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quarta-feira, 1 de maio de 2013

A mercearia - 14


Como todos sabem sou um desportista assíduo, federado, que, além das provas de automobilismo e por forma a obter a condição física necessária para ter níveis de desgaste físico e concentração dentro dos parâmetros ditos aceitáveis, pratico outros desportos.
Este gosto pelo desporto vem desde muito novo – fui para a natação ainda antes dos dois anos, na Escola Livre de Azeméis, pratiquei ténis durante nove anos, no CTA, joguei basquete, na Oliveirense, andei na equitação e ingressei no automobilismo- e foi encarado como tradição familiar: o Avô Heitor foi dirigente da Oliveirense; o Tio Aníbal foi campeão no ténis, pela Oliveirense, campeão no basquete, pela Académica de Coimbra, médico do Sporting e do Comité Olímpico Português; o Tio Simplício foi campeão de ténis, pela Oliveirense; o Pai foi atleta da Mocidade Portuguesa (numa altura em que quase todos os jovens teriam que pertencer à propaganda do Estado, quer quisessem ou não), da Oliveirense, da Escola Livre, do CTA, dirigente, também, do CTA; o Tio Zé Manel foi, até há bem pouco tempo, dirigente do Sporting. Ou seja, eu cresci a ouvir falar de desporto e prática desportiva, entre jogos ao ar-livre, balneários, tardes de domingo a ver a RTP 2, etc..
Por tudo isto, sempre considerei o desporto como um factor agregador da sociedade, de inclusão, onde, após o árbitro soar o apito, o semáforo passar a verde ou após a “moeda ao ar”, não há ricos nem pobres, não há brancos pretos ou amarelos, não há quezílias, não há diferenças. O que existe, a partir desse momento, é tão e só a vontade de ganhar, de ser o primeiro, de levar para casa os louros; tudo dentro das regras, do desportivismo e da camaradagem.
Assim, o desporto incute nas pessoas o espírito guerreiro e de conquista mas, também, a compreensão, a amizade, o respeito, a hierarquia, a lei. Ajuda-nos a sermos educados, a tratar todos de igual para igual, a compreender a função de cada um dentro de uma equipa e a reconhecer o valor do mecânico e do ponta-de-lança, ambos importantes, ambos vencedores e ambos derrotados.
O desporto, pelo que descrevi anteriormente, assume uma função vital na educação dos jovens e adultos porque é um caminho de compreensão e reconhecimento, que leva os povos à paz. Os Jogos Olímpicos foram, são, e espero que continuem a ser, durante muitos séculos, os jogos da paz e do intercâmbio mundial de culturas, raças e religiões.
É fundamental educar os nossos jovens – especialmente em alturas de grave crise financeira, económica, social e cultural – no respeito e compreensão pelo próximo, com base no desporto, de forma que todos possam conviver pacificamente. Por isso, é fundamental a criação de um plano de Desporto Escolar, é fundamental os clubes e as associações terem um papel educador/ integrador dos jovens, assumindo um papel social da comunidade.
Neste aspecto, a GEDAZ integrou um projecto europeu – Elys – que visou trazer para as escolas de Oliveira de Azeméis boas práticas desportivas, promovendo uma cultura desportiva com o apoio das famílias, fazer prevalecer o fairplay.
A GEDAZ, apesar dos momentos difíceis por que passam as empresas municipais por todo o país, não deixa de exercer o seu papel no desporto oliveirense, fulcral para a toda a sociedade.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Discurso proferido na entrega de prémios de mérito escolar do Rotary Club de Oliveira de Azeméis


Imaginem um caminhante, de botas impermeáveis nos pés, com roupa confortável, chapéu, uma mochila que contém comida e agasalhos. Imaginem esse caminhante a percorrer um caminho, ao longo de um rio, perto do sopé de uma montanha. Outros caminhantes acompanham o nosso homem…

Entretanto o caminho vai estreitando e a caminhada em grupo começa a ser de difícil progressão… Passados uns tempos, começar a subir.

Com a subida vem o calor inicial, fazendo-o ir buscar água à mochila. Depois cai a chuva, tornando o percurso melancólico. As roupas colam ao corpo devido à água e só um agasalho mais forte o consegue deixar de pensar nas adversidades. Mais uns passos e tem fome. Socorre-se novamente da mochila.

Aparecem animais rasteiros, coelhos mas também lagartos e pequenas cobras que causam alguma estranheza para, de seguida, virem animais de grande porte e as aves de rapina que obrigam a uma atenção redobrada e a uma corrida cheia de adrenalina!

A subida continua e agora é o frio que incomoda o caminhante. Saem umas luvas e um cachecol da “casa ambulante” que leva às costas. Quando se habitua ao frio, quando a neve já não incomoda, vem a solidão.

Quase a chegar ao topo, já a grande altitude, falta o oxigénio, aquele bem tão essencial que nem damos conta… mas o homem, a respirar mal, cansado, com a roupa num estado bem diferente daquele que estava no inicio da subida, continua, gasta as ultimas forças e continua.

Chegou ao topo!

No planalto olhou e viu apenas o céu azul: nem uma nuvenzinha a separar o homem do universo infinito que se lhe depara.

Aquele homem, aquele caminhante, são vocês: catorze alunos brilhantes, apoiados numa mochila, no calçado confortável e na força de vontade, capazes de atravessarem todas as dificuldades em prol de um objectivo.

Parabéns!

Estando na presença de pessoas de jovens brilhantes, cometo a ousadia de citar Oscar Wilde:

'É absurdo falar da ignorância da juventude. Hoje em dia só tenho algum respeito pelas opiniões das pessoas muito mais novas do que eu. Parecem-me estar à minha frente. A vida revelou-lhes a sua última maravilha. Quanto aos velhos, contradigo-os sempre. É uma questão de princípio. Se lhe pedirmos opinião sobre uma coisa que aconteceu ontem, eles dão-nos solenemente as opiniões correntes em 1820, quando as pessoas usavam golas altas, acreditavam em tudo e não sabiam absolutamente nada...'

Parabéns, vocês são os líderes do amanhã.

E agora?!

Cada um de vós é o melhor aluno da vossa escola. Não chega?! Não, porventura não.

O mercado de trabalho, pela crise que vivemos, pelo número cada vez maior de quadros médios e superiores, é uma malha cada vez mais estreita e, infelizmente, o desemprego nos jovens licenciados é cada vez mais elevado.

Talvez por isso, quando íamos às vossas casas anunciar que iriam receber o Prémio de Mérito Escolar, ouvimos os vossos pais, muitas vezes, a lamentarem-se do grande esforço que fizeram, e de toda a vossa dedicação para, provavelmente, terem que ir prosseguir a vida profissional no estrangeiro.

Vão.

Somos portugueses e historicamente tivemos sempre uma ambição muito maior que aquilo que este pequeno território nos pode oferecer. Por isso fizemos coisas grandiosas e demos “novos mundos ao mundo”.

Se não fosse esta ambição das “cabeças pensantes”, de gente tão extraordinária como vocês, nunca tínhamos vencido em Aljubarrota, nunca teríamos chegado a Ceuta, nem à Índia, ao Brasil ou a Macau. Nunca teríamos construído este verdadeiro império de cultura, de Camões a Mia Couto, do Padre António Vieira a Vinícius de Morais, de Pessoa a Pepetela, baseado na língua portuguesa e que abrange 250 milhões de pessoas em todo o mundo.

Este mundo da lusofonia é o vosso primeiro mercado de trabalho.

Por isto que referi, pela nossa história, por algo superior a nós - porque já está no nosso sangue - digo: “vão”.

E também digo “ mas voltem”. Saiam bons de Portugal e regressem como os melhores.

Antes dos descobridores irem para África, Ásia e América, Portugal era um país remediado, confinado a um espaço entre a Serra da Estrela e o Atlântico, do Rio Minho até aos Algarves. Depois das descobertas e por um período de 75 anos, antes do catolicismo atroz implementado por D. Manuel I, Portugal foi a nação mais poderosa do mundo.  

Tenham sempre isto em mente: vão viver o mundo, vão beber a cultura dos outros povos e enriqueçam como pessoas, como profissionais e, claro está monetariamente. Façam isso e depois voltem.

Voltem porque as vossas famílias, os vossos pais, irmãos, tios, avós, necessitam de vocês.

Voltem porque as empresas portuguesas necessitam de mais e melhores quadros e vocês, pelo vosso percurso, devem ajudá-las.

Voltem porque o país necessita de mais e melhores pessoas.

O lema de Rotary é “ dar de si antes de pensar em si”. Penso que é um lema que não se deve aplicar apenas a Rotary mas a toda a vida comunitária sã. Por isso voltem porque a vossa terra necessita de vocês, as associações necessitam de gente que dê o exemplo de trabalho e de conquista e que esteja disposta a ajudar os outros.

Voltem para a associação cultural, para o clube desportivo, para os partidos políticos.

Como iniciei com Oscar Wilde “Hoje em dia só tenho algum respeito pelas opiniões das pessoas muito mais novas do que eu. Parecem-me estar à minha frente.”.

Parecem-me estar à minha frente um grupo de académicos brilhantes que têm tudo para serem profissionais empenhados e pessoas dignas.

O futuro pertence-vos e são vocês os donos dele.