" O contrato com Sócrates para ser comentador semanal no canal público de televisão teve de partir, ou de passar, por Relvas. Isso é óbvio. E só a imagem do que terá sido essa negociação a dois dá uma ideia arrepiante, mas bem clara, do estado de degradação extrema a que chegou o regime.
É uma contratação que infelizmente não surpreende porque, na verdade, José Sócrates e Miguel Relvas são políticos siameses. Se olharmos bem para o perfil e para o percurso de um e de outro, a conclusão impõe-se como evidente. E muitas coisas estranhas se tornam, de repente, claras e compreensíveis.
A história da licenciatura de Relvas foi o primeiro sinal de uma semelhança que se revela bem mais funda: o mesmo fascínio pelo mundo dos negócios, o mesmo desprezo pela cultura e pelo mérito, o mesmo tipo de relação com a comunicação social, o mesmo apego sem princípios ao poder e, acima de tudo, a mesma lata, uma gigantesca lata! Só falta mesmo ver também Sócrates a trautear a "Grândola, Vila Morena", mas por este andar lá chegaremos...
O contrato com a RTP vem, de resto, acentuar mais uma convergência entre Sócrates e Relvas, e num ponto político extremamente sensível, que é o da conceção de serviço público de televisão. Porque, com este contrato, Sócrates aparece a cobrir inteiramente a devastação feita por Relvas no sector, e a bloquear tudo o que o PS pretenda dizer ou propor sobre o assunto. E quem cauciona o que Relvas fez aqui, cauciona tudo.
O que Sócrates deve fazer é assumir as suas responsabilidades na crise, e pedir desculpa aos portugueses - e para isso basta uma entrevista pontual, sóbria, esclarecedora e responsável. É isso que os Portugueses merecem, é disso que a nossa democracia precisa, e é a isso que o Partido Socialista tem direito. Ficar a pastar nos comentários, pelo contrário, é puro circo político, e do pior: é usar o horário nobre do serviço público de televisão para jogadas de baixa política e de pura revanche política pessoal.
Como já há tempos afirmei, Sócrates e Relvas são sem dúvida os dois políticos que mais contribuíram para a crise moral, e de confiança, que o País atravessa. Uma crise que veio agudizar todas as suspeitas com que os cidadãos olham para as suas elites dirigentes e para o continuado fracasso da sua ação.
São casos que a radical mediatização dos nossos dias facilita. Nomeadamente, porque ela abriu as portas à irrupção de um novo tipo de político, que trocou o retrato de cidadão esforçado, reservado e responsável de outros tempos, por um perfil em que o traço dominante é, simplesmente, o da lata.
E essa lata, é o quê? É sobretudo a expressão de uma afirmação pessoal sem limites de qualquer ordem, que tudo arrasa no seu caminho, num júbilo mais ou menos histérico que dispensa qualificações ou convicções que não sejam de ordem psicológica ou comunicacional. Daí, naturalmente, a excitação voluntarista e a encenação estridente que sempre a acompanham.
A lata não é certamente um exclusivo dos políticos, mas tem neles um terreno de exceção. Ela aparece hoje como um traço específico do que alguns autores têm diagnosticado como a "nova economia psíquica" do nosso tempo. É isso que leva muita gente a ver neles verdadeiros mutantes, e a lamentar nostalgicamente que, na política, tenham desaparecido os verdadeiros líderes...
Mas seja ou não de mutantes que se trata, é preciso reconhecer que os "políticos de lata" estão em sintonia com muitas transformações do mundo contemporâneo, e que é por isso que eles suscitam inegáveis apoios e vivas controvérsias. Figuras maiores, bem ilustrativas deste fenómeno, são Sílvio Berlusconi ou Nicolas Sarkozy.
São sempre criaturas mitómanas, destituídas de superego e, portanto, de sentido de culpa ou de responsabilidade. Revelam uma contumaz incapacidade de lidar com a frustração, que é, como Freud bem ensinou, onde começam todas as patologias verdadeiramente graves.
Com eles, tudo se dissolve num narcisismo amoral, quase delinquente, que vive entre a alucinação de todos os possíveis e a rejeição de quaisquer limites. Eles estão pois muito em linha com o paradigma do ilimitado que tem anestesiado e minado o mundo nas últimas décadas.
A lata tornou-se, deste modo, num traço político muito frequente, que anima os mais variados, e lamentáveis, tipos de voluntarismo. Não admira pois que os políticos de lata se singularizem, não pela sua dedicação a causas ou a convicções, mas pelos intermináveis casos em que se envolvem e são envolvidos.
É também por isso que eles têm sempre que tentar voltar - foi assim com Berlusconi, é o que se tem visto com Sarkozy, chegou a vez de José Sócrates. Não resistem... e todos encenam, para disfarçar a sua doentia obsessão com o poder, umas travessias do deserto mais ou menos culturais... Berlusconi com a música, Sarkozy com a literatura e o teatro, Sócrates com a filosofia.
Mas o seu compulsivo "comeback" acaba sempre por se impor, porque ele é o tributo que eles têm que pagar à sua tão vazia como ilimitada mitomania. Com consequências, atenção, que já conduziram várias sociedades e diversos países às piores tragédias. Esperemos que não seja esse, desta vez, o caso - mas o aviso aqui fica!..."
Manuel Maria Carrilho in Diário de Notícias
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sexta-feira, 29 de março de 2013
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
Infelizmente, para rir. Só pode!
Bem sei que vivemos tempos conturbados, com crise social, económica, política, de valores; bem sei disso tudo.
Mas, apesar disso, penso que é necessário ter tino, especialmente a comunicação dita social: das quatro notícias assinaladas em baixo, não são verdade, pois não?! Aquilo não são noticias ou o mundo anda virado do avesso...
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sábado, 5 de novembro de 2011
A salvação italiana
Berlusconi é, há muito, um líder a prazo.
Escândalos atrás de escândalos não o conseguiram demover do poder, sobretudo, porque não existia ninguém - Romano Prodi provou-o várias vezes - capaz de obter os apoios políticos e populares italianos suficientes para lhe dar um governo.
Hoje é diferente: Berlusconi admitiu que falhou, ao chamar "um polícia" para lhe verificar as contas.
Hoje é diferente: Luca Cordero di Montezemolo aparece como um putativo candidato a Primeiro Ministro.
Luca Cordero di Montezemolo é um príncipe amado pelos italianos por todo o seu trabalho em prol de Itália e do orgulho italiano.
Foi "ajudante de campo" de Enzo Ferrari e, mais tarde Presidente da mais significativa marca italiana. Foi o responsável pela contratação de Jean Todt, Michael Schumacher e Ross Brawn para a equipa de F1, dando à marca italiana cinco títulos de piloto consecutivos, depois de vinte anos em jejum, e oito títulos de marcas, depois de quinze anos em jejum.
O seu sucesso na Ferrari levou-o ao topo do Grupo Fiat, encetando uma recuperação financeira há muito desejada, recuperando a Maserati e a Lancia, colocando todo o grupo a vender mais e melhor, desde a gama baixa até aos superdesportivos. Teve que despedir funcionários para recuperar as empresas, contratando-os novamente quando as vendas aumentaram.
Montezemolo é um príncipe amado pelos italianos, com muita obra feita, capaz de colocar Itália no rumo que sempre lhe conhecemos.
Escândalos atrás de escândalos não o conseguiram demover do poder, sobretudo, porque não existia ninguém - Romano Prodi provou-o várias vezes - capaz de obter os apoios políticos e populares italianos suficientes para lhe dar um governo.
Hoje é diferente: Berlusconi admitiu que falhou, ao chamar "um polícia" para lhe verificar as contas.
Hoje é diferente: Luca Cordero di Montezemolo aparece como um putativo candidato a Primeiro Ministro.
Luca Cordero di Montezemolo é um príncipe amado pelos italianos por todo o seu trabalho em prol de Itália e do orgulho italiano.
Foi "ajudante de campo" de Enzo Ferrari e, mais tarde Presidente da mais significativa marca italiana. Foi o responsável pela contratação de Jean Todt, Michael Schumacher e Ross Brawn para a equipa de F1, dando à marca italiana cinco títulos de piloto consecutivos, depois de vinte anos em jejum, e oito títulos de marcas, depois de quinze anos em jejum.
O seu sucesso na Ferrari levou-o ao topo do Grupo Fiat, encetando uma recuperação financeira há muito desejada, recuperando a Maserati e a Lancia, colocando todo o grupo a vender mais e melhor, desde a gama baixa até aos superdesportivos. Teve que despedir funcionários para recuperar as empresas, contratando-os novamente quando as vendas aumentaram.
Montezemolo é um príncipe amado pelos italianos, com muita obra feita, capaz de colocar Itália no rumo que sempre lhe conhecemos.
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