheiro.

É possível? É!

Caso os brasileiros tenham a sorte de elegerem um político com o slogan de Juscelino Kubitschek - 50 anos de progresso em 5 - e com a ousadia e audácia do Nosso Sá Carneiro e a habilidade de Alberto João Jardim ( o Rio é, em muitos aspectos, similar à Madeira), tudo isto é possível. Um político que pense a médio/ longo prazo, sem pensar em eleições ou na sua re-eleição, que não tenha medo de fazer investidas como as que foram realizadas no Complexo do Alemão, que não se importe com a sua segurança, que governe de pelo povo e com o povo.

Saio do Brasil contente porque vejo que este país tem tudo para ser uma potencia, pena que tenha sido mal governado durante tantos anos - e com a Dilma e o palhaço Tiririca, acredito piamente que ainda vai ser pior!

Saio com o desejo de voltar. Até qualquer dia meus amigos!

17 de Dezembro de 2010, Tijuca, Rio de Janeiro, Brasil

1 comentário:

  1. vou incluir este post para reler na minha viagem ao rio (seja ela qd for) e depois te direi... :)

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