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sábado, 14 de setembro de 2013

Discurso proferido na entrega dos Prémios de Mérito Escolar 2012/13, do Rotary Club de Oliveira de Azeméis

Ao pedirem-me para, em nome do Rotary Club de Oliveira de Azeméis, fazer um elogio público aos jovens que mais se distinguiram nos vários degraus da “academia oliveirense” dei por mim a pensar em como era a vida escolar na minha época.

Recuei uma década e meia, até ao ano em que frequentei o décimo segundo ano e ingressei no ensino superior. Contudo, apesar de só se terem passado 14 ou 15 anos, encontrei diferenças enormes.
A convivência com os colegas era de conversa diária, nas aulas, no recreio, na partilha de CD´s e livros, de idas à Portagem e ao 4º Bairro. Ainda não existiam SMS e namorar tinha que ser com o telefone fixo, de casa, onde normalmente atendia sempre alguém que não era quem se desejava e era necessário fazer uma apresentação e conversa digna desse nome.

Internet era um mundo à parte, de que se falava mas que ainda era pouco explorado: o Google tinha acabado de ser fundado – o Sapo fez 18 anos há dias –, falava-se que ia ser um canal de informação mas, na época, era apenas uma utopia.

As TIC existiam… Não existiam computadores – nas escolas e na maioria das casas – que suportassem os processadores de texto. Apresentações em Powerpoint eram uma miragem, sendo que o Word e Paint faziam as delícias dos mais habilidosos. Tudo o resto era feito à mão, com recortes e fotocopias. 
Em apenas 15 anos vivíamos uma realidade diferente. Não estou a dizer que fosse melhor ou pior, apenas diferente; prova que o mundo está em constante evolução e que a cristalização de momentos, para além da “saudade”, impede o crescimento enquanto cidadãos.

Essa evolução é fundamental para os jovens que temos aqui hoje: os mais bem preparados e eficazes para enfrentar a sociedade e o mercado de trabalho.

Uma das grandes diferenças entre a sociedade que descrevi e a de hoje é a informação. A minha pré-adolescência e a de todos quanto me antecederam não foi preenchida de SMS, blogues, Youtube, Google, Hi 5, Facebook, Twitter, Instagraam, etc.. Ou seja, a grande diferença está na informação e nos conteúdos nela produzidos, na facilidade de acesso à cultura e ao conhecimento.
Se quiséssemos conhecer o mundo que nos rodeia, se quiséssemos fazer um simples trabalho de investigação para alguma disciplina, teríamos que ler imensos livros, jornais, estar atento à televisão e à hora em que passavam os programas. Os mais “preguiçosos” sempre poderiam recorrer à enciclopédia mas a informação nela contida é escassa, tratando os temas superficialmente, não permitindo um real aprofundamento dos casos.

O acesso a fotografias e imagens das maravilhas do mundo era algo complicado. Dou o exemplo de uma das mais belas aldeias de Portugal, o Piódão, escondido entre a Serra do Açor e a Serra da Estrela, só se tornou conhecido após o Rali de Portugal passar lá e saírem imagens lindíssimas para todo o mundo, através da RTP e dos média internacionais; foi aí que os portugueses conheceram a sua terra. Conhecer as maravilhas escondidas no estrangeiro era tarefa quase impossível, a menos que se tivesse muito dinheiro para investir em viagens.

Hoje em dia, graças à internet, todos esses problemas estão dissipados: a partir de casa, de um quiosque, de um tablet ou um smartphone, podemos aceder a todas as novidades, in loco, à escala global.

Hoje, todos, desde os mais jovens aos mais adultos, todas as pessoas têm a possibilidade – e obrigação? – de se manterem informados e, com isso, melhorar o seu nível cultural. No fundo, a grande meta para se atingir uma sociedade mais justa, coesa e solidária: se todas as pessoas comunicarem, falarem entre si e se todos se entenderem, se se atingirem consensos, conseguimos encontrar um caminho para a compreensão e paz mundial, um dos desígnios de Rotary.

Há dias, na Universidade de Verão do PSD, António Barreto referia que um dos problemas de Portugal, do ensino e da sua afirmação era o excesso de formação versus o conhecimento geral, a cultura, a aprendizagem pelo conhecimento. Segundo o Professor, em Portugal estuda-se para se obter uma profissão e não para se ser mais culto e, a partir daí, conseguir trabalhar naquilo que realmente se gosta.
Fará sentido um aluno chegar ao 12 ano e perspectivar estudar para uma licenciatura em Relações Internacionais, tendo perspectiva em ir trabalhar para a Comissão Europeia ou Terapia Ocupacional para ir trabalhar para o Centro de Dia da sua terra, por exemplo?! E se não gostar do curso ou não houver saídas profissionais, o que faz? Não seria melhor tirar um curso geral, técnico ou não, de Direito, Humanidades, Filosofia, Ciências, Economia, Belas Artes, Engenharia ou Medicina e, após isso, escolher em que área pretende trabalhar? Não ficaria com horizontes mais amplos e, consequentemente, com mais saídas profissionais?

A cultura assume, assim, um papel fundamental e praticamente único entre a diferenciação entre os bons e os maus profissionais já que, nos dias que correm, quase todos têm acesso a formação superior.

Vocês, os melhores alunos das escolas de Oliveira de Azeméis, provaram ao longo destes anos que estão prontos, que têm mérito, que podem enfrentar todos os desafios e terão, com toda a certeza, oportunidades únicas pela vossa vida fora – parabéns a vocês, aos vossos pais e tutores e aos professores. Agora é altura de aproveitarem tais oportunidades.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O orgulho de ser europeu

Hoje senti um orgulho imenso em ser europeu: após séculos de lutas internas entre estados europeus, após lutas fratricidas, a Europa, assente num império cultural, diplomata, pluri-racial, de matriz judaico-cristã de compreensão e respeito pelo próximo, foi agraciada com o Prémio Nobel da Paz.
Neste momento olho para a Europa como olho, por exemplo, para Rotary ou para os ensinamentos livres, pensando que quem usa a sua sabedoria, o seu conhecimento e o seu poder na utopia da compreensão mundial no caminho para a paz merece todos os prémios e, ao mesmo tempo, não merece nenhum: a procura pelo conhecimento infinito e a subsequente melhoria da condição humana, para quem os pratica, já é um prémio merecido e de valor incalculável.
No entanto somos todos humanos e há coisas que fazem bem ao ego. Estamos todos de parabéns!

sábado, 17 de novembro de 2012

Onde, quando e como

Em Março, no Entre Aspas, escrevi o texto que abaixo se segue.
Cada vez mais é necessário o Rotary, a Cáritas, o Banco Alimentar. Cada vez mais são necessárias pessoas como Isabel Jonet.

Há dias estive em Moçambique, mais precisamente em Maputo.
4.000.000 de pessoas na capital de um país que se quer renovar e modernizar depois de anos e anos de guerra e de miséria e de todos os problemas sociais que isso acarreta. Os negócios brotam e são muitas as empresas estrangeiras que chegam todos os dias ao território, quer a sul mas, sobretudo, a centro e norte onde se centram os jazigos de carvão e gás natural.
O país cresce mas, para já, o crescimento ainda não chega a todo o lado e ainda há imensa gente a viver abaixo do limiar de pobreza.
Na bagagem, levava uma flamula do Rotary Club de Oliveira de Azeméis para entregar no Rotary Club de Maputo e estabelecer uma aproximação
entre os dois clubes. Infelizmente não encontrei o clube, não reúnem, no hotel onde o faziam não me souberam dar nenhuma explicação.
Numa cidade com quatro milhões de habitantes, com tantas carências, o clube estar desactivo pareceu-me um contra-censo…
Poucos dias antes da minha partida para África, estive reunido num clube – que não o meu – e discutia-se o porquê de Rotary parecer “adormecido”. Um dos intervenientes referiu que o problema estava na Segurança Social, nas Câmaras e nas IPSS porque estes vieram ocupar o espaço que pertencia ao Rotary. Ou seja, parecia que dizia que não havia pobrezinhos para todos poderem fazer os seus projectos.
Será que Rotary é isso? Será que Rotary é cuidar dos pobrezinhos?
Se assim é, por que razão não há Rotary em Maputo, capital de um país que até há poucos anos atrás estava nos mais pobres de todo o mundo?!
Será que Rotary tem a função da Cáritas e de outras missões religiosas?!
Em Maputo não faltam pobrezinhos, como em Portugal não faltam casos, muitas vezes, dramáticos.
O que faltam são homens e mulheres justos, honestos, que querem uma sociedade melhor e que arregacem as mangas para a construírem, para mudar o que está mal, envolvendo-se e envolvendo cada vez mais pessoas.
Rotary é mais do que dar a quem mais necessita. Rotary é um movimento de profissionais de todo o mundo que se distinguiram na sua comunidade pelo seu espírito empreendedor, pelo seu sucesso e sendo capazes de dar o melhor de si aos outros: dar pão mas também dar a solução, apontar o caminho, escolher uma estratégia e renovar e reformular de forma desprendida e em espírito de comunhão.
Rotary é uma utopia no caminho para a compreensão mundial e aí somos bastante mais abrangentes que as missões religiosas e muitas ONG porque somos livres de pensar e de actuar, podendo estender a mão a qualquer pessoa independentemente da sua cor, raça ou credo, dando-lhes comida, educação, cultura, vivências e, sobretudo, esperança.
A grande implementação de Rotary foi nos Estados Unidos da América, Canadá, Reino Unido, Japão, Brasil…
Será que nestes países – excepção feita ao Brasil – existem muitos pobrezinhos?
Porque será que as sociedades mais desenvolvidas são aquelas que têm mais organizações, associações, sindicatos que se preocupam com a vida das pessoas, mesmo das que vivem bem?
Porque é da vivência, da troca de ideias, cultura e conhecimento que se cria e o que é necessário é criar algo de novo como motor da nossa sociedade, a nível pessoal, comunitário, económico e financeiro.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Discurso proferido na entrega de prémios de mérito escolar do Rotary Club de Oliveira de Azeméis


Imaginem um caminhante, de botas impermeáveis nos pés, com roupa confortável, chapéu, uma mochila que contém comida e agasalhos. Imaginem esse caminhante a percorrer um caminho, ao longo de um rio, perto do sopé de uma montanha. Outros caminhantes acompanham o nosso homem…

Entretanto o caminho vai estreitando e a caminhada em grupo começa a ser de difícil progressão… Passados uns tempos, começar a subir.

Com a subida vem o calor inicial, fazendo-o ir buscar água à mochila. Depois cai a chuva, tornando o percurso melancólico. As roupas colam ao corpo devido à água e só um agasalho mais forte o consegue deixar de pensar nas adversidades. Mais uns passos e tem fome. Socorre-se novamente da mochila.

Aparecem animais rasteiros, coelhos mas também lagartos e pequenas cobras que causam alguma estranheza para, de seguida, virem animais de grande porte e as aves de rapina que obrigam a uma atenção redobrada e a uma corrida cheia de adrenalina!

A subida continua e agora é o frio que incomoda o caminhante. Saem umas luvas e um cachecol da “casa ambulante” que leva às costas. Quando se habitua ao frio, quando a neve já não incomoda, vem a solidão.

Quase a chegar ao topo, já a grande altitude, falta o oxigénio, aquele bem tão essencial que nem damos conta… mas o homem, a respirar mal, cansado, com a roupa num estado bem diferente daquele que estava no inicio da subida, continua, gasta as ultimas forças e continua.

Chegou ao topo!

No planalto olhou e viu apenas o céu azul: nem uma nuvenzinha a separar o homem do universo infinito que se lhe depara.

Aquele homem, aquele caminhante, são vocês: catorze alunos brilhantes, apoiados numa mochila, no calçado confortável e na força de vontade, capazes de atravessarem todas as dificuldades em prol de um objectivo.

Parabéns!

Estando na presença de pessoas de jovens brilhantes, cometo a ousadia de citar Oscar Wilde:

'É absurdo falar da ignorância da juventude. Hoje em dia só tenho algum respeito pelas opiniões das pessoas muito mais novas do que eu. Parecem-me estar à minha frente. A vida revelou-lhes a sua última maravilha. Quanto aos velhos, contradigo-os sempre. É uma questão de princípio. Se lhe pedirmos opinião sobre uma coisa que aconteceu ontem, eles dão-nos solenemente as opiniões correntes em 1820, quando as pessoas usavam golas altas, acreditavam em tudo e não sabiam absolutamente nada...'

Parabéns, vocês são os líderes do amanhã.

E agora?!

Cada um de vós é o melhor aluno da vossa escola. Não chega?! Não, porventura não.

O mercado de trabalho, pela crise que vivemos, pelo número cada vez maior de quadros médios e superiores, é uma malha cada vez mais estreita e, infelizmente, o desemprego nos jovens licenciados é cada vez mais elevado.

Talvez por isso, quando íamos às vossas casas anunciar que iriam receber o Prémio de Mérito Escolar, ouvimos os vossos pais, muitas vezes, a lamentarem-se do grande esforço que fizeram, e de toda a vossa dedicação para, provavelmente, terem que ir prosseguir a vida profissional no estrangeiro.

Vão.

Somos portugueses e historicamente tivemos sempre uma ambição muito maior que aquilo que este pequeno território nos pode oferecer. Por isso fizemos coisas grandiosas e demos “novos mundos ao mundo”.

Se não fosse esta ambição das “cabeças pensantes”, de gente tão extraordinária como vocês, nunca tínhamos vencido em Aljubarrota, nunca teríamos chegado a Ceuta, nem à Índia, ao Brasil ou a Macau. Nunca teríamos construído este verdadeiro império de cultura, de Camões a Mia Couto, do Padre António Vieira a Vinícius de Morais, de Pessoa a Pepetela, baseado na língua portuguesa e que abrange 250 milhões de pessoas em todo o mundo.

Este mundo da lusofonia é o vosso primeiro mercado de trabalho.

Por isto que referi, pela nossa história, por algo superior a nós - porque já está no nosso sangue - digo: “vão”.

E também digo “ mas voltem”. Saiam bons de Portugal e regressem como os melhores.

Antes dos descobridores irem para África, Ásia e América, Portugal era um país remediado, confinado a um espaço entre a Serra da Estrela e o Atlântico, do Rio Minho até aos Algarves. Depois das descobertas e por um período de 75 anos, antes do catolicismo atroz implementado por D. Manuel I, Portugal foi a nação mais poderosa do mundo.  

Tenham sempre isto em mente: vão viver o mundo, vão beber a cultura dos outros povos e enriqueçam como pessoas, como profissionais e, claro está monetariamente. Façam isso e depois voltem.

Voltem porque as vossas famílias, os vossos pais, irmãos, tios, avós, necessitam de vocês.

Voltem porque as empresas portuguesas necessitam de mais e melhores quadros e vocês, pelo vosso percurso, devem ajudá-las.

Voltem porque o país necessita de mais e melhores pessoas.

O lema de Rotary é “ dar de si antes de pensar em si”. Penso que é um lema que não se deve aplicar apenas a Rotary mas a toda a vida comunitária sã. Por isso voltem porque a vossa terra necessita de vocês, as associações necessitam de gente que dê o exemplo de trabalho e de conquista e que esteja disposta a ajudar os outros.

Voltem para a associação cultural, para o clube desportivo, para os partidos políticos.

Como iniciei com Oscar Wilde “Hoje em dia só tenho algum respeito pelas opiniões das pessoas muito mais novas do que eu. Parecem-me estar à minha frente.”.

Parecem-me estar à minha frente um grupo de académicos brilhantes que têm tudo para serem profissionais empenhados e pessoas dignas.

O futuro pertence-vos e são vocês os donos dele.