segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Para que Conste

" A minha consciência obriga-me a tornar público um episódio que... sempre mantive privado, porque não me ocorreu fazer diferente. Em 2004, Santana Lopes era primeiro-ministro e eu mantinha, há uns anos, uma crónica de opinião semanal na Antena 1, cujo director se chamava Luís Marinho. Desde a tomada de posse que fui crítico contundente do Governo Santana Lopes, até que um dia o Luís Marinho me chamou e começou com uma conversa circular acabando por confessar que achava que a minha crónica devia ser substituída por um outro tipo de intervenção qualquer, talvez enquadrada com outros, e na qual ele iria meditar. Disse-lhe que não valia a pena quebrar a cabeça a pensar na alternativa: eu conhecia as regras do jogo. E ali mesmo me despedi, sem mais nem um tostão, deixando-o, ao que me pareceu, visivelmente aliviado. Hoje, depois de ter lido o depoimento do ex-subdirector da Antena 1, Ricardo Alexandre, não tenho dúvidas de que Luís Marinho continua fiel ao seu roteiro, tendo assim servido o Governo Santana Lopes, o Governo Sócrates e agora o Governo Passos Coelho/relvas — e sempre a subir. Acontece, porém, que Pedro Rosa Mendes é um grande jornalista e um grande escritor: o país deve-lhe. Quanto a Luís Marinho, sinceramente, não me recordo de qualquer coisa que o jornalismo lhe deva: um texto, uma reportagem, uma entrevista. É o meu testemunho, que ninguém me pediu: apenas para que conste."
 
Miguel Sousa Tavares, Expresso

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