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segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Os amanhãs que cantam

"Há uma obscena falta de vergonha incrustada no texto da moção de confiança que o Governo vai apresentar e que, por si só, é um retrato de uma política que, após as ingenuidades e ignorâncias iniciais, tem sido feita pelo dolo, para a manipulação e para o engano. Que haja intelectuais por detrás desta mistificação, faz-me confirmar uma velha desconfiança quanto à corrupção que a ambição traz ao pensamento. E mais: com esta moção, todos os membros do Governo passam a ser versões de Paulo Portas e a reverem-se no modelo de duplicidade sobrevivente do "irrevogável".

O que esta moção nos diz é uma completa mistificação desde a primeira letra. Diz-nos que havia um ciclo político pensado em duas fases: uma, o cumprimento do "programa", outra, o desenvolvimento e o crescimento. A crise governativa das últimas semanas foi o rito de passagem, a perda da pele da serpente, que permitiu abandonar a velha pele, para fazer reluzir a segunda. Ou seja, ainda bem que houve esta crise, catártica na sua bondade, para podermos, limpos e lustrais, apresentar um "novo ciclo" aos portugueses. Nada disto é verdade, nem o "programa" foi cumprido, bem longe disso, nem este "novo ciclo" estava previsto nestes termos na programação governativa, nem as vítimas da "austeridade" podem esperar qualquer alívio, nem as vítimas que se seguem, as da "reforma do Estado", podem escapar à desvalorização do seu trabalho e ao desemprego. O programa real continua, o virtual vem aí. Só que não é para os mesmos.

Cumpriu-se o "programa", apesar de nenhum dos números do défice e da dívida ter sido atingido? Podemos "regressar aos mercados"? Obtiveram-se os resultados miraculosos do "ajustamento"? Bem pelo contrário, o que Passos, Gaspar, Moedas e outros pensavam, em completa consonância com a troika, é que após uma varredela para o lixo da economia "ultrapassada", após o desmantelamento do Estado social, após a inversão das relações de poder na legislação laboral, após o fim dos "direitos adquiridos", depois da "libertação" da sociedade do Estado, após o "ajustamento" dos portugueses a viverem "de acordo com as suas posses", muito poucas, aliás, a economia exportadora, a economia desenvolvida tecnologicamente, a sociedade dinâmica dos "empreendedores" esmagasse os "piegas", sem que o Estado tivesse qualquer outro papel do que garantir a ordem pública e a hierarquia social estabelecida. O "arranque" viria da sociedade "libertada", e nunca jamais, em tempo algum, o Estado voltaria a ser "desenvolvimentista". 

Ora isto não aconteceu, nem podia acontecer, houve demasiadas "surpresas" e estes homens ficaram presos nas ruínas do seu discurso, arrastando-o, já não para construir o seu modelo utópico, mas para encobrir e remediar os estragos do que tinham feito. Já há algum tempo que as medidas sucessivas de austeridade se destinam não a qualquer "ajustamento", mas a tapar a ineficácia das anteriores. Gaspar percebeu isto e percebeu que o primeiro-ministro já estava a hesitar com o partido e eleições, e como precisava de uma determinação absoluta, foi-se embora. 

Passos ficou no ar, entre um discurso cuja simplicidade e "economês", feito de algumas leituras sobre Singapura, lhe era atractivo e as pressões partidárias e atribulações governativas. Continua no ar, lançando mais confusão do que clareza -, o discurso partidário de ruptura das conversações é o oposto do texto da moção de confiança e só passou uma semana - mas, como sempre disse, nunca me convenceram pessoas que se tornam ideólogos de uma coisa, quando essa coisa está na moda. E por isso, o Passos desenvolvimentista e socrático contra Manuela Ferreira Leite pode regressar a qualquer momento, até porque não foi assim há muito tempo. 

Não é hoje tão fácil fazer estas inflexões quando se tem o lastro dos desastres cometidos, mas não é impossível. No fundo, todos eles são Paulo Portas. A verdade é que Passos aprovou uma moção de confiança que, se tomada a sério, é uma crítica dura aos seus desvarios de engenharia utópica. Substituir Gaspar por Maduro, ambos tendo influência por via da insegurança académica de Passos, a mesma que o faz entrar mudo e sair calado dos Conselhos Europeus, pode ser reconfortante como mentor, mas não chega. E, por isso, o discurso governamental vai-nos dizer à saciedade que saímos de uma encruzilhada "má" para uma estrada "boa". Com a capacidade que tem a comunicação social para reproduzir a linguagem do poder, esta propaganda vai ser repetida sem prudência. Até ao dia em que tombará e o contrário será a norma. Tem sido sempre assim, com Sócrates e Passos, não vai ser diferente.

Claro que haverá algumas "medidas", nos impostos para as empresas, no IVA da restauração, na concertação social, com uma UGT desejosa de voltar ao "consenso", com um PS cujo compromisso real com este "novo ciclo" desconhecemos. E vamos admitir que há mesmo "sinais" de alguma recuperação da economia, como nos diz a propaganda governamental, seleccionando para o efeito os indicadores positivos e não falando dos negativos. Vamos admitir que estamos na véspera de uma "mudança", de "uma segunda oportunidade", de "uma nova fase". Vamos admitir isso tudo, mas não vamos admitir que nos digam que isso significa o que nos querem dizer que significa.

Vamos admitir que o "pior já passou", mesmo que se trate apenas de bater no fundo. Claro que há-de haver uma altura - não sei se ainda esta -, em que, estando tudo mal, já não se pode piorar. Na verdade, não é bem assim, pode-se sempre piorar, basta a passagem do tempo para o fazer. Um ano de empobrecimento não é a mesma coisa que três e quatro, e estar desempregado a única dinâmica que conhece é o passar do tempo, para pior.

Olhando estes "sinais", as perguntas que temos que fazer são duas. Uma, o que é que ficou para trás destruído sem recuperação, cujos restos estão por todo o lado, e como é que eles vão envenenar o presente e o futuro? Outra, bem mais importante e "subversiva", é que, se houver "recuperação", quem é que dela beneficia? A resposta politicamente correcta é que beneficia a todos. A resposta verdadeira é que a poucos, muito poucos, e aos mesmos de sempre. Talvez umas migalhas cheguem aos de baixo, ou nem isso, porque eles podiam lembrar-se de comprar electrodomésticos e lá se vão os números das importações.

Numa sociedade em que se agravaram os factores de exclusão e em que uma parte importante - classe média, desempregados, "novos pobres", mundo do trabalho desprotegido - perdeu todo o poder, os frutos de qualquer tímida "recuperação" seguirão as linhas de água profunda cavadas pela ruptura social na sociedade portuguesa e correrão para onde sempre correram. 

Este óbvio facto, de que ninguém que levou com a "crise" em cima vai beneficiar dos "sinais" em tempo da sua vida, é ocultado por um discurso político que foi reduzido nestes últimos anos ao "economês". Esse discurso não se vai embora apenas porque passamos a ter uma retórica política que fala do "crescimento" em vez do "rigor orçamental". Bem pelo contrário, pode até reforçar-se, moldando o modo como se vai ver a "recuperação" e os seus frutos, legitimando a continuação da austeridade para os mesmos e "libertando" alguns de impostos, regulações, limitações, leis. Leis, no limite da Constituição, um dos programas escondidos das "negociações" com o PS. 

O "novo ciclo" do Governo, naquilo que não é pura sobrevivência eleitoral, mas discurso de feiticeiro, serve para reciclar a linguagem do poder aos mesmos interesses de sempre. Mas a sua fragilidade é a mesma do discurso do "rigor orçamental". É mais agradável de ouvir, mais enleante, leva o PS à ilharga, foge da agressividade militante da engenharia utópica Passos-Gaspar, mas destina-se a manter o mesmo círculo de ferro que captura a democracia portuguesa por um establishment financeiro e de grandes empresas nacionais (cada vez menos) e estrangeiras, e de uma elite que aceita servi-las e aceita os seus limites de fogo daquilo que se pode ou não fazer. 

Visto de longe, sanitariamente de longe, este Governo, para se manter, fez todos os tratos com Cassandra e abriu todas as caixas de Pandora. É só esperar pelos resultados do "novo ciclo"."

quarta-feira, 3 de julho de 2013

O navio fantasma

"Querer manter a todo o custo o governo em funções é a pior estratégia para os interesses nacionais face "aos nossos credores". Não o perceber é típico da actual incompetência institucionalizada. Se Passos Coelho pensa que faz a ferro e fogo um "ajustamento" contra tudo e contra todos e que é isso que "os nossos credores" querem, está completamente enganado. Não só "os nossos credores" não confiam hoje na sua capacidade política de o fazer, como, depois da situação criada pela dupla demissão de Gaspar e Portas, os "nossos credores" o que vão exigir é que os três partidos PSD, CDS e PS façam um novo acordo.

As condições políticas para esse acordo não existem sem eleições, e ninguém imagina que o CDS e o PS possam hoje ter vontade política para fazer esse acordo, durante a troika e no pós-troika. E um governo isolado, bloqueado e a cair aos bocados, é a última coisa que pode acalmar os "nossos credores". Amanhã eles já estarão noutra, mesmo que não o digam. Por cá, a cegueira funciona assim."


José Pacheco Pereira in Abrupto

quinta-feira, 16 de maio de 2013

A mercearia - 16


Decorreu hoje, no cine-teatro Caracas, a sessão “Políticos de Palmo e Meio”. Uma iniciativa da Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis, que decorre desde 2006, que visa fomentar, em crianças de tenra idade, princípios básicos de democracia e cidadania, o conhecimento do concelho e dos órgãos executivos.
Numa altura em que é enraizado na nossa sociedade – ainda não percebi se propositadamente por grupos políticos radicais (de esquerda, de direita e anarquistas como, por exemplo, o movimento “ Que se lixe a Troika”, o “Movimentos 12 de Março” ou os “Indignados” ) ou se por descuido e ignorância – que todos os políticos são corruptos, que não são necessários, caindo-se numa falácia ao invés de se exigir justiça, convém envolver todos nas questões da democracia, começando pela representação, apresentação de ideias e discussão. A sessão “Políticos de Palmo e Meio” consegue tudo isso e desejo, com toda a sinceridade e esperança, que no futuro tenha frutos, conseguindo uma sociedade com pessoas cada vez mais informadas e interessadas pela causa pública.
O tema da sessão deste ano foi “Património” – um tema que não era fácil - e eu esperava ouvir discussões sobre o património no mundo de uma criança: a casa e a escola.
Por exemplo, ouvir os miúdos pedirem um parque de jogos novo, um baloiço, umas balizas para jogarem à bola, um jardim; quanto muito, uma cantina para a escola. Estava à espera de ouvir alguém dizer que conhece um colega que não se alimenta tão bem como ele e os colegas e perguntar porquê e o que poderá ser feito.
Contudo, ao ouvir crianças de nove e dez anos a falarem de “ Qren”, “ Adritem”, “sustentabilidade”, “percentagem de financiamento da Câmara Municipal” e afins, causa-me alguma estranheza. Ao ouvir tudo isto sem o sorriso e a espontaneidade típica de quem ainda não tem preocupações na vida, fez-me levar a pensar a tristeza dos nossos dias.
Crianças, a lerem papeis, claramente escritos por adultos, usados como arma de arremesso em jogos políticos cobertos pela comunicação social, repetindo questões levantadas na Assembleia Municipal, interpelando o Presidente da Câmara com o vigor de um oposicionista, em ano de eleições autárquicas, é, no mínimo, um abuso.
Espero que em 2014, quando se realizar a próxima sessão dos “Políticos de Palmo e Meio”, depois de passado o período eleitoral, devolvam a inocência aos miúdos de Oliveira de Azeméis.  

terça-feira, 14 de maio de 2013

O "memorando era o programa do PSD", como disse Passos Coelho, impante da sua importância e papel como sendo aquele que iria mudar a face do país, da economia, o grande modernizador, que iria combater os "vícios do passado" e os maus hábitos dos portugueses, cheios de direitos e "pieguice". O conteúdo das suas declarações iniciais, utópicas e proféticas, encontrou em Gaspar o típico executor burocrático que era suposto trazer a eficácia da tecnocracia para a prossecução da "revolução". Gaspar acabou por ser o Mestre e não o Executor, mas isso também era previsível. 

As opções radicais, milenares e proféticas, implicaram um excesso de zelo e uma pressa de rolo compressor, tentando esmagar a "velha" economia e os "velhos" hábitos o mais rápido e violentamente possível, para depois, sobre as ruínas, se erguer o Portugal disciplinado, competitivo e alemão. Por isso, nenhum acordo com o PS, nenhum sério envolvimento dos parceiros sociais, nenhum esforço de "consenso" tinham sentido. Era um programa para os fiéis sem dúvidas, obstinados e cegos a tudo o que não fosse o "ir para além da troika", "custe o que custar". E os fracos como o PS, os sindicatos e mesmo as confederações patronais, tinham de ser postos à margem porque não eram confiáveis. Ficavam apenas, dentro do círculo do poder, o sector financeiro, e a elite dos "sempre os mesmos", que circulavam de governo para governo, da banca, das consultoras financeiras e dos grandes escritórios de advogados. Mas isso era natural, porque o "programa" da troika e de Passos Coelho era o deles. "

José Pacheco Pereira

quinta-feira, 21 de março de 2013

A mercearia - 11


Mário Soares criticou a posição do "PS de Seguro", "que não pediu ainda a demissão do Governo," lembrando que "na política partidária, ou se está de um lado ou do outro" e sublinhando que "estar a meio caminho só serve para os partidos enfraquecerem".
O antigo Presidente, ao contrário daquilo que o seu CV e idade deveriam transmitir, parece um jotinha, tomando a partidarite como uma claque de futebol, em que tudo é branco ou preto, desconhecendo o mundo, a economia, a história e o humanismo, necessários, para se perceber que existem muito mais cores que moldam a visão e o rumo.
Não acredito que Soares seja assim. Acredito que outra coisa o move.
Antes de Soares, André Figueiredo e depois José Lello e Isabel Moreira, vieram clamar que o país esperava que o PS fizesse a apresentação de uma Moção de Censura ao Governo.
Para que querem os socialistas viúvos de Sócrates, e outros que não vão com a cara de Seguro, que o PS apresente uma Moção de Censura?
No actual quadro de representatividade na Assembleia, uma Moção de Censura ao Governo não passa porque não colhe a maioria dos votos dos deputados (a menos que Paulo Portas e o CDS estejam cansados de estar no Governo e decidam, desse modo, acabar com ele).
No entanto, na Moção de Censura e nos dias que a antecederem vamos ter o PSD a acusar o Governo de Sócrates pelo estado em que deixou o país, a assinatura do Memorando de Entendimento com a Troika e a actual crise.
A Seguro e ao PS restam apenas e só duas coisas: ou vão defender com unhas e dentes o anterior Governo, em plena Assembleia da Republica, legitimando todas as asneiras que foram feitas ou, não fazem nada.
Qualquer uma das soluções é má mas caso o PS não faça nada, os opositores de Seguro têm mais um argumento para pedirem eleições internas: o actual líder não é capaz de defender os seus camaradas de partido.
A pergunta que faço a todos é simples: o que ganha o país com isto?! Nada. Mas assim se faz oposição cá pelo burgo, assim se divertem os digníssimos senhores do Partido Socialista. 
Com a crise que vivemos, pessoas com a experiência de Mário Soares, José Lello, quiçá Pedro Silva Pereira, ao invés de contribuírem para a resolução do problema, olham para o umbigo.



João Rebelo Martins in Politica Queira Mais

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

A prova de fogo


"Ao fazer aprovar na Assembleia da República o OE 2013, o Governo passou o seu Rubicão e já não tem retorno possível: — a solução adoptada tem mesmo de resolver a crise, inverter a tendência recessiva e permitir o regresso de Portugal aos mercados financeiros internacionais, pondo termo ao método antigo de puncionar a liquidez da banca doméstica que assim fica sem dinheiro para as empresas e para as famílias. Repetir para 2014, certamente em tom maior, o que já não deu resultado em 2012 e agora é objecto de insistência, afigura-se politicamente impossível.
Não tinha porque ser assim! O memorando de entendimento com a Troika foi negociado pelo Governo anterior com pressupostos pelo menos errados, se é que não foram mesmo manipulados por má fé. O défice das contas públicas era afinal superior ao então admitido, conforme se veio a verificar posteriormente. O ajustamento orçamental exigido era já de todo impossível no curto prazo de três anos, entretanto estendido para quatro… Tornou-se óbvio que sempre precisámos de mais tempo e de mais dinheiro, só por teimosia se amarrando o Governo ao dikat socratiano, aliás apresentado ao País, com frivolidade, para não dizer com desfaçatez, pelo principal responsável da nossa derrocada financeira, como um mar de facilidades, com sacrifícios mínimos.
Alertei em tempos, no lugar devido, para o custo reputacional que o Governo sofreria ao adoptar uma medida expressamente negada durante a campanha eleitoral, nomeadamente a redução a metade do subsídio de Natal dos funcionários públicos e dos pensionistas logo no ano de 2011, agravada com a retirada total do mesmo e do subsídio de férias em 2012. Mas isto é já apenas uma memória longínqua no rol de incidentes do mesmo teor.
Julgo que foi mal avaliado o risco de descredibilização do Governo com situações dessas e outras e o impacto da mesma na necessária mobilização da sociedade portuguesa para as reformas necessárias, ditadas pela nossa participação no euro e pela nossa inserção na economia global. A persistente apresentação de previsões erradas e os constantes anúncios e recuos de novos gravames arrastam no mesmo sentido.
O Governo tem vindo a ficar isolado, sem prejuízo do apoio parlamentar assegurado pelos partidos da coligação, perante a crítica generalizada da opinião pública e a crescente indignação dos cidadãos, que não vêm nem finalidade nem fim para os cortes de benefícios e as exacções fiscais a que, em ritmo vertiginoso, são sujeitos.
Com efeito, a situação geral do País, em vez de melhorar, como o Governo promete e todos desejaríamos, tem vindo a degradar-se e basta ter os olhos abertos para comprovar o alastramento de uma verdadeira catástrofe. Ora, o enorme aumento de impostos determinado para 2013 vai reduzir contribuintes à insolvência, fazer falir muitas empresas, aumentar o desemprego. A entrada em aplicação das leis que facilitam os despedimentos e os despejos só pode piorar, inoportunamente, a fractura social.
Parece-me ter sido um erro a voluntariosa opção por ir além da Troika, quando a mais elementar prudência — que, como ensinam os clássicos, é a principal virtude requerida aos governantes — aconselhava a ater-se ao conteúdo programático do memorando de entendimento, alargando assim a base parlamentar e social de apoio ao cumprimento do mesmo, tão necessária à estabilidade interna e à credibilidade de Portugal perante o exterior. Aconselhei também neste sentido, quando o Governo estava ainda em formação, mas não fui ouvido. E deu-se assim carta de alforria ao PS, autor do memorando, que agradece o bónus e o utiliza abundantemente.
Ora o PS, até por uma questão de honra, não pode ficar de fora das responsabilidades pela solução do problema da nossa dívida soberana, cuja autoria lhe compete, abundantemente.
E tem um papel irrecusável na concretização das mudanças necessárias ao fortalecimento do regime democrático e à viabilização do Estado Social. A Maioria parlamentar e o Governo devem assegurar condições para isso."

domingo, 4 de novembro de 2012

Jerónimo de Sousa em O.Azeméis - III

Jerónimo de Sousa, uma pessoa que, apesar das nossas diferenças ideológicas, considero sério e integro para com os ideais que defende, esteve igual a si próprio. Ou seja, não trouxe nada de novo: colocou PSD, CDS, PS, Presidente da Republica e Troika no mesmo saco, falou contra as grandes empresas e as famílias que detêm o capital, relembrou Abril em contraposição com os "36 anos da velha política de direita".
Jerónimo de Sousa jogou uma partida de ténis entre o dinheiro disponível para a banca e o dinheiro que não está disponível para a produção. Falou um pouco de economia, focalizado na agro-industria e no sector extractor, falou um pouco da disparidade dos aumentos do IRS, em contraposição com o IRC, e pouco mais de palpável.
E andou assim à volta, a "tirar água sem caneco", a vociferar contra PSD, CDS, PS, Presidente da Republica, Troika, grandes empresas e as famílias que detêm o capital.

sábado, 15 de setembro de 2012

Manifestação apartidária?!

Dentro de algumas horas, nas principais cidades do país, vão-se concentrar pessoas manifestando-se contra a Troika, exigindo a demissão de Passos Coelho, exigindo a demissão de toda a classe política e muitas outras coisas, numa autêntica verborreia.

 
Amigos meus, democratas, votantes em todas as eleições, vão estar presentes. Eu não. Em Março de 2011, numa manifestação idêntica, na altura contra Sócrates, também não participei.
Por muita razão que todos nós tenhamos em nos manifestarmos contra a Troika, contra as políticas deste Governo, existindo o direito à indignação e à manifestação, temos que escolher a altura e os meios para o fazermos.
Vamos ter manifestações, porventura com milhares de pessoas, onde vão estar democratas, amantes da liberdades, cumpridores dos seus deveres como eleitores, vamos ter a extrema direita, vamos ter a extrema esquerda, vamos ter sindicatos, grupos anarquistas.

 
Será uma amalgama de gente, idêntica à manifestação de Março de 2011, com a única diferença que sai a JSD e entra a JS.
Vai ser uma manifestação apartidária mas onde, certamente, vão estar presentes Francisco Louçã para a sua última grande aparição pública, João Semedo, Catarina Martins, Arménio Carlos.
Também vão estar presentes gentes da "cultura subsidiada", chic a valer - jornalistas, actores, músicos, artistas plásticos, etc. - que, em claro sinal de corporativismo ( esse que foi abolido com o 25 de Abril de 1974 e não consagrado na Constituição de 1975) com os seus colegas "artistas" da RTP, vão querer reinvidicar subsídios para a "cultura" e a manutenção da televisão do estado.
Segundo os organizadores vão ser manifestações apartidárias mas a comunicação social, muitas vezes em conluíu com os amigos, vai tratar de dar voz a  Francisco Louçã, João Semedo, Catarina Martins e Arménio Carlos.
 
Aí, em vez da ferocidade demonstrada para com alguns ministros, em vez de fazerem perguntas inteligentes e de acordo com o seus pensamentos, serão só "paninhos quentes" e "palmadinhas nas costas".
Podiam aproveitar estes momentos de grande manifestação popular e perguntar se nacionalizavam a banca, os seguros, a Galp, Portugal Telecom, Sonae, Jerónimo Martins e demais grandes empresas. Podiam perguntar se aplicavam uma taxa de 75%, ou mais, aos ordenados mais elevados. Podiam perguntar se nacionalizavam a comunicação social ou se simplesmente a censuravam. Podiam perguntar se taxavam os bens de luxo com 100%. Podiam perguntar se fechavam os estabelecimentos de ensino privado - desde o primeiro ciclo ao ensino superior. Podiam perguntar se abandonávamos o Euro. Podiam perguntar se se fechariam as fronteiras. Podiam perguntar se fechariam a Assembleia da República e mandariam para o exílio os ex deputados, ministros, secretários de estado do CDS, PSD e alguns do PS.
Nestas alturas, os jornalistas deviam perguntar tudo isto. Mas não. Limitam-se a colocar um microfone à frente e a transcrever tudo, sem escrutínio.


 
Por tudo isto, por muita vontade que teria em dizer "basta", não vou estar presente em nenhuma manifestação porque não quero fazer parte da "massa humana" que aparecerá nas televisões e nos jornais e que legitimarão as palavras dos líderes políticos radicais que vão estar presentes.

terça-feira, 31 de julho de 2012

"... A troika fecha os olhos, ou porque precisa de um exemplo positivo para mostrar aos malditos gregos, ou porque uma parte da troika começa a perceber que o programa de laboratório não resulta nos testes com os ratinhos, ou porque, avaliando Portugal, se avalia a si própria e não quer dar má nota a si mesma.

Mas o problema destas frases de spin é que escondem o facto tenebroso: o problema que existia, continua lá; ou não é o problema que foi apontado e é outro; ou os remédios não servem, ou os médicos..."

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Seis meses e um novo rumo


Fez ontem seis meses que o actual Governo tomou conta dos destinos da nação. Um dia sem a pompa e circunstância de outros tempos, em que a palavra crise foi a palavra mais usada.
Há pessoas que falam do actual governo como se ele governasse há dez anos e há outras que pensam que como é o PSD a governar, está tudo bem.
Nem tanto ao mar nem tanto à terra mas de uma coisa tenho a certeza: estamos bem melhor agora do que estaríamos se o PS de Sócrates continuasse a governar.
O actual Governo comete erros, toma opções erradas, tem acções que não são bem explicadas. Era bom que assim não fosse.
Mas, no entanto, só o fazem há seis meses, não o fizeram nos últimos seis anos. Esta é a grande diferença e que todos devem respeitar, especialmente o PS.
Fazendo uma avaliação ao Governo de Portugal, está a fazer o possível numa altura de crise financeira, económica e social.
Vítor Gaspar apresenta-se como o homem certo no devido lugar à hora exacta. Por muito que isso nos custe a todos, pelo empobrecimento à força a que estamos a ser sujeitos, o Ministro das Finanças está a redireccionar as finanças de Portugal para que dentro de algum tempo(?) possa voltar a haver investimento no país para que não se caia num marasmo.
Paulo Portas anda pelo mundo " assumindo as dores" do AICEP decapitado, fazendo os possíveis e impossíveis para colocar as empresas portuguesas a vender mais, estabelecendo acordos bilaterais e projectando a imagem de Portugal. Portas faz aquilo que Luís Amado tentou fazer e não conseguiu.
Para a economia falou-se de dois homens ligados ao CDS: Pires de Lima e Lobo Xavier.
Veio outra pessoa capaz de gerar consensos entre todos. Álvaro Santos Pereira aterrou em Portugal com excelentes ideias expressas em livro mas que não funcionam.
Não se pode pedir que os trabalhadores estejam mais trinta minutos no local de trabalho e, ao mesmo tempo, se reduza em algumas ligações de transportes públicos e se encerrem linhas. Como é que as pessoas se deslocam para casa ao fim do dia?
No Ministro que veio do frio do Canadá para um país à beira mar plantado faltam estratégias, faltam ideias, falta dialogar com patrões e sindicatos.
Por exemplo, quando se decide que os trabalhadores devem estar a trabalhar mais meia hora por dia, seria bom ouvir primeiro a CIP, AEP e CGTP, as pessoas que andam no terreno e conhecem a fundo a realidade das empresas e indústrias portuguesas para se saber se realmente faz sentido tal medida e a que preço. Se uma empresa não tiver encomendas, o que ficam as pessoas a fazer mais meia hora?!
Ou quando se faz manchete que Portugal pode lucrar com o turismo, não deverá uma barragem e meia dúzia de ventoinhas poderem acabar com uma paisagem única no mundo e uma linha férrea tirada das páginas de um livro, que deram a classificação de património mundial da humanidade ao Alto Douro. O que irão ver os turistas? Logótipos da China Three Gorges ?
No mesmo caminho de Santos Pereira está Assunção Cristas. Da super-ministra esperava-se muito mas pergunto, só a título de exemplo, e único, onde está a nova lei do arrendamento urbano?!
Os outros ministros vão governando ao sabor do vento: não há dinheiro para a Defesa e para a Educação, é necessário cortar na Saúde.
Os primeiros seis meses de Governo são feitos de altos e baixos, na tentativa de se recolocar Portugal no caminho do desenvolvimento.
Mas se o Governo governa aos altos e baixos, a oposição custa a sair do chão onde aterrou.
Como exercício de análise, experimentem retirar as palavras " Sócrates" e " Troika" ao discurso político. O que encontram?!
Se o Governo faz recurso a elas para justificar parte do que tem que fazer, poderá ser considerado normal, dadas as circuntâncias.
E a oposição?!
Retirem essas mesmas palavras dos discursos da oposição e ficam sem nada.
Neste momento em Portugal não há política, não há confronto de ideias e a história diz-nos que só há crescimento quando da faísca de ideias opostas nasce matéria.
Este texto é um desabafo, uma forma de assinalar ( para mim) a passagem dos seis meses de governação.
Ainda faltam 42 meses até ao final desta legislatura e tenho esperança que Santos Pereira encontre o seu rumo, que Cristas consiga responder a todas as solicitações, que Vitor Gaspar cumpra com o prometido e que a partir de 2013 se consiga respirar mais um pouco, que Portas dê ao povo português a ambição que o levou a navegar pelo mundo em busca de melhores condições de vida e que Passos Coelho consiga centrar em si o melhor da política, respondendo às necessidades de todo um povo.